Pesadelos e roupas novas

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Todo dolorido, Dipper sentou-se em sua cama e se espreguiçou de manhã. Esfregou os olhos pesados. Não tinha dormido nada bem naquela noite.

O garoto se levantou e foi ao banheiro enxaguar o rosto. Olhou para si mesmo no espelho, mãos apoiadas na pia. Seus cabelos castanhos rebeldes pela manhã emolduravam um rosto cansado, as pontas levemente molhadas. Os olhos exibiam olheiras abaixo das sobrancelhas franzidas e uma gota de água ainda escorria pelo nariz ruborizado.

Tudo que tinha feito naquela noite fora ficar se remexendo pra lá e pra cá entre um cochilo e outro. Um flashback de seu pesadelo voltou à sua mente: O céu invadido por nuvens de um tom amarelo alaranjado doentio que se dissipavam no centro, de onde surgia uma fenda vermelho vivo com formato semelhante a uma estrela de quatro pontas. Uma pontada de dor de cabeça veio com outro flashback. Desta vez, era um enorme vitral avermelhado em formato de olho, cuja pupila era um losango escuro e comprido.

Não era a primeira vez que Dipper sonhava com isso. De fato, desde o Estranhagedon, ele vinha tendo esse tipo de pesadelo, que geralmente também envolvia ele e Mabel sendo perseguidos e Ford sendo torturado. Ele sempre acordava suado e ofegante no meio da noite, e demorava a dormir novamente. Porém, com o tempo, os pesadelos foram se tornando menos e menos frequentes até se tornarem raros. Hoje em dia, Dipper quase nunca os tinha. Qual seria o motivo deles terem retornado justo hoje? Seria algum tipo de aviso? Será que havia alguma chance de Bill voltar ou o Estranhagedon ocorrer de novo?

A ideia não desgrudou da mente de Dipper durante todo o café da manhã. A possibilidade de alguém estar tentando reestabelecer um portal para entrar em contato com o campo da mente outra vez o aterrorizava. E se alguém tivesse roubado os diários e decidido reconstruí-los?

Assim que teve certeza de que estava sozinho, então, Dipper resolveu passar no laboratório subterrâneo da cabana para conferir se tudo estava como antes. Foi lá que tudo tinha começado e, se alguém tivesse mexido ali, podia ser sinal de encrenca. A última vez que ele entrara no laboratório fora no começo das férias, e estava sendo usado como um lugar de armazenamento extra para as tranqueiras da loja. Stanford era quem usava mais o lugar, mas como ele quase sempre estava viajando, o laboratório estava uma bagunça e Dipper não tinha motivos para ficar indo lá. Até agora.

Digitou a senha rapidamente na máquina de salgadinhos e entrou. Tinha sorte de que era domingo e a loja de presentes não estava aberta, caso contrário teria de esperar até escurecer para a barra ficar limpa. Desceu as escadas do corredor atrás da máquina, entrou no elevador e apertou o botão para o terceiro piso. Seus pés batucavam no chão com impaciência até que a porta se abriu.

Um suspiro de alívio escapou da boca de Dipper quando ele soltou a respiração. Tudo parecia exatamente como da outra vez: Caixas e cabeças de animais empalhados amontoavam-se nos cantos e um pano empoeirado cobria o painel principal. Acima do painel, uma janela de vidro retangular dava para a segunda sala, em que o portal dimensional ainda se encontrava destruído no chão. Diversas outras máquinas, cujos comandos Dipper não entendia, se localizavam nas laterais. Ele passou o dedo na superfície de uma delas, que saiu coberto de poeira. Esfregou os dedos para limpá-los, distraidamente.

Ainda faltava verificar uma coisa: Os diários. Dipper tirou o pano do painel rapidamente, logo se arrependendo ao começar a espirrar com o pó. Quando se recompôs, ele retirou dali três livros velhos de capa vermelho-escuro. Os diários. Ford e Dipper já tinham considerado se livrar deles diversas vezes, por questões de segurança. Se aqueles diários caíssem em mãos erradas, o destino do mundo poderia correr perigo, pois continham instruções detalhadas sobre como invocar Bill Cipher e construir um portal dimensional. Apesar de tudo Dipper não tinha coragem de fazer isso, com medo de que ainda precisasse deles. Ou talvez ele só tivesse se apegado àquelas páginas amareladas, lombada grossa e capa de couro, depois de tudo o que passaram juntos. Afinal, era o trabalho mais importante da vida de seu tio-avô. O que ele tinha que concordar, no entanto, era que devia esconder os livros em um lugar mais seguro.

Ele é WillOnde histórias criam vida. Descubra agora