Capítulo 12 - Tons de Cinza

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      E, com certeza, ter o peito estraçalhado por um fuzil à queima-roupa não seria tão doloroso quanto o som que agrediu os ouvidos de todos.

      Tanto Yuko, quanto Maks e Aleksei, cobriram os ouvidos imediatamente. Maks, inclusive, quase deixou seu violino cair, mas conseguiu segurá-lo a tempo, no entanto, o arco acabou escapando de suas mãos. O oboé usado pelo líder dos Caçadores não teve tanta sorte e caiu tilintando sobre o piso, amassando uma das extremidades.

      Kaneda chegou a se desequilibrar, atordoado, caindo deitado sobre o piso, encolhido em posição fetal; as mãos em concha apertando forte sobre as orelhas, numa tentativa desesperada e inútil de abafar a agonizante onda sonora produzida.

      Mikhail mirou a saída e correu para fora, fechando a porta atrás de si, vedando ainda mais o ambiente, deixando as vítimas à mercê de um ataque auditivo mais potente e doloroso.

      E como um sádico dotado de uma psicopatia assassina, Dmitri continuou de olhos fechados, um sorriso solene no rosto, passando o arco nas cordas ainda uma segunda, terceira, quarta vez, parecendo imune aos efeitos devastadores daqueles projéteis mortais em forma de som.

      Até que Aleksei, apesar de ainda aturdido e das muletas, alcançou o fio e o puxou, desconectando o plugue. O som continuou torturante, mas bem menos fatal sem a amplificação das caixas acústicas, que agora apenas chiava em microfonia, num som também irritante, mas nem de longe, tão agressivo.

      — Ei!? Qual é...?! — reclamou Dmitri, parando de tocar, os braços agora abertos, segurando o violino e o arco, um em cada mão. E no rosto, uma expressão de contrariedade. — Por que me desligaram? — De cara fechada, olhava para aquelas caixas de som, agora mais quietas depois do fio ser desconectado.

      — E você ainda pergunta por quê?! — Aleksei seguiu até as caixas e as desligou também, livrando o ambiente daquele zumbido incômodo. — Por que não dá um tiro em todo mundo aqui? — provocou. — Seria mais piedoso! — Levou as mãos aos ouvidos e conferiu os dedos diante dos olhos, temendo ver um sangramento.

      — Ah, não exagera! — o Caçador de pontaria perfeita ainda tentou se defender. — Não foi tão ruim assim...

      Mikhail abriu um pouco a porta e colocou apenas a cabeça pra dentro. — Acabou...?

      — Ah, muito obrigado, Mikhail! — exclamou Maks, também conferindo seus ouvidos à procura de um sangramento. Felizmente, não encontrou. — Agora já sabemos qual será sua reação se um dia jogarem uma granada numa sala lotada e você estiver perto da porta.

      O Caçador Elétrico riu, enquanto abria a porta totalmente e adentrava. — Ah, meu amigo, uma granada eu até encaro, mas isto!? — Apontou para Dmitri, que ainda mantinha aquele perigoso instrumento nas mãos. — Sem chance! Aliás, precisava pegar esse negócio e ligar na caixa de som? — questionou. — Podia pegar um instrumento menos perigoso.

      — É — concordou Maks —, tipo um fuzil.

      — Ah, mas também não é assim eu não sei tocar. — Dmitri continuava discordando, desconfortável, achando as reclamações exageradas. Ainda balançava de leve a cabeça enquanto finalmente guardava o instrumento e o arco de volta na bancada. — O som saiu meio desafinado e um pouco alto demais, mas as notas básicas em acertei. É só eu praticar mais.

      — Mas teria que praticar muito. Mas muuuuito mesmo...! — Maks não perdeu a oportunidade de devolver a piada feita com ele no dia anterior. E isto fez todos rirem.

      Infelizmente, após a tentativa de atentado praticado por um Caçador em posse de um violino elétrico, o pequeno concerto não prosseguiu, pois todos deixaram aquele cômodo. Mas como consolo, a tensão após os últimos acontecimentos na casa de Kihara fora abrandada; o clima na casa ficou um pouco mais agradável.

Legado da Destruição 2 - Poder DespertoOnde histórias criam vida. Descubra agora