Epílogo II

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Rodrigo

Era difícil dizer com exatidão o que estava acontecendo. Eu estava em um quarto de hospital, talvez de uma enfermaria ou clínica, isso era nítido. Agatha estava ao meu lado, chorando copiosamente enquanto segurava minha mão, seu rosto avermelhado colado ao meu, fazendo-me sentir suas lágrimas escorrendo entre nossas bochechas.

O que havia acontecido para eu estar aqui?

Meu cérebro tinha a resposta, mas eu simplesmente não conseguia encaixar as peças. Lembrava-me de ter ouvido barulhos muito altos antes de perder a consciência. Estrondos ao longe que me assustaram. Eu havia sofrido um acidente, mas isso não era tão nítido quanto saber onde eu estava.

Não, algo não estava certo. Eu não conseguia me lembrar de muita coisa. A única certeza que eu tinha era que eu estava vivo, com a mulher que eu amo junto a mim.

- Agatha? – Eu pergunto mais uma vez, delicadamente. Por mais tentador e reconfortante que fosse estar ali com ela, eu precisava de algumas respostas. Minha cabeça lateja na esperança de desvendar o que havia acontecido. Eu nunca fui conhecido pela minha falta de curiosidade. – Por que eu estou aqui? Eu sofri um acidente, não é?

- Você não se lembra disso? – Ela afastou o rosto, fitando-me melhor. Seus olhos, encharcados pelo choro, me diziam muito mais do que ela podia imaginar. Seu choro, a vermelhidão, os suspiros pesados, sua entonação. A olhando assim ainda era a mesma Agatha por quem me apaixonei, e me doí saber que sou eu quem fez isso com ela – sabe-se lá por quanto tempo.

Com medo de dizer algo que pudesse arrancar-lhe ainda mais dor, apenas assenti, esperando que ela continuasse.

- O acidente. Sim... sim. Foi isso. – Ela suspirou, erguendo os olhos para cima, encarando o teto e recuperando o fôlego. Continuou, sem olhar para mim. – Eles me orientaram a não te dar muita informação sobre tudo agora. Mas o que você precisa saber é que você... você ficou fora por quase um ano, meu amor. Se recuperou, voltou à ativa, mas você... você voltou sem se lembrar de mim. Do nosso relacionamento... do nosso casamento. Por quase um ano eu fui uma completa estranha para você, Rod. Nós nos encontrávamos praticamente todos os dias, mas você nunca, jamais, me reconheceu.

Ela limpou as lágrimas que escorriam enquanto ela falava com a barra da manga longa de sua blusa. E mais uma vez me doeu por dentro vê-la assim, tão frágil. E o pior de tudo, sem eu poder sair dali para abraçá-la. Sem eu conseguir compreender tudo aquilo que estava acontecendo tão rapidamente.

- Permanecemos aqui, eu, o pessoal do hospital, sua família, principalmente seus irmãos e sua mãe.

Conforme ela citava minha família, eu me dei conta de que eu não havia sequer me lembrado deles nesse curto espaço de tempo. Sua mão afagando meu rosto me sinalizou que ela entendeu, meus olhos deveriam ter mostrado meu desespero por causa deles.

- Calma... você se lembrava deles, todos os dias. Mas nunca os questionou. Era como se, quando você dormia, esquecesse de tudo o que passou durante o dia. – E mais uma vez os suspiros pesados acompanhavam sua fala arrastada. – Para você, você estava aqui por algo relacionado à fotografia, agora nem eu me lembro mais qual desculpa nós lhe dávamos. Você nunca soube como se adaptar...

- Em lugar algum, na verdade... – Tentei amenizar seu discurso relembrando da minha falta de jeito e tática em reconhecer novos ambientes e me acostumar com as mudanças. Rimos fracamente juntos, como deveria voltar a ser. Tenho certeza de que ela se lembrou da mesma coisa que eu: nosso primeiro dia de casados.

"Aborzinho, eu te juro, eu não vou conseguir dormir aqui. Olha essa janela! Ela é enorme. Deveríamos ter escolhido outro apartamento."

"Rodrigo Simas! Você é um bebezinho da mamãe ainda, né? Quer que eu ligue para a Ana? Ela vai adorar saber que o filhinho está com problemas para dormir com saudade de casa!"

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