Visita

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Já fazem quase 6 anos que não falo com Isabel. Eu nunca mais a vi ou soube nada sobre ela. Há anos eu havia perdido contato com os colegas do curso de Biologia, e com os parentes dela que ainda moravam na cidade. Ela havia me bloqueado ou mudado o número do telefone há muito tempo e não tinha nenhum perfil nas redes sociais. Toda notícia que eu consegui dela, foi pesquisando o web site do parque onde ela trabalhava e do qual havia se tornado diretora.

Nos últimos anos, eu me tornei um outro homem. Aqueles sentimentos passionais e avassaladores que eu tinha no passado não existiam mais. Eu não procurava mais uma paixão que me fizesse perder os sentidos, como a que eu senti por Isabel durante anos. Eu não esperava uma reconciliação, nem mesmo o perdão de Isabel. Mas eu precisava vê-la.

Eu tirei alguns dias de folga no escritório e me preparei para a viagem: Eu reencontraria Isabel.

Já era noite quando cheguei à cidade. Foram 3 horas de voo e mais uma hora e meia de carro até chegar ao hotel mais próximo do parque. Eu não sabia onde Isa morava, mas sei que eu a teria encontrado se saísse procurando. Mas eu estava cansado demais da viagem, preferi ir direto para o hotel.

Eu me surpreendi com a cidade. Quando Isa se mudou, ela sempre dizia que era um lugar pequeno e simples, mais afastado da cidade e sem infraestrutura. Também me lembrei que, anos mais tarde ela reclamou da especulação imobiliária e de como era difícil controlar os avanços e minimizar os impactos à natureza. Agora eu compreendia.

De um lugarejo humilde, no meio do nada, encontrei uma charmosa cidadezinha, repleta de condomínios de luxo, restaurantes e lojinhas charmosas e um hotel muito confortável, onde eu me hospedei. Não era um lugar onde eu me recusaria a morar, se fosse necessário.

Eu acordei cedo na manhã seguinte, pois estava ansioso para rever Isa. Eu me arrumei e desci para o café da manhã, depois fui à recepção do hotel, pedir informações sobre as visitas ao parque. Eles me disseram que havia um ônibus que partiria do hotel dali há 40 minutos e que eu deveria pagar uma taxa na portaria, que me daria acesso a toda área do parque aberta ao público. Resolvi não esperar pelo ônibus e fui de carro mesmo.

Assim que eu entrei no parque, fui procurar por Isabel. Fui direto na administração, mas ninguém soube me informar onde ela estaria. Segundo os funcionários, apesar de ser a diretora, dificilmente Isabel seria encontrada na administração e poderia estar em qualquer lugar do parque.

Então eu me juntei a um grupo de turistas para um passeio guiado pelo parque. O lugar era lindo, eu fiquei encantado e entendi o porquê de Isabel nunca ter pensado em voltar para a nossa cidade. Diante daquela beleza paradisíaca, cercada de matas, rios e praias, nossa cidade parecia muito cinza.

Depois de uma longa caminhada na parte da manhã, fomos até o restaurante do parque para almoçarmos. O lugar era pequeno e aconchegante, mas eu não estava com fome, então pedi um sorvete e me sentei em uma mesa separado do restante do grupo. O tempo todo eu ficava olhando ao redor e pela janela, para ver se encontrava isabel, já que os funcionários haviam me dito que ela poderia estar em qualquer lugar.

Eu estava distraído, terminando meu sorvete, quando ouvi vozes de crianças entrando no restaurante. Eu me virei-me para onde vinha as vozes e vi um menino e uma menina, correrem empolgados pelo pequeno salão, gritando para a moça do outro lado do galpão:

—Ei tia, nós vamos almoçar aqui hoje! A mamãe deixou a gente comer musse de chocolate! Tem musse de chocolate?

—É claros meus amores! Venham aqui para dentro que eu vou pegar seu prato.

As crianças entraram alegres para a cozinha, e eu me peguei sorrindo, encantado pela empolgação delas.

Eu já ia me virar de volta, para olhar a janela, quando aquela que eu esperava ver entrou pela porta do restaurante.

Eu era um homem diferente daquele que esteve com Isabel anos antes, eu não esperava reagir apaixonadamente à presença dela, não era o meu objetivo, mas vê-la depois de tantos anos, foi muito forte. Ela ainda mexia comigo de uma maneira poderosa. Meu impulso era correr até ela, abraçá-la, mantê-la em meus braços e beijá-la muito. Mas eu não era mais esse homem impulsivo.

Eu olhei para ela, que ainda era linda. Seus cabelos estavam presos em um rabo de cavalo alto, meio bagunçado. Ela usava uma camiseta verde e uma calça legging preta. Isabel entrou e sorriu para a moça do restaurante, foi até o balcão e começou a conversar com ela.

Eu fiquei nervoso, queria ir até ela, mas não sabia como chegar, nem o que dizer. Ignorei o nervosismo e me levante, caminhei até Isabel, que estava distraída conversando, de costas para mim. Meu coração estava disparado. Parei às suas costas, respirei fundo e chamei baixinho:

—Isabel?

Eu não sei se ela reconheceu a minha voz, ou se não fazia ideia de que eu ali, mas quando ela se virou e seus olhos encontraram os meus, choque era a única coisa que eu conseguia ler neles.

—Oi isa, você ainda se lembra de mim?

—Carlos? O que você está fazendo aqui? —Ela falou, parecendo assustada.

—Eu vim te ver.

Nesse momento, as duas crianças que eu tinha visto mais cedo, aparecem correndo do outro lado do balcão, gritando empolgados:

—Mamãe, podemos tomar sorvete e musse de chocolate?

Imediatamente, Isabel deixou de prestar atenção em mim e virou-se para aquelas crianças.

—De jeito nenhum! Eu já estou deixando vocês comerem sobremesa em dia de semana! Vocês podem escolher sorvete ou musse de chocolate. Os dois não!

Agora, era eu quem estava em choque.

—Eles são seus filhos? Você se casou?

Ela então se lembrou de que eu estava ali, parecia sem graça.

—Sim, são meus filhos. Desculpa Carlos, preciso ir atrás deles. Foi bom te ver. Tchau. — E entrou na cozinha do restaurante.

Amor, em primeira pessoaOnde histórias criam vida. Descubra agora