Capítulo XII - Conto 42: O inferno de Ana

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Estava em casa, com minha irmã, Lívia, e, sua filha, Helena. Repentinamente surge o espectro... fica de pé, ao meu lado, observando-me...

 fica de pé, ao meu lado, observando-me

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Coloca a ponta do dedo no meu ombro... então nasce no meu peito uma vontade... a vontade de matar! É um sentimento incontrolável, como sede, como fome, só que muito maior, e vem com a sensação de que não existem consequências. A mente é completamente dominada...

Fui até a sala, sentei no sofá com Helena, que assistia TV. Conversando, desentendemo-nos, por um motivo tolo, e, então começamos a discutir. Com a emoção, a vontade de matar cresceu e se tornou uma ideia fixa, com a certeza do prazer...

Vou até o quarto, pego o revólver, que estava escondido no guarda-roupa. Volto correndo para a sala. Helena levanta-se, assustada com a visão da arma:

- Não, tia! – grita, com o braço estendido e os dedos entre abertos.

Aponto no seu peito e atiro. Ela cai e meu prazer aumenta, quero mais... Lívia corre em sua defesa, atiro nela também. As duas morrem. O sangue que escorre, espalha-se pelo chão e parece brilhar. Tinha consciência do que estava fazendo. Escondo os corpos com cuidado, e ligo para a família avisando que foram viajar.

Começa a anoitecer e vou andar na rua, sem rumo. Ainda tenho vontade de matar, mas, começo a pensar: "Se fugir, quando descobrirem os corpos, vão saber que fui eu. Não posso fugir. Mas, porque fiz isso? Eu as amava tanto... De onde veio essa vontade?". Começo a sentir arrependimento, mas ainda tenho vontade de matar...

Ando por ruas estranhas, cheias de casas antigas, com muito mato e árvores na frente. O mato caía por cima dos muros. As casas eram de madeira, com cor cinza desbotada, e os matos, verdes.

Pela rua, começa a descer um córrego, de urina e fezes, que cobre meus pés. Continuo andando, contra a correnteza, e pulando algumas fezes. Sinto minhas meias molhadas. O nível do córrego começa a subir e o cheiro fica forte.

Continuo a vagar, não sei onde estou. Avisto uma encruzilhada, lá no alto, e, um homem mascarado na frente de um longo muro. Parecia louco, andava de um lado para outro, balançando os braços, gritava e gesticulava. Não entendia o que falava, pareciam grunhos. Tinha algo nas mãos, como armas, e não deixava ninguém passar para as ruas de trás.

 Tinha algo nas mãos, como armas, e não deixava ninguém passar para as ruas de trás

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Dou meia volta e começo a correr. Assustada, viro a cabeça, e o vejo atrás de mim. Corro, corro, ouço minha respiração. Meu peito dói. De repente, ele para, e volta para a encruzilhada, gritando e gesticulando. De longe acena com a arma e me ameaça. Percebo que aí era o limite, que ele guardava a encruzilhada, e, a partir daí, não dá mais para passar. O que será que tem nas ruas de trás?

Continuo correndo, paro para descansar um pouco, com as mãos nos joelhos, minha cabeça pende. Sinto a agonia do arrependimento, lágrimas molham meu rosto. Por que fiz isso? Eu as amava... Por que? Queria poder voltar atrás!

Ergo a cabeça e vejo, passando na minha frente, três seres horríveis. Tinham dentes longos e pontudos, e olhos pretos. Andavam em sincronia, o maior na frente, e dois menores, logo atrás. Estavam unidos, pelos pulsos, com algemas e correntes. Tinham algemas nos sacos e os sacos deles iam até o chão.

 Tinham algemas nos sacos e os sacos deles iam até o chão

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Podia ouvir o barulho de correntes sendo arrastadas. Podia ouvir os passos deles, numa marcha unissonante.

As visões são horríveis, minha alma pesa... é um sofrimento que parece não ter fim... uma agonia que consome. Escurece, olho ao redor, desconheço os vultos. Não sei o que fazer... não sei para onde ir. Sinto-me presa neste lugar. Agora percebo... meu pecado me trouxe para o inferno! E agora?

- Acorda, acorda... acorda! – alguém grita.

Abro os olhos, minha alma parece voltar de algum lugar... era um sonho... parecia tão real...

Olho para o lado e o vejo... a mesma entidade de dentes pontiagudos... o demônio do sonho.

Ele era como uma folha de papel

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Ele era como uma folha de papel. Foi-se afastando, dobrando e abrindo, dobrando e abrindo, dobrando e abrindo até desaparecer lá longe.

Foi embora... mas, deixou comigo a vontade de matar...

Oro: "Deus, cuida de mim. Afasta o maligno de mim. Jesus envia teus anjos para me proteger. Amém."

Mas tarde ligo pra minha mãe e conto o sonho:

- Ele te ataca porque sabe que você vê. Isso foi uma vingança do inimigo. Ele quis mostrar que tem força! Mas, Deus é maior! – esclarece.

- Estou orando por muitas pessoas. Tudo isso pode ter desagradado o inimigo.

- Sim, foi isso. Os anjos te acordaram, pois você estava vivendo um martírio no sonho!

- Ele me fez conhecer um sentimento que eu não sabia que existia. – lamento.

- Você tem que pedir perdão pra Deus pelo sentimento. – fala firme.

- Mas não tenho culpa! A culpa é do inimigo, ele me fez sentir isso! Inoculou em mim um sentimento que não é meu! – justifico.

- Não interessa! Você tem que pedir perdão a Deus, e pedir para Ele limpar a sua alma! – esbraveja.

- A noite vou orar. Obrigada, mãe. – concordo chateada.

- Deus abençoe.

Antes de dormir, ajoelho-me ao lado da cama, recito o "Pai nosso", o "Salmo 91" e oro:

"Deus... peço perdão pelos meus pecados e agradeço toda a atenção dada a mim. Peço, mais uma vez, sua misericórdia na minha vida! Tira, por favor, todo mal do meu corpo, do meu espírito e que eu seja limpa! Que essa vontade maligna seja arrancada do meu peito e que não volte nunca mais! Que em mim se manifestem apenas os dons do Espirito Santo! Que eu seja cheia de tua paz, de teu amor e graça..."

Sinto a chegada do Espirito Santo e choro... Ele é grande, poderoso e santo. Todo mal vai se esvaindo do meu peito, e, Ele me enche de paz! A paz que só o Espírito Santo pode dar...

"Obrigada pela visita! Agradeço pelos cuidados, sinto que estou sendo curada. Meu desejo, Deus, é ser mais próxima de ti! Amém."

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