There's so much they hold

585 52 23
                                    

Agatha

Termino de atender a grande fila dos clientes e respiro fundo antes de vasculhar o local. Eu não o vejo em nenhum canto. Entro em pânico quando eu acho que perdi a minha oportunidade e ele saiu antes que eu tivesse uma chance de realmente falar com ele, de estar perto dele. Minha respiração acelera e meu peito aperta, as dores do medo e da solidão se espalham por mim. Eu debato comigo mesma sobre correr para fora e ver se eu ainda posso encontra-lo andando pela calçada ou deixo passar, quando Yanna se aproxima, agarrando minha mão.

- Está tudo bem, Agatha. – ela tenta me tranquilizar com um sorriso recheado de carinho.

- Não, não está! – eu digo em um sussurro, balançando a cabeça lentamente e deixando a histeria tomar conta de mim. – Não está tudo bem e isso não vai ficar bem, Ya, você sabe.

Yanna me puxa em um abraço quente, passando a mão em círculos lentos na parte inferior das minhas costas, acalmando-me da melhor forma possível.

- Ele está na parte de trás, com as fotografias. – ela me conta e me me permito soltar a respiração que estava segurando. Entregando-me uma caneca de chá, Yanna desamarra meu avental e me empurra detrás do balcão. – Vá!

Eu me seguro para não correr porque não quero que ele me veja avermelhada, com os olhos assustados. Firmo-me contra uma parede e tomo um gole do chá, suspirando ao sentir o cheiro de camomila. Uns goles e algumas respirações profundas depois, eu estou calma o suficiente para ir. Passo a mão pelo meu cabelo e ando devagar, parando quando eu vejo o que ele está fazendo.

Rodrigo está em pé na parede de fotografias que ele mesmo tirou e está olhando fixamente para a da praia. Meus dedos coçam, apenas querendo chegar e lhe tocar para que ele possa ver quem eu sou. Mas eu não posso. Em vez disso, espero meu tempo, olhando para ele absorvendo tudo, curiosa para ver se alguma coisa lhe agita.

Um lampejo de esperança ocorre quando eu o vejo fechar os olhos, um sorriso se espalhando por todo o rosto, mas é logo substituído por um olhar ansioso, inquieto. Isso não combinava com ele. Eu ando em silêncio até que eu estou bem atrás dele. Suprimindo a necessidade de senti-lo em meus braços, eu coloco a mão em seu ombro.

- Este é o meu favorito. – eu disse, minha voz saindo ligeiramente acima de um sussurro.

Se ele soubesse porque é o meu favorito.

- É lindo... – ele responde e eu aceno com a cabeça, mesmo que ele não possa me ver.

- Aceita mais uma bebida? – eu pergunto enquanto entro em sua linha de visão. Eu ergo minha caneca na oferta amigável, esperando que ele aceite.

Ele gagueja por um segundo antes de concordar.

- Por favor.

Eu o sigo para a mesa em que ele estava sentado e deslizo na cadeira em frente a ele.

- Quem é o artista? – ele pergunta acanhado, apontando para as fotografias.

Eu não hesito antes de responder. Já estava costumada com aquela pergunta o suficiente para saber que a minha falta de tato com a mentira não era mais um problema àquela altura.

- Eu mesma. – sorrio e tomo mais um gole do meu chá, sem tirar os meus olhos do dele. Ele sorri ainda mais, tomando um pouco da bebida também antes de me responder.

- Eu sabia que eles eram lindos por uma razão.

Eu derreto com as suas palavras. O flerte natural dele subindo à superfície. É incrível como as coisas são inatas dentro de nós. Eles parecem nunca desaparecer. Eu agarro a caneca que estou segurando apertadamente e desvio os olhos, sem saber se eu posso manter isso se estiver presa sob seu olhar.

- Obrigada. - eu sussurro, tendo quase certeza que ele pôde me ouvir.

Eu tomo o último gole do meu chá antes de colocar o copo para baixo.

Conversamos um pouco mais, fácil e sem esforço. Sua voz me alegra ao mesmo tempo em que faz meu coração apertar. Durante uma pausa na conversa, encontro-me brincando com o aro da caneca, traçando círculos em torno dela com meu dedo.

Eu posso sentir o calor do seu olhar e olho para cima, captando Rodrigo olhando para meu dedo anelar. Meu coração imediatamente cai no estômago. Ele percebe que foi pego olhando e seu rosto queima com vergonha, não o impedindo de fazer uma pergunta.

- Você é, hum... casada?

Eu luto internamente com as lágrimas que picam nos cantos dos meus olhos quando respondo.

- Sim. – eu não continuo e ele também não me pergunta mais. Em vez disso, seus olhos pousam em a sua própria mão, nua.

- Oh... – diz ele, com uma mistura de tristeza e estranho alívio em seu rosto. – Eu não sou.

begin againOnde histórias criam vida. Descubra agora