To do some navigating

618 60 13
                                    

Agatha
Flashbacks

– Olá?

"Senhora Simas?"

– Sim? Ela mesma.

"Aqui é do Hospital Municipal Albert Schweitzer, no Rio de Janeiro. Temos você como o contato de emergência para Rodrigo Simas. Houve um acidente de carro em que ele estava envolvido e ele foi encaminhado para a nossa emergência . Agradeceríamos se você pudesse vir o mais rápido possível para que seu médico possa falar com você."

...

"Senhora?"

– Eu...

"Senhora? Você tem alguém que possa conduzi-la até aqui?"

– Não. O que? Eu posso... Eu posso ir. E-eu estou saindo agora.

"Fale com as enfermeiras no Pronto-Socorro. Elas serão capazes de direcioná-la para onde você precisa ir."

* * *

– Então, ele está bem? Ele vai ficar, quero dizer?

Eu abracei a mim mesma com a resposta do médico. Ninguém era capaz de me dar uma resposta direta e isso estava começando a me irritar de tal forma, que nem o desespero que eu senti ao ouvir o nome dele no telefone era capaz de supera-lá. Se ele fosse ficar bem, eles teriam me dito até agora. Por que não estão dizendo nada?

Eu me forço a olhar para Rodrigo. Não é ele. Esse não é o homem com quem casei, deitado naquela cama, ligado a centenas de fios, com profundos hematomas escuros cobrindo seu corpo. Meu marido não tem uma bandagem manchada de sangue cobrindo sua cabeça. Meu marido não tem uma perna quebrada ou o braço ligado em algum tipo de tipóia.

Meu marido tem olhos castanho claro brilhantes e me chama de "coisa mar linda". Ele tira centenas de fotos de mim, em diferentes ângulos e cores, apenas porque quer. Meu marido é capaz de apertar minha mão quando eu aperto a dele.

– Ele... ele vai recuperar a total função motora, Sra. Simas.

– Huh?

Fui quebrada fora de meus pensamentos pelo homem em um jaleco branco, que estava ao pé da cama. Eu nem sequer me preocupei de lembrar seu nome. Vai ser alguma outra pessoa amanhã, então por que me preocupar? Os únicos que eu conheço são os enfermeiros. O punhado de homens e mulheres doces que revezavam completamente em uma base diária para cuidarem de Rodrigo. Mas eles não poderiam me dar alguma resposta.

– Então, seu corpo vai se recuperar? — pergunto, certificando-me que entendi corretamente.

– Sim.

Superficialmente, apenas essa palavra parece ser uma das respostas favoritas da maioria dos médicos. Por que eles não elaboravam uma frase sequer comigo, é um mistério. Eu sinto que há algo faltando, e eu desejo que alguém simplesmente me diga.

– Então, quando ele vai acordar?

As perguntas travavam entre nós, o silêncio era mais do que apenas desconfortável. É absolutamente deprimente. Eu posso sentir o peso desse silêncio pressionando contra o meu peito, mais e mais pesado a cada segundo que passa. O médico folheia o gráfico em suas mãos e pigarreia.

– Na verdade, temos um neurologista vindo visita-lo mais tarde hoje. Ele vai ser capaz de explicar as coisas melhor.

E então, ele se foi, não me dando nenhuma esperança de que Rodrigo fosse acordar tão cedo.

begin againOnde histórias criam vida. Descubra agora