Capítulo 1 - Conto 1: A história de Ana

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- Ana! Acorda, chegamos! Acorda, vamos!

Alguém me chamou... abro os olhos, levanto e espio pela janela do carro: "Onde estou? Que lugar horrível! Quem viemos visitar? " – pensei espantada.

As ruas eram de terra, uma terra vermelha, as casas de madeira e tinha mato por todos os lados! Uma água suja passava por debaixo de pontes de madeira, que uniam a rua às casas. Ratos enormes corriam pela rua. O céu estava cinza, começava a anoitecer.

Saímos do carro, não conhecia aquelas pessoas. Ainda sonolenta e sem entender, atravessamos uma das pontes: ela era bamba... que medo! O cheiro fétido do córrego me dava náuseas. Minha mãe me segurava com força, parecia assustada. Com o outro braço, ela carregava Lívia, minha irmã, no colo.

Um homem bateu palmas e abriu o portãozinho de madeira. Entramos, o quintal era de terra, tinha uma roseira em frente da casinha; andamos por um corredor estreito, e, quem abriu a porta?

- Papai! – gritei feliz. – Papai!

Corri e o abracei bem forte. Chorava de felicidade. Fazia anos que não o via! Depois de muitos beijos, abraços e conversas, chamei minha mãe num canto:

- Nós vamos morar aqui? – perguntei alarmada.

- Sim, com seu pai! Agora ele ganha melhor e mandou nos buscar. – explicou.

- Não, não quero! Aqui é muito feio! – chorava, mostrando meus sapatinhos brancos sujos de terra, e continuei. - As paredes são úmidas e manchadas, o chão de cimento e o cheiro é ruim!

- Seu pai falou que é passageiro! Pelo menos estamos juntos!

Mesmo assim fiquei inconformada, queria voltar para a casa da vovó.

O tempo foi passando, e as dificuldades da vida, fizeram daquele pai bom, um outro homem:

- Mãe, vamos embora! Papai fica bravo por tudo e me bate muito! – queixei-me, mostrando os machucados.

- Vai passar! Vou conversar com ele! – tentava me acalmar.

Minhas perninhas estavam cheias de manchas roxas das chineladas. As apertava com o dedo e doíam. Comecei a sentir por ele uma mistura de mágoa e medo.

Uma vez chegou do trabalho, nitidamente cansado e irritado:

- Ana! Você acha que é o vento que está chegando? – continuou reclamando. – Ontem você já se esqueceu de me cumprimentar! Você vai ficar de castigo!

- Não, eu esqueci pai! Desculpa! – respondi, já chorando porque sabia que ele me bateria.

Em vez disso pegou-me pelo braço, com força, e jogou-me atrás da porta:

- Você vai ficar de castigo, aí no escuro! – esbravejava.

- Ana não fez por mal! Para com isso! – defendeu-me minha mãe, já nervosa.

- Cala a boca! Ela vai ficar por cinco horas em pé, atrás da porta! Não é pra dar água e nem comida!

- Pra que um castigo tão grande? Ela é pequena! – chorava.

- Falei pra calar a boca! – gritava, já descontrolado.

Passaram-se algumas horas, minhas pernas doíam muito, então agachei; ele viu e me fez levantar aos pontapés e me esbofeteou. Saiu sangue até da minha alma...

- Para com isso, basta! Tira ela do castigo!

- Eu disse cinco horas! Menina estúpida! Se não fosse ela nós já estaríamos longe!

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