Epílogo III

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Agatha

Todos os dias eu acordava e sentia a mais plena e genuína felicidade. Era difícil acreditar que, depois de toda a tormenta, tudo se refez e ficou ainda melhor do que era antes. EU não queria me gabar para ninguém, mas... acho que eu poderia afirmar que eu era a mulher mais feliz do mundo.

Dizem que morar no Rio de Janeiro têm suas peculiaridades, que é o sol rotineiro que nos deixa de bom humor. Não ouso duvidar. Com certeza era o sol – que hoje brilhava todos os dias ao meu lado na cama – que me deixava com um sorriso estampado em meus lábios.

Hoje é um daqueles típicos dias em que eu acordo e passo alguns minutos encarando o teto do quarto. Minha mão procura a sua dentre os lençóis emaranhados entre nós e, sem ser exatamente uma surpresa, não a encontro. Me levanto, tomando meu tempo enquanto ainda é possível e sem conseguir esperar mais, desço as escadas da nossa casa lentamente.

Essa era minha parte favorita do dia.

- Mamãe! – Ela gritou feliz, vindo em minha direção. Sua mãozinha suja de trigo tocou a minha, puxando-me para onde ela estava com seu pai segundos antes de eu interrompe-los.

Mamãe era uma das únicas palavras que ela já sabia pronunciar corretamente. No auge dos seus 3 anos, era difícil acompanha-la. A cada dia ela aparecia falando algo novo e toda vez que eu a ouvia me chamar, sentia meu coração pulsar de dentro para fora do meu corpo. Nunca achei que isso seria possível, mas sim, era.

- Oi, bebezinha. – Afaguei seu cabelo escuro, deixando-a me levar consigo. Ela tinha o mesmo tom dos fios de seu pai. E felizmente essa não era sua única herança. Os olhos, o jeito torto de sorrir, a personalidade e até mesmo o jeito de andar.

"- Ela vai ter seus olhos, aposto. – Rodrigo me disse depois de um longo período analisando nossa filha no quarto da maternidade.

- Como você sabe? A médica me disse que só daqui uns meses pra saber ao certo. – Estávamos sussurrando tão baixo para não a acordar que não sei como ele conseguiu me ouvir. Talvez porque nossa distância era quase nula.

Ela havia nascido há praticamente 30 horas e ele não conseguia tirar os olhos dela. Não o julgo. Eu mesma não conseguia parar de admira-la. Pensar no quanto lutamos para chegar até esse dia, até formarmos uma família, fazia tudo ter um outro significado.

- Eu acho que só sei, sabe? – Ele desviou os olhos dela – pelo o que parecia ser a primeira vez! – e sorriu para mim. – Acho que eu não te contei, mas eu lembro de sonhar com uma garotinha na clínica. Não me pergunte como eu sei disso, mas eu consigo lembrar de alguns sonhos. Eu acho que era ela. – Ele voltou a encara-la. – Só pode ter sido ela, Agatha."

- Papai ieu itamu fazenu trigu. – Ela voltou a se acomodar na cadeira da mesa da cozinha, concentrando-se na atividade que Rodrigo deve ter inventado. De novo.

- Fazendo trigo? – Eu dei a volta na mesa e fui na direção do meu marido, debruçado sobre ela. Depositei minhas mãos em seu quadril, beijando-lhe o pescoço. Ele estava em seu momento herói, nada mais sexy do que isso. – Alguém aqui pode me explicar direito o que é isso ou eu posso entrar em desespero pela minha cozinha?

Assim que soubemos da minha gravidez, a incessante procura por uma casa decente começou. Eu, Rodrigo e nossas mães visitamos tantas residências que eu já estava à ponto de desistir. Além das nossas vidas terem virado de ponta cabeça com a notícia, a recente recuperação dele e minha falta de comprometimento com a cafeteria deixou tudo ainda mais emocionante. Quando a corretora nos informou sobre essa, quisemos compra-la sem nem ao menos vê-la. Nos apaixonamos pelas fotos e quando abrimos a porta, sabíamos que seria ali que nossa menina iria crescer. Com novas memórias para ela e principalmente, para nós dois.

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