Agatha
Mesmo hesitante, Yanna foi embora da cafeteira sabendo que eu precisava de algum tempo sozinha antes de ir para o meu compromisso. Suspiro tristemente ao vê-la partir, sabendo que eu, literalmente, precisava me fortalecer para a conversa que estava prestes a ter.
Eu passava por isso uma vez por semana e ainda assim não havia me acostumado. Provavelmente nunca iria.
Toda semana, eu meditava antes de sair de casa pensando que aquele ia ser o dia. Hoje seria o dia que eu receberia a notícia que quero ouvir... que algo está mudando. Que ele está mudando. Não ajudava em nada que eu mesma às vezes me convencesse de que notei algo diferente em seu comportamento, ou na maneira como ele falava comigo.
Mas qualquer esperança ou sonho de mudança nele era esmagada durante cada encontro semanal...
Nada de novo nesta semana, Agatha. Ainda é o mesmo estado. Talvez se continuarmos com isso ou aquilo, com o tempo...
Tempo.
Eu bufei, pensando quanto tempo nós já gastamos lidando com isso. Quanto tempo mais eu estou disposta a dar?
Sendo honesta comigo mesma, eu estou disposta a lhe dar uma eternidade. Sei que Yanna pensa que eu estou sendo um mártir, dando a minha vida sem esperança de receber nada em troca. Meus olhos ardem enquanto as lágrimas começam a cair pelo meu rosto com o pensamento.
Eu apenas não estou disposta a desistir ainda. Ainda não.
Permito-me um choro rápido e então uso a pia do banheiro de empregados para refrescar-me. Olho as horas incansavelmente e fico feliz quando vejo que tenho mais vinte minutos até que eu precise estar lá. Eu verifico o meu e-mail, me forçando a comer mais alguma coisa e em seguida, enrolo um bolinho para levar comigo. No momento enque eu tranco o café e começo a andar através da rua, percebo que agora eu realmente preciso ir mais rápido para chegar a tempo.
Assim como todas as vezes em que eu cheguei nas instalações, fiquei impressionada com a forma que o local parecia estéril e inóspito, os mesmos medos e dúvidas batendo em mim, torcendo meu estômago até doer.
Ele pode realmente ser feliz aqui? Será que escolhemos o lugar certo? Será que isso realmente importa?
Estes momentos de dúvida vem e vão automaticamente, mas a cada vez, sempre deixavam buracos remanescentes em meu coração. Eu entro pela porta da frente e aceno para a enfermeira da recepção. Quase mecanicamente, eu faço o meu caminho por um antigo corredor, até eu chegar a um grande conjunto de portas de carvalho. Há um falso calor que me atinge antes de entrar.
Algumas plantas exuberantes adornam os cantos e requintam o lugar enquanto moveis perfeitamente organizados são estranhamente convidativos para quem não precisava morar ali. Eu ando até recepcionista já tão conhecida por mim, sentada atrás de uma mesa.
- Oi, Giovana! Estou aqui para o encontro das cinco horas...
- Agatha, querida! Que bom te ver por aqui essa semana! Como foram esses dias? – Giovanna estava presente no dia que chegamos aqui. Ela me forneceu toda a papelada e me ajudou com todo o resto. Com literalmente todo o resto.
- Não posso te afinar que progredimos porque isso já aconteceu antes, mas, hoje ele ficou. – Meus olhos marejavam apenas por falar sobre ele com alguém tão abertamente. – Passou algum tempo olhando nossas fotos...
- Esse é um bom sinal, querida! – Seu sorriso me acalmava. – Um bom sinal...
Antes que eu fosse capaz de estender nossa conversa, Giovanna levantou-se e acenou para que eu a seguisse para o escritório adjacente. Eu sigo, com o meu corpo vibrando em expectativa, querendo saber se hoje é o dia que recebo um relatório positivo. Talvez? Apenas talvez...
- Ah, Agatha. Por favor, entre. Sente-se.
Dr. Rubens fez um gesto na direção do sofá de couro liso em sua frente e eu me sentei, meus olhos arregalados e ansiosos voltados para ele.
Eu não entendo todas as informações de imediato. Na verdade, parece que ele leva o seu tempo enrolando e gaguejando enquanto revê alguns papéis sempre presentes em sua prancheta. Enquanto os minutos se arrastam, eu começo a ficar mais e mais ansiosa.
- Mas houve alguma mudança considerável? – Eu finalmente deixo escapar, incapaz de conter-me. Se fosse apenas o mesmo estado, ele não seria tão lento em partilhar comigo... certo?
- Bem... Eu não sei o que dizer... – Ele começa, e mesmo esse pequeno momento me enche de esperança de tal forma que me encontro sentada na beira do sofá, ansiosamente antecipando suas próximas palavras. – Mas, não. Não... realmente. Há algumas coisas que parecem estar querendo voltar para ele aqui e ali, mas, novamente, elas são apenas as memórias mais forçadas do que qualquer outra coisa. Infelizmente, eu não consigo ver a condição dele de agora mudar. Na minha opinião profissional, eu diria que qualquer chance de uma recuperação de cem por cento é absolutamente nula. E ainda esperar por uma recuperação de cinquenta por cento é muito reduzido. Do contrário, ele está em perfeita saúde e...
Ele continua, dizendo-me sobre coisas que eu já ouvi centenas de vezes e, francamente, não me preocupam. Eu me levanto, recolho os meus pertences e murmuro um pedido de desculpas ao Dr. Rubens, com a extrema necessidade de sair daquela sala o mais rápido possível.
Se eu não tivesse visto uma faísca de reconhecimento em seus olhos hoje de manhã, nenhuma dessas expectativas que eu criei existiriam. Eu podia jurar que notei algum tipo de diferença em seu comportamento.
Quero chorar, mas meu corpo está muito consumido pelas palavras que acabara de ouvir. Eu nem sequer tenho energia suficiente para liberar qualquer maldita lágrima. Acho uma sala vazia e me escondo por alguns minutos, tentando me recompor. Pela centésima vez, eu me pergunto de novo se tenho ou não a energia para continuar com isso. Minha cabeça está latejando, então eu vasculho minha bolsa por algum Neosaldina, suspirando de alívio quando vejo um no fundo.
Engulo secamente – o remédio, minhas lágrimas que não caíram, meus sentimentos e meu coração – e faço meu caminho para o refeitório. Eu posso ver através do vidro ligeiramente matizado todas as pessoas jantando. A maioria tem visitantes e parecem estar realmente se divertindo. Eu me aproximo mais e o vejo, sentado ali sozinho. Meu coração dói, enquanto vejo-o olhar ao redor para todos os outros. Posso dizer que a sua mente está zumbindo, tentando entender isso. Tentando tão forte, como ele sempre foi.
Eu quero correr até lá, abraça-lo e beija-lo. As advertências dos médicos que se danem. Quero dizer-lhe tudo de uma vez. Explicar-lhe o que está acontecendo e lhe dar as respostas que ele tão desesperadamente procura.
Mas, eu não vou.
Eu já fiz isso antes e sei qual é o resultado. Não foi bonito e foi uma das poucas vezes que eu o vi me atacar. Eu não o visitei um pouco depois disso. Então, nós vamos no seu ritmo, todos os dias e dançamos esta dança que eu vim aprendendo ao longo do ano passado.
Finalmente, seus olhos fazem o seu caminho para onde eu estou em pé e ele olha para mim, um breve flash de reconhecimento gira em seu rosto. Eu levanto a minha mão lentamente e aceno, desejando com todas as fibras do meu ser sentir seu corpo esmagado contra o meu.
Prendo a respiração, deixando-a escapar apenas quando Rodrigo finalmente acena de volta para mim com um sorriso em seus lábios.
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begin again
Fanfictionele se esqueceu de tudo... menos de como ela o fazia se sentir.