Capítulo 22 - Ainda Não

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      O homem percebeu a agitação de Maks.

      — Você está bem? Tem uma sala com enfermeiros aqui no fim do corredor, se precisar.

      << Eu estou bem>> — Maks respondeu a Itoh. Então olhou mais uma vez para o menino, decidido. Já havia prometido a Kenzo que faria aquilo. Ele mesmo havia se imposto essa promessa para não haver mais nenhuma chance de voltar atrás.

      — Está bem mesmo? Não está parecendo.

      << Você guarda um segredo?>>

      Como esperado, os gestos não foram tão eficientes em expressar o que o Caçador queria dizer. Então, ele repetiu, de modo mais lento. Por sorte, Itoh era um homem inteligente, além de paciente, e conseguiu decifrar o que lhe fora perguntado

      — Sim. Eu posso guardar, sim — ele respondeu, com uma expressão confusa. Mas estava falando a verdade, disso, Maks teve certeza ao ouvi-lo.

      << Eu posso curar seu filho.>>

      — Eu sei. Você já está ajudando — o pai de Kenzo afirmou com um sorriso, embora tivesse confundido uma das palavras. — E ainda quero que você me ensine o truque de conseguir a atenção dele desse jeito.

      <<Não. Não só ajudar. >> — Os próximos gestos foram mais lentos e enfáticos. — << Posso curar as mãos dele.>> — E logo repetiu a palavra principal da frase: << curar! >>

      O sorriso do homem desapareceu imediatamente e sua expressão ficou bastante séria. — O que você disse...?

      << Posso curar as mãos dele >> — Maks repetiu, com os mesmos gestos, agora de maneira ainda mais devagar e enfática, não deixando, desta vez, nenhuma dúvida sobre o que queria dizer.

      — Curar as mãos do meu filho...? — De leve, Itoh balançou a cabeça de forma negativa, ficando desconcertado, mas com os olhos mantidos fixos em Maks. — Não faz isso comigo... Não brinca com isso... — As lágrimas, que ele tinha controlado naquele primeiro momento, agora inundavam seus olhos. — Isso está me destruindo...! — confessou, baixando o rosto.

      "Só preciso que me autorize a fazer isso" — o Caçador enfatizou o pedido, desta vez, falando mentalmente. — "Vai ser rápido. Não vou machucá-lo, de forma alguma."

      O homem se espantou quando ouviu aquela voz na sua mente. — O que foi isso!? — Olhou rápido para os lados; a típica reação inicial de quem experimentava aquele tipo de comunicação pela primeira vez.

      "Fui eu. Não precisa se assustar. Eu sou um amigo. Sou meio esquisito, mas sou um cara... legal."

      O olhar que Itoh lhe dirigiu não era apenas de desconfiança, mas de medo. — O que você...?

      "Está tudo bem, Itoh. Pode confiar em mim."

      — Você é um desses Caçadores de Nômades! É um assassino! — Levantou-se com o menino no colo, com o abraço em volta da criança demonstrando uma preocupação excessiva em protegê-la. Deu alguns passos para trás, se afastando. Os olhos buscavam a porta de saída, mas para sair, teria que passar por Maks.

      "Por favor, amigo, espere!" — Maks também se levantou, mas sua reação ficou limitada a um gesto na direção de Itoh pedindo que ele ficasse calmo. — "Não farei nada de mal. Só quero ajudar" — explicou, os olhos implorando para que ele se tranquilizasse e compreendesse suas intenções.

Legado da Destruição 2 - Poder DespertoOnde histórias criam vida. Descubra agora