Rodrigo
– Me desculpe... — Agatha responde com um sorriso constrangido. — Eu estava perdida em uma memória.
Acho que ela percebe que eu estava prestes a perguntar-lhe algo para chamar sua atenção enquanto se vira para mim, antecipando meus pensamentos. Observei as maçãs do seu rosto, o brilho que seus lábios carnudos tinham, as pintas fracas ao longo do seu nariz bem delineado. Tentei memorizar nos poucos segundos que eu tinha, o rosto mais lindo que eu já havia colocado meus olhos. Implorei para que eu nunca me esquecesse dele.
– Eu estava pensando se você gostaria de ir para o meu quarto. — eu pergunto rapidamente e depois percebo o quão presunçoso isso parece.
Agatha olha para mim com cautela, como se estivesse pesando suas opções.
– Não! — eu me apresso a esclarecer. — Eu não queria dizer isso assim. Eu... uh... Eu só quero dizer. Eu não sei. Talvez você gostaria de assistir um filme ou algo assim?
Um sorriso aparece no rosto angelical da mulher à minha frente, e os nós que se formaram no meu estômago afrouxam. Ela acena com a cabeça e limpa algumas migalhas da sobremesa, impedindo-as que caíssem em seu colo.
– Eu realmente gostaria disso.
O calor que se acumula no meu estômago só é interrompido pelos nervos serpenteando através de mim com o pensamento de Agatha no meu quarto. Na minha pressa de me levantar, eu bato na minha xícara de café e o líquido respinga sobre a mesa, alcançando a camiseta dela.
– Oh, merda. Eu sinto muito.
Mas Agatha já está acenando sem se importar, puxando alguns guardanapos do objeto posto sobre a mesa e tentando limpar sua roupa.
– Está tudo bem, Rodrigo. Realmente, está. Eu acabo derramando café sobre mim no trabalho o dia todo.
Ela realmente parece bem com isso, mas eu ainda não consigo deixar de me sentir horrível enquanto assisto o líquido marrom claro se recusando a sair. Eu ainda estou me xingando mentalmente quando chegamos no meu quarto. Imediatamente vou para o meu armário e retiro uma das minhas camisetas limpas guardadas na gaveta.
– Aqui, por favor. — eu digo enquanto entrego-lhe o tecido. — Eu insisto.
Nossos dedos pincelam enquanto ela pega a camiseta de mim e me pergunto se seria estranho deixá-los permanecer um pouco mais. Quando sinto o dedo mindinho de Agatha esfregar contra o meu, eu decido que ela está bem com isso, mesmo que seja potencialmente embaraçoso para ela vestir minhas roupas, quando nós apenas nos conhecemos hoje.
Eu vejo como ela levanta a camisa para verificá-la, e eu juro que ela a leva ao rosto para cheirar. Não posso deixar de sorrir ao ver isso.
– Há um banheiro à direita depois... — eu começo a apontar onde é, mas Agatha está a dois passos à frente de mim, e tudo que eu vejo é a porta sendo fechada.
Enquanto ela está lá se trocando, eu ando ao redor da sala, nervoso. Agatha parece quase estranhamente calma, o que deve me acalmar, mas eu não posso evitar me sentir assim. Faço uma segunda verificação no local para ver se alguma roupa suja não está em um canto visível ou alguma coisa fora do lugar, mas o quarto se parece com o meu espaço arrumado e chato de sempre.
Eu fico pálido com o pensamento.
E se Agatha pensa que eu sou muito chato? Eu não lhe dei muita informação sobre mim mesmo durante o café, mas que não pareceu detê-la. Para ser honesto, mesmo se ela não tivesse passado a maior parte do tempo falando sobre seu trabalho e interesses, ainda estaria intrigado sobre ela. Com o canto do meu olho, eu espio meu caderno vermelho e meu subconsciente grita dentro de mim para eu escrever algo, com medo de que eu vá me esquecer. Eu pego uma caneta e anoto algumas frases a esmo antes de ouvir um clique da porta. Sem me preocupar em reler o que escrevi, eu lanço o caderno sobre a mesa antes de me virar.