Desaparecido

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Dipper manteve as mãos firmes em cima da folha papel na superfície de vidro da copiadora. As cópias começaram a ser impressas e amontoadas na saída da máquina em instantes, o que era bem impressionante para uma máquina velha caindo aos pedaços. Todo o cuidado era pouco com essa geringonça, pois, se acidentalmente acabasse escaneando alguma parte do próprio corpo, Dipper teria de lidar com réplicas de papel de seus membros rastejando pelo escritório. Uma longa história.

— Obrigado por me ajudar, Mabel — Will disse, sorrindo. Os dois estavam sentados em cima das bancadas de madeira do lugar e ele balançava os pés inocentemente.

— Não há de quê, seu bobo — a garota respondeu em tom de brincadeira, mas logo acrescentou seriamente. — Eu sabia que os meus talentos artísticos seriam necessários um dia.

— O desenho ficou maravilhoso!

De costas, Dipper revirou os olhos com a bajulação do outro. O cartaz em suas mãos exibia os dizeres "Garoto perdido", em letras garrafais, e, na parte de baixo, informações sobre quando Will apareceu na Cabana do Mistério, descrições da sua aparência e o telefone para contato. Bem grande, no meio, estava o desenho de Mabel, que retratava com uma fidelidade considerável o rosto do garoto hospedado. O queixo era fino como na realidade, o nariz comprido e até o cabelo estava bagunçado sobre o rosto como o dia em que ele chegou. Tá certo que o desenho estava legalzinho, mas como Mabel não percebia nada de estranho nos elogios de Will?

— Ah, eu sei, hehe — Mabel respondeu, convencida. — Mas é o mínimo que eu poderia fazer pra te ajudar.

Dipper revirou os olhos novamente. Não acreditava que aquela busca iria render frutos, e estava ajudando mais por obrigação.

Tudo estava melhor quando ele acordara naquela manhã. Os sonhos com o Estranhagedon haviam cessado. Ao invés de se revirar e ter pesadelos a noite toda, Dipper dormiu como um bebê e acordou bem disposto. Chegou a esquecer completamente do que tinha acontecido na noite anterior, e de que Mabel e ele estavam brigados.

Estava arrependido por ter sido tão impulsivo. Devia ter previsto a reação de sua irmã caso não desse certo. Bill era uma criatura muito esperta, e Dipper não conseguiria pegá-lo se não tivesse provas concretas. Era como o conselho de Soos no primeiríssimo dia do garoto na cabana: "Você precisa ter provas. Se não, ninguém vai acreditar em você".

Dipper ficava indignado ao ver que ninguém mais suspeitava do garoto loiro. Afinal, quem garante que Will apenas não tinha fechado o olho no dia anterior e fingido que ele não abria? Com um arrepio, imaginou um olho amarelado de pupilas reptilianas debaixo do tapa-olho. Claro que Dipper não ia tentar forçá-lo a mostrar as pupilas, não sem nenhum apoio, mas devia haver outra maneira de conseguir provas.

E falando em provas, o que Dipper tinha visto mais cedo naquele dia, quando visitou o quarto de Will, era estranho, para dizer o mínimo.




— Will, você tá aí? Posso entrar? — perguntou Dipper antes de subir as escadas, com um tom levemente culpado. O procedimento normal seria bater na porta e esperar a resposta, mas a escadaria levava diretamente ao sótão. — Will?

O outro demorou a responder.

— Que seja.

Já pensando no que ia dizer, Dipper subiu e encontrou o sótão bastante diferente de quando tinha ajudado a arrumá-lo há alguns dias. As paredes de tábuas de madeira e vigas grosseiras continuavam lá, assim como todos os móveis. A disposição em que estavam, porém, era muito incomum. Will tinha resolvido colocar a cama no meio do quarto, encarando a parede do fundo, e o armário aos pés dela com as portas para o outro lado. O garoto, no momento, estava deitado na cama com as pernas para cima, apoiadas no armário, enquanto tentava resolver um cubo mágico que tinha achado em qualquer lugar. O modo como a luz atravessava a janela de vidro avermelhado e atingia o corpo de Will fez Dipper ter calafrios. O mosaico do vidro tinha o desenho de uma figura triangular com um olho no centro. Era assustador como aquela cabana tinha sido construída antes mesmo do tivô Ford conhecer Bill Cipher, e, no entanto, aquela figura no vitral claramente retratava o demônio. E agora Dipper desconfiava que o próprio estava usando o local como dormitório. Perturbador.

Ele é WillOnde histórias criam vida. Descubra agora