Capítulo 3 - Bom Comportamento

162 42 67
                                    

      Aleksei chegou a propor uma ida à clínica antes do retorno à base, mas o próprio Maks o lembrou de que nada poderia ser feito para abrandar aquela dor. Ela iria sumir aos poucos, de maneira lenta, mas contínua.

      Bastaria um pouco de paciência.

      Após a chegada na base, o Caçador agonizante quis privacidade total. Cumprimentou rapidamente Yuko e Kaneda quando passou por eles no sofá e invadiu o quarto de Aleksei, que era o primeiro do corredor. Depois de fechar a porta por dentro, deitou-se sobre a cama arrumada com lençóis limpos e esperou pacientemente que a dor dissipasse por completo, o que estava claro que demoraria um pouco a acontecer.

      "Maks...?" — perguntou Yuko, preocupada, ao mesmo tempo em que se levantava e caminhava até a porta fechada. — "Está tudo bem com você...?"

      "Olá, Yuko" — respondeu ele, deitado em posição fetal sobre a cama, os olhos mantidos fechados e apertados, tentando ficar o mais imóvel possível. Aquela posição parecia ajudar a aliviar a forte dor ainda restante. — "Tá tudo bem."

      Mas estava claro que ele escondia algo. — "Você está bem mesmo?" — ela insistiu.

      "Sim, estou."

      Olhando por cima do ombro por um momento, Yuko observou os demais Caçadores, e o que ela viu lhe dava ainda mais certeza de que algo estava errado. — "É que seus amigos estão todos ali na sala com cara de enterro e você se trancou nesse quarto logo que chegou..."

      "Não se preocupe, está tudo bem."

      Sem conseguir esconder sua preocupação que apenas crescia, ela suspirou frustrada ao ouvir de novo aquela resposta evasiva. Olhou mais uma vez para o grupo de Caçadores, que estavam agora em meio a uma discussão séria, mesmo não parecendo muito acalorada. — "Eu não entendo nada do que seus amigos falam." — Voltando-se mais uma vez para frente, se aproximou ainda mais do quarto fechado, tocando a palma da mão sobre a porta. — "Você... está bem mesmo?"

      Ele demorou um pouco mais a responder desta vez.

      "Não muito. Mas vou ficar bem, não se preocupe."

      "Mas, pelo jeito, não pode me contar o que houve."

      "Não... desculpe..." — E logo emendou, tentando se justificar: — "Não é que eu não confie em você, Yuko. É que eu... simplesmente não posso falar. Não ainda."

      "Está tudo bem, eu... entendo" — afirmou ela, de modo a se mostrar compreensiva.

      Sem conseguir esperar, Maks entrou em contato com Ayumi, para saber como a menina estava, forçando Yuko a se afastar da porta após ele silenciar. Voltando ao sofá, ela perguntou a Kaneda se ele sabia o que havia acontecido, mas o garoto, apesar de prestar atenção às conversas entre os membros do grupo na sala, foi traído pelas sentenças que se atropelavam umas sobre as outras enquanto eles falavam quase todos ao mesmo tempo. Com isso, seu já limitadíssimo conhecimento da língua portuguesa não conseguiu pescar nem a essência daquele debate, deixando os dois ainda à deriva sobre o motivo de Maks ter agido daquela maneira.

      No interior do quarto fechado, Maks ficou mais aliviado ao ouvir Ayumi afirmar que estava bem, já instalada na casa de Misaki. A menina explicou que dormiria no mesmo quarto de Makoto, num colchão colocado ao lado da cama dele; mas teve que prometer ao tio Misaki que não ficariam brincando até muito tarde.

      Maks não conseguiu evitar um sorriso ao ouvi-la falando sobre aquela regra imposta pelo seu agigantado amigo, sendo mencionada pela menina como se fosse algo extremamente sério e importante, como uma imposição passível de pena de morte se não fosse obedecida.

Legado da Destruição 2 - Poder DespertoOnde histórias criam vida. Descubra agora