And just like them old stars

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Rodrigo

Eu não consigo parar de olhar para a minha mão nua. Esfrego o dedo anelar da mão esquerda mais e mais até que eu posso jurar ver uma fraca marca onde uma aliança de casamento provavelmente estaria. Eu não sei por que dói tanto quando Agatha me diz que ela é casada. É claro que ela é, por que não seria? Ela é linda, bem-sucedida e claramente muito talentosa. Uma parte desconhecia de mim quer lhe perguntar se as fotografias estão à venda, mas me contenho.

Ela me olha com dor nos olhos enquanto mexo com a minha mão, o que me faz parar. Não quero ser a causa de sua tristeza. Eu não quero que ela tenha um impressão errada de mim. Nós dois estamos lá, o silêncio pairando sobre nós, até que eu me sinto como se estivesse quase sufocando com isso. Eu forço meu cérebro a chegar em uma desculpa para ir embora mas algo está me fazendo ficar ali. Com ela.

- Agatha! – uma voz a chama. Eu viro e vejo uma moça com cabelos longos e castanhos, um pouco menos brilhoso que o de Agatha, preso para cima em um coque casual. – Eu sinto muito ter que fazer isso com você agora, mas estamos com problemas. Jéssica não está aqui ainda e Yanna está ocupada na cozinha, e...

- Mariana... – Agatha responde um tanto cansada, cortando a menina. – Está tudo bem. Eu estarei lá em um segundo.

Meu peito aperta com a percepção de que nosso tempo juntos terminou.

- Rodrigo, eu... – Agatha começa e já posso ouvir as desculpas e explicações que querem escapar dos seus lábios. Então, ela me surpreende com sua pergunta quando continua falando. – preciso ir. Podemos nos ver mais tarde?

Ela literalmente colocou a bola na minha quadra e eu não tenho ideia do que dizer a ela. Cada fibra do meu ser grita em protesto para eu dizer que sim. Eu quero falar com ela novamente, conhecê-la e... Eu paro antes de me permitir que qualquer fresta com fantasias impossíveis preencha minha mente. Eu suspiro e meus ombros cedem um pouco sob o peso da minha decisão.

- Talvez... – eu ofereço a Agatha em resposta, seguido por um pequeno sorriso. Minha simples expressão parece acalmá-la e eu sinto sua mão apertar meu ombro enquanto ela passa ao redor da mesa e caminha rapidamente para longe de mim.

Eu olho enquanto sua figura se retira até que ela desaparece em meio a uma gama de pessoas pelo balcão. Sua silhueta desaparece aos poucos sob meus olhos, até que já não posso ver nenhum vestígio de seu brilhante cabelo castanho entre elas. Ando ao redor na esperança de, pelo menos, perder-me nas fotografias mais uma vez. Me desaponto ao ver que um casal está em pé na frente delas.

O homem tem o braço colocado ao redor da garota e ela se inclina para perto dele, descansando a cabeça em seu ombro. Eles parecem felizes e calmos, sem se importar com o mundo.

Eu os invejo.

***

- Sr. Simas. – alguém me cumprimenta na entrada do meu edifício e eu aceno a cabeça em sua direção, retribuindo silenciosamente.

Eu arrasto meus pés pelos corredores, as paredes de um cinza tão monótono que são quase dolorosas demais em contraste com o calor e o brilho do café de Agatha. Apesar de ter tido um bolinho há pouco tempo, meu estômago está roncando em protesto.

Acho que eu deveria encontrar algo para comer.

O cheiro da comida ao longe pega a minha atenção. Paro quando vejo um espaço aberto com um buffet de comida espalhado sobre uma mesa comprida. Eu ando mais um pouco e olho para as opções. Nada se destaca muito mas ainda assim a comida parece comestível o suficiente. Alcanço um prato vazio e pego algumas coisas.

Girando ao redor, vejo as mesas do outro lado da sala. Há uma margarida solitária colocada em um vaso no centro de cada uma. Eu me sento em uma mesa vazia e dou algumas mordidas no alimento na minha frente. É mole, sem graça e mal comestível. Minha boca sente falta do bolinho de canela e passas de Agatha, cheio de especiarias.

Percebendo que não vou conseguir nada parecido aqui, eu suspiro e dou outra garfada do que eu acredito ser frango em minha boca. Não fico muito satisfeito com o sabor; mastigo, engulo e repito o processo, ansioso para acabar com a minha fome.

Mantenho minha cabeça baixa durante a maior parte da refeição e, quando eu termino, permito-me olhar para cima. Algumas das outras mesas estão ocupadas: umas com casais, outras com apenas uma pessoa como eu. Porém, ninguém me chama atenção. Assim que eu empurro minha cadeira de volta, estou pronto para sair e voltar para a solidão e conforto familiar do meu lar.

Quando eu estou a ponto de me levantar, fito novamente a margarida na minha mesa e algo desperta na parte de trás do meu cérebro. Uma imagem difusa de um casal correndo através da areia da praia, rindo. A garota corre em direção a água, me convidando a acompanha-la. Eles se encontram na primeira onda, seus corpos se chocando e os levando para baixo, em direção a areia molhada com algumas pétalas de margaridas ao redor. Eu me esforço para ver os seus rostos, sem sucesso. Quando o som de uma cadeira próxima raspando no chão me tira de meu transe, percebo que minhas mãos estão úmidas, com algumas gotas de suor que deslizam por minha testa.

Eu me esforço para recuperar o fôlego e pego meu guardanapo para enxugar a umidade que transborda em minha pele.

E talvez dos meus olhos.

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