Quebra de confiança

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Aviso de gatilho: Assédio

Mais para o final do capítulo há uma cena de assédio bem explícita. Se você é muito novo(a) ou é sensível quanto a isso, tem a opção de pular a cena. Adicionei um resumo dela nas notas finais, pois saber o que aconteceu é necessário para entender os próximos capítulos. Quando chegarem na parte do capítulo de que estou falando, vai ter um aviso.

Boa leitura!




De modo quase automático, Bill soldava duas placas, que fariam parte da placa-mãe, com estanho. Era uma manhã de domingo, e ele tinha feito da varanda dos fundos da cabana o seu local de trabalho, tudo muito improvisado. Aquele não era nem de longe o melhor lugar para isso, com muitas extensões e cabos, só uma mesa de madeira para trabalhar, mas tinha que ser o suficiente.

Estava esperando que Stanford lhe cedesse o laboratório no porão para fazer o robô, e esse era o único motivo pelo qual tinha aceitado a tarefa de construir aquele pedaço de sucata ridículo. Também imaginara que os materiais do local lhe seriam úteis, mas como ele tinha que pedir tudo o que precisava para o cientista, seria impossível conseguir a maior parte dos itens necessários para o portal sem levantar suspeitas. O velho sabia demais sobre ciência e ia suspeitar se Bill pedisse material radioativo para fazer um simples robô.

Sem aviso algum, Stanley escancarou a porta e saiu para a varanda. Soos veio atrás dele.

— Como vai com a construção do meu robô, meu chapa? — o velho disse, convencido, até olhar para o monte de peças mecânicas à sua frente. — Uau, hã, isso é um robô?

A engenhoca, no momento, parecia mais um rádio com alto-falante.

— Ainda estou no começo — Bill justificou. — Primeiro ele precisa funcionar. A arte pode ficar pra depois.

— Bem, percebe-se.

"Ora, percebe-se.", Bill pensou, possesso, "Já que você sabe tanto sobre mecânica, por que não faz o robô você mesmo? Aproveita e vê se morre eletrocutado no caminho."

O garoto engoliu a raiva e tentou se concentrar no trabalho. Se olhasse demais para aquele velho ia acabar gritando com ele ou lhe dando um murro.

Soos olhou atentamente para a folha com o projeto na mesa e anunciou, como se tivesse acabado de ter a melhor ideia do mundo:

— Você consegue programar ele pra falar: "Soos, você é o melhor funcionário que eu já tive?"

E olhou para os outros com expectativa, mas Bill e Stanley o encararam com irritação. É, talvez a ideia não fosse tão genial assim.

— Não vai acontecer — disse o velho, destruindo as esperanças de seu antigo empregado. — Vamos voltar para dentro.

Enquanto Soos era empurrado para dentro de casa, Bill tentou recompor os pensamentos e se focar novamente. Mesmo dormindo e se alimentando com frequência, sua mente ainda encontrava dificuldades para manter a concentração por muito tempo, e ter aqueles dois por ali enchendo o saco não ajudava nem um pouco.

Quando aceitou o trato, o demônio pensava que a construção do robô valeria a pena, apesar de toda a perda de tempo. Agora, já não tinha tanta certeza. Pela frequência que os dois irmãos vinham checar o projeto e lhe cobrar resultados, até levar materiais para o ferro-velho seria arriscado. Este foi o local que escolheu para reiniciar a construção do portal dimensional, por ser afastado de olhos curiosos e conter muita tralha que poderia lhe ser útil. A única vantagem de continuar com aquela ideia estúpida, além de poder levar as ferramentas que usava de vez em quando, era justificar o tempo que passava fora da cabana.

Ele é WillOnde histórias criam vida. Descubra agora