Legado da Destruição 2 - Poder Desperto

Capítulo 16 - Pedido

      Segundos após tomar a rápida ducha quente, Yelena já se encontrava fechada em seu quarto e enrolada numa toalha de banho. O colante macacão legging que usava no treinamento (e que ela sempre revezava com os seus dois quimonos de Tae Kwon Do) fora deixado no cesto de roupas sujas junto com as outras peças, esperando a vez de entrarem na máquina de lavar.

      Enquanto passava lentamente a escova nos cabelos em frente ao grande espelho da penteadeira, encarou o seu reflexo e analisou a própria imagem mais atentamente por alguns momentos.

      Primeiramente, se concentrou no seu rosto, até os olhos descerem um pouco mais, focalizando a toalha branca que a envolvia como um vestido sem alças.

      Dando mais um passo para trás, conseguiu a distância necessária para que a maior parte do corpo entrasse no seu campo de visão através do reflexo; do topo da cabeça até quase os joelhos, que escapavam abaixo da toalha de banho.

      Com a expressão séria e os olhos fixos durante aquela auto-análise, ela largou a escova de cabelo na cama e desfez o pequeno laço que mantinha o tecido preso ao redor de si; a toalha se abriu silenciosa, deixando-a completamente nua.

      Involuntariamente, voltou a se cobrir com a toalha, abraçando-a à frente do corpo, ao mesmo tempo em que o rosto virava na direção da porta; e sentiu um grande alívio ao lembrar que a mesma estava trancada por dentro.

      'Claro que está trancada...' riu de si mesma após o susto.

      Pendurando a toalha no escoro da poltrona, que fora afastada da frente da penteadeira, ela voltou a atenção para a imagem do próprio corpo. Com o rosto pendendo para o lado e os olhos apertados, atentava para todos aqueles detalhes, que sempre lhe pareciam tão familiares quanto estranhos devido à sua amnésia. Levou os dedos até a barriga e tocou sobre a tatuagem que lhe cobria aquela área, formando a silhueta de uma fada; uma curvilínea sombra alada que parecia ter decolado de seu umbigo num vôo prestes a alcançar um dos seios. Uma tatuagem que ela nunca lembrava de quem, ou quando ou onde a fez.

      E, o mais irritante: ela não entendia por que a fez!

      Até porque, particularmente, era uma tatuagem que ela não gostava nem um pouco, fazendo com que desenvolvesse pela sombreada ilustração uma indignação que chegava a flertar com o ódio.

      'Por que tinha que ser a sombra idiota de uma fada...?'

      Tatuagem esta que também nunca mostrara a ninguém, sendo uma espécie de segredo seu; assim como o restante do corpo, que ela praticamente mantinha sempre oculto sob as várias camadas de roupas.

      Mantendo os olhos fixos no espelho, ela se virou de lado por um momento, avaliando agora o corpo de perfil, medindo as próprias curvas, chegando a erguer os braços para mexer nos cabelos, simulando poses como uma modelo fotográfica. Depois, virou-se, analisando o outro lado, até ficar totalmente de costas, passando a olhar por cima do ombro e precisando se contorcer um pouco para alcançar o reflexo atrás de si.

      'Sem graça...'

      Estas foram as primeiras palavras que lhe vieram à mente para definir o que seus olhos viam. Feia foi a segunda. E, neste mesmo tom depreciativo, houve ainda um terceiro e um quarto adjetivo desagradável, sendo todos acompanhados de um suspiro frustrado e um balançar de cabeça desdenhoso.

      Aos seus olhos, os quadris ainda continuavam estreitos demais; não pareciam aumentar um milímetro sequer, apesar dos exercícios pesados. Os seios ela também considerava muito pequenos. Por fim, exagerou ainda mais ao desprezar outro de seus atributos, que estavam bem longe de serem as duas parcas ondulações traseiras que ela mal tinha coragem de chamar de bunda. Ainda assim, completavam um quadro geral que nunca agradava seus olhos, tão críticos de si mesma.