Conto 54: A travessia do deserto

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- Mãe! Oh mãe!

- O que foi Victor? – respondo, caminhando até o seu quarto.

Victor estava sentado na cama, com o note e livros ao seu redor.

- Senta aqui, mãe! Vou te falar uma coisa. – fala, dando tapinhas na cama.

Sento apreensiva. O que será?

- Vou embora! Estou muito cansado, preciso morar perto do estágio. Só não fui, ainda, porque estou segurando as pontas com o Luigi. Você precisará se organizar com ele, até a minha partida.

- Por que vai embora? Você tem tudo o que me pediu! Nos damos bem, nunca discutimos! – digo, aflita.

- Preciso ir, ando cansado. Estou me dedicando muito para ser efetivado. Saio tarde de lá, e tem noite que durmo duas horas ou três, no estacionamento da faculdade, para não atrasar.

- Por que não me contou? A gente dava um jeito de pagar um hotelzinho perto. – falo, querendo chorar.

- Não quero trazer mais despesas para você!

- Vai morar com amigos?

- Sim, todos fazem estágio em banco. Vamos alugar um apartamento bem perto, é só atravessar a rua.

- Você vai quando?

- Daqui a dois meses. – responde decidido.

- Está bem. Chame se precisar de ajuda.

Agradece, abaixa os olhos e continua estudando. Vou para o meu quarto, para não chorar na sua frente. Queria que mudasse de ideia. Sabia que um dia iria embora, só não esperava que fosse tão cedo! Lágrimas brotam... ficamos tão pouco tempo juntos! Parece que foi ontem que, pequeno, corria pela casa, e agora ele se vai... Semanas se passam, compramos cama, lençóis e toalhas para o novo apartamento.

Enquanto isso, Lívia faz mais quatro quimioterapias, e, após cada aplicação, vem para minha casa. Os sintomas se repetem. Parece que estou atravessando um deserto de tristezas: irmã doente e filho indo embora.

- Victor, quando você vai? – pergunto, um dia, engolindo o choro.

- Semana que vem.

- No dia em que for, avise-me para que eu saia de casa. Não quero ver você arrumando as malas e indo embora.

- Tudo bem. Vou no sábado.

- Já? Tem certeza que é isso o que você quer? – pergunto, pois quero ter certeza que ele está se sentindo seguro para esse passo.

- Tenho.

No sábado dou-lhe um beijo e vou ao shopping. À noitinha, volto para casa, entro devagar, que estranho... tudo escuro e em silêncio. Vou até o seu quarto e ligo a luz, ficaram os móveis, algumas roupas e objetos sem uso. O cheiro dele ainda estava lá, dando a esperança de que iria voltar a qualquer momento, mas sei que não vai. Sento na cama. Sinto um vazio grande no peito, uma tristeza. Acho que isso é o que chamam de ninho vazio. Tento controlar o choro, mas não consigo, penso que ele está bem e feliz, para me consolar. Peço a Deus que o abençoe nessa nova jornada.

Na manhã da segunda-feira, Lívia opera e corre tudo bem. Os médicos retiraram a mama inteira e começaram a reconstrução. Precisará de mais três cirurgias para a reconstrução completa.

Pedro, pai de Helena, vem da Alemanha para visitá-la. É um homem alto, magro, moreno e de barba bem feita. Guarda, consigo, uma perfeita elegância.

- Que surpresa! Não esperava que viesse de tão longe! Quanta honra! – diz Lívia.

- Eu disse que viria! Quando nos separamos, prometi que iria cuidar de você. – confessa, com olhar meticuloso.

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