Capítulo 30 (Especial David)

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-David Scott

    Não posso acreditar!
Após o desmaio, chamei um médico para avaliar a saúde de Alicia. O diagnóstico literalmente acabou comigo.
    Minha cabeça está a mil. Estou dando voltas em minha aflição.
Um filho. Perder um filho!
Com minha arrogância e meu orgulho, consegui matar algo que nem sabia que existia. Um fruto da noite mais inesquecível da minha vida, um filho. Não consigo mais olhar para ela sem me sentir culpado.
Quando ela acorda, sem se lembrar da nossa discussão que a fez desmaiar e sofrer um aborto, travo e não consigo contar nada do que aconteceu.
O médico aconselhou a mantê-la tranquila por enquanto, até que se sinta mais forte. Mas a verdade é que não posso contar a ela o que aconteceu, principalmente sobre a perda de alguém que ela certamente nem sabia que existia.
Talvez livra-lá dessa dor seja uma forma de me redimir por tudo. Não vou prendê-la mais aqui. Não posso conviver com a angústia de continuar fazendo ela sofrer. Tudo que eu puder fazer para que ela consiga ser feliz, eu farei. Por isso, levarei para o túmulo esse segredo e sofrerei com ele sozinho pelo resto da minha vida.
    Estou sozinho, novamente, com ela no quarto. Ela dorme profundamente.

_ Eu sinto muito._ sussurro perto de seu rosto, deixando as lágrimas invadirem meu rosto._ Eu te amo, Alicia._ falo me despedindo e saio do quarto.

    Quando perdi minha mãe tinha 5 anos. Era meu grande amor, sempre atenciosa e carinhosa comigo. Ela teve um parto difícil com meu irmão e não suportou.
Meu pai precisou contratar uma governanta que ficasse por conta de Eric, pois era um bebe. Foi aí que Rosana Wilson apareceu em nossas vidas. Ela trabalhava de enfermeira no hospital, acompanhou o parto de Eric e também o tempo em que permaneceu na incubadora. Meu pai lhe ofereceu um salário alto para que fosse morar conosco e tomasse conta de meu irmão até que crescesse.
Sempre ausente, meu pai tornou-se ainda mais arrogante após a morte de mamãe. Não comemorava nossos aniversários e não se importava com nossa vida pessoal, mas era extremamente rígido quanto a nossa "educação".
Sempre estive presente para ajudar a cuidar de Eric. Com o passar dos anos, ele foi crescendo e se tornando meu espelho.
Ele estava sempre atrás de mim. A Sra. Wilson tornou-se uma segunda mãe, cuidou dele em todos os momentos e o criou devidamente bem. Eric instintivamente a chamava de mãe.
Tenho certeza que minha mãe, onde estiver, é muito grata.
Com o falecimento de mamãe e o nascimento de Eric , precisei adquirir responsabilidade muito cedo e dar um bom exemplo para meu irmão.
Meu pai sempre foi muito exigente comigo e me punia sempre que o contrariava, mas era diferente com Eric. A verdade é que ele culpava meu irmão pela morte de minha mãe e, por isso, era inexpressivo com ele. Por um momento achei que isso fosse bom, a indiferença, pois comigo ele só demonstrava arrogância e violência. Mas com o passar do tempo, em momentos de brigas entre mim e meu irmão, percebi o quanto ele sofria ainda mais com a indiferença.
Com as responsabilidades, eu acabava não fazendo muitas amizades e nem saía muito de casa. Eric, pelo contrário, sempre foi muito brincalhão e alegre. Conseguiu aproveitar mais da sua infância e adolescência. Apesar de me ter como seu espelho, não se privava de suas travessuras.
No colegial, ele fez muitos amigos e estava sempre com eles. Meu pai não costumava cobra-lo muito. Na verdade, quase não falava com ele.
Quando Eric cometia alguma travessura, eu sempre assumia a culpa. Tinha medo de que meu pai pudesse machuca-lo. Durante toda a infância consegui driblar os momentos de fúrias do Sr. Scott ao meu irmão, com a ajuda da nossa governanta claro.

Memórias....

_ Moleque irresponsável._ John esbraveja, segurando meu braço e me levando para o andar de cima da mansão. Vejo a Sra. Wilson segurar Eric no colo, enquanto sou arrastado por meu pai pelas escadas. Ela chora muito e Eric também.

_ Desculpe, papai._ falo desesperado e em prantos._ Isso nunca mais vai se repetir. Eu te prometo._ falo. Meus braços doíam com a força de sua mão e meu coração estava disparado.

_ E não irá mesmo!_ diz abrindo a porta do meu quarto e me jogando no chão. Distribui socos em meu rosto e abdome por vários minutos. Sinto o sangue escorrer da minha boca e minha barriga doer muito._ Isso é para aprender a virar homem... NÃO CHORE! ISSO É COISA DE MULHERZINHA._ vocifera. Me levanta bruscamente e agarra meu rosto, apontando o dedo em minha cara._ É UM FRACO! COMO SUA MÃE._ conclui. Ele me atira sobre o chão novamente e sai, batendo a porta do quarto.

    Apanhei muito do meu pai, principalmente depois que minha mãe partiu. Mas quando o vi bater em meu irmão pela primeira vez, quando ele tinha 12 anos, passei a odiá-lo como nunca. Intrometi no meio e o agredi. Eu tinha 17 anos, mas era forte.  A Sra. Wilson tentou em diversos momentos intervir, mas meu pai sempre a ameaçava. Dizia que ela nos criava fracos. Eu o bati tanto que ele não conseguia reagir. Os seguranças do meu pai tiveram que me afastar dele, pois estive a ponto de arranca-lo a vida. Olhava para Eric sangrando aos prantos e sentia o ódio me dominar. Daquele dia em diante, meu pai nunca mais tocou nele.

Meu ímpeto: Prazer (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora