O jantar

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Era uma coisa boa que Dipper gostava de ler: Só assim para aguentar tanto tempo sem fazer nada na Cabana. Ele estava deitado em sua cama com um livro em mãos, enquanto Bill dormia na de Mabel.

Tinha de admitir que ficou bem assustado quando Bill chegou e simplesmente desmaiou na porta da sala... O que, apesar de tudo, não era uma surpresa. Ele não comia e nem dormia direito fazia tempo, então era de se esperar que uma hora ou outra acontecesse uma coisa do tipo. Só esperava que, depois dessa, o demônio parasse de ser teimoso e aprendesse que agora era humano como todo mundo.

Depois que o susto passou, a monotonia tomou conta. Mabel e Dipper tiveram que ficar se revezando para tomar conta do Bill desmaiado, e, agora que ela tinha ido passar um tempo na casa das amigas, a tarefa cabia a ele.

A cena de um sonho daquela noite voltou à mente de Dipper, como flashbacks. Os lábios de Bill, a luz parca, a sensação do toque na sua pele. Ele ruborizou na hora e balançou o rosto, como se o gesto pudesse fazer os pensamentos indesejados subitamente desaparecerem. Por que ele não conseguia esquecer logo daquilo e voltar aos seus afazeres? Fora só um sonho, nada mais do que isso. Influência de Bill? Improvável. Depois daquela conversa no sótão, tinha voltado a sonhar com o Estranhagedon, criaturas macabras e, casualmente, com a Wendy o rejeitando. O sonho que tivera fora fruto da sua própria mente, e isso era o que mais lhe assustava.

Por que Bill? Por que, de todas as pessoas daquele universo, ele tinha que ter um sonho erótico com Bill? Talvez tivesse a ver com o fato de que os dois estavam dormindo no mesmo quarto desde a noite anterior... Mas isso não explicava nada! Dipper sempre dormiu no mesmo quarto de Mabel e nunca aconteceu nada parecido (Ainda bem!). Podia ser que os seus hormônios da puberdade reprimidos tenham finalmente resolvido se manifestar em forma de sonho, já que, na vida real, Dipper não fazia muita coisa.

Será que o seu subconsciente se sentia atraído por Bill? A ideia inevitavelmente passou pela sua mente, como um voz que diz exatamente o que não se quer ouvir. Mas aquilo era impossível. Todo mundo tinha sonhos sem sentido de vez em quando, e esse certamente era o caso. Além disso, Dipper tinha resolvido relevar, mas ainda não havia esquecido tudo o que o demônio tinha feito contra sua família. Os dois mal conseguiam ficar cinco minutos no mesmo lugar sem começar a discutir, e Dipper nem sequer desejava que essa relação melhorasse. Se dependesse dele, Bill nunca teria retornado e ele teria um verão perfeito em Gravity Falls, como nos velhos tempos, ao invés de ficar preso em casa porque Bill resolveu beber latas de Pitt Cola como almoço e passar noites em claro.

Percebendo que não conseguiria se concentrar em seu livro tão cedo, Dipper o colocou de lado e pegou seu chapéu na cômoda. Talvez o modo certo de se distrair de um problema fosse pensar em outro. Aquele era o chapéu de lenhador da Wendy, que ela lhe dera no final do seu primeiro verão em Gravity Falls como um presente. "Para se lembrar de mim", ela dissera. A estratégia da garota acabou funcionando bem até demais, embora há tempos Dipper já não dormisse agarrado ao objeto em segredo como um perdedor. Tá bom, no começo era porque a superfície cheia de pelos do chapéu atacava a sua alergia, mas o garoto gostava de pensar que havia feito algum progresso.

O luau na piscina de que as amigas de Mabel tinham falado já era no dia seguinte, sábado. Dipper tinha a esperança de que Wendy fosse, mas não tinha como ter certeza, já que não se falavam desde o dia que Bill chegou à cabana. Aprendera a não criar expectativas demais, pois em caso de tudo dar errado, ele não ficaria tão pra baixo. Pensou, com um suspiro, que até a probabilidade dele ficar com Bill parecia maior do que ficar com Wendy.

Falando no demônio, era impressão ou ele estava se espreguiçando naquele exato momento? Dipper sentou-se na cama e tentou agir com naturalidade.

Ele é WillOnde histórias criam vida. Descubra agora