Capítulo 19 - Insistência

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      Quarto 512 da Clínica Kihara. Uma hora e meia depois.

      Infelizmente, uma coisa ficou clara depois de toda aquela insistência: não adiantaria continuar. Mesmo assim, Maks continuou tentando, pelo menos, até passarem as duas horas que tinham planejado inicialmente. Tinha que tentar até o último momento.

      E o tempo foi gasto inutilmente. Ele não conseguiria reverter o quadro debilitado daquele senhor nem mesmo se ficasse o restante do dia ali.

      O que tornava impossível não era apenas a ausência de dor para guia-lo. Depois daquelas extenuantes duas horas, Maks percebeu que, mesmo se o senhor Tomoru estivesse se contorcendo em dores, a restauração das células doentes não aconteceria. Aos poucos, ele começava a conhecer a extensão de suas habilidades, os limites que seus dons podiam alcançar. E hoje, ele percebeu a linha que aquela habilidade de cura não conseguiria ultrapassar.

      A Cicatrização Acelerada só era eficaz em ferimentos, em lesões, sendo incapaz de reparar danos causados por vírus, bactérias ou por alguma deterioração celular ocasionada pelo tempo. Basicamente, era inútil contra doenças.

      E, com certeza, hoje havia sido o pior momento para se fazer tal descoberta.

      Maks afastou lentamente as mãos que estavam apoiadas sobre a fronte do senhor Tomoru. Teve dificuldades para erguer os olhos na direção de Ly. E mesmo que não tivesse absorvido nenhuma dor física, lhe doeu ter que dizer as palavras seguintes.

      — Desculpe, mas não consigo. — confessou, sentindo-se cada vez pior enquanto falava. Ele era a única chance que aquele homem tinha e seu fracasso acabava com qualquer esperança de reabilitação. — Eu... eu... sinto muito mesmo, Ly...!

      Ela tentou retribuir com um sorriso, e até conseguiu, mas foi um daqueles sorrisos que não chegavam aos olhos. E os dela já estavam marejados. — Não se preocupe, Maks. Você tentou. E agradeço de coração por isso. — Seu queixo tremia quando virou o rosto para que nenhum deles percebesse as lágrimas descendo.

      No entanto, Aleksei se aproximou mais dela, dizendo algumas palavras para confortá-la, deixando claro que ali ela teria um ombro amigo. Ela chegou a resistir num primeiro momento, assentindo com a cabeça como quem diz que está tudo bem. Mas logo desistiu de tentar ser forte e se agarrou a ele, desabando num choro que já segurava há muito tempo.

      Desta vez, não eram apenas lágrimas esporádicas, como as que ela deixou escapar algumas vezes nos últimos dias, quando conseguia logo se controlar. Agora era um choro que deixava aflorar toda a sua dor e frustração, sua sensação de impotência em não conseguir ajudar uma pessoa que lhe era tão importante.

      Ly sentia como se perdesse um pai pela segunda vez.

      E enquanto ainda mantinha o rosto amparado no ombro de Aleksei, acabou se sentindo ainda pior quando Maks se aproximou e sussurrou perto do seu ouvido, — Me desculpe Ly. Por favor, me desculpe...!

      E após dizer aquelas palavras, saiu do quarto, partilhando uma decepção tão grande quanto a da inconsolável doutora.

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      Pelos corredores da clínica Maks seguia caminhando sem um rumo definido. Ele queria apenas caminhar. Caminhar e tentar esquecer aquela expressão de extrema tristeza que viu estampada no rosto de sua amiga. Percebeu que falhar enquanto lidava com a esperança de vida de alguém não era algo tão fácil de se assimilar.

      No entanto, caminhar pelos corredores de uma clínica médica para tentar se animar se tornou uma missão difícil. Para qualquer lugar que olhasse, se deparava com pessoa tristes. 

Legado da Destruição 2 - Poder DespertoOnde histórias criam vida. Descubra agora