24. Instinto maternal

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Gardner apareceu no horário combinado, mas não contava que ela viria acompanhada com o pior dos piores.

- Desde quando o hospital permite entrada de animais?

- É melhor você ficar na sua, Kaiba. Não quero que a Luka veja o namorado dela hospitalizado. – pode dizer o que quiser, mas Wheeler sempre latirá mais do que qualquer cão que eu já vi na vida.

- Isso sequer chega perto de uma ameaça. Não sei que horas vou voltar, mas muito provavelmente Mokuba venha primeiro que eu. Quero que me avisem sobre qualquer coisa que acontecer. O celular da Luka está na gaveta, podem enviar mensagens por ele.

Saí do quarto preocupado de toda forma. Não que eu não confiasse naqueles dois para cuidarem da minha namorada na minha ausência, pois pelo menos para isso eles tinham competência, mas às vezes me pegava pensando na visão que tive com aquela garota morta nos meus braços e no que a louca da Ishizu me disse ontem. Sacudi a cabeça em negativa, recusando com todas as minhas forças que isso poderia ser verdade. Os médicos descobririam o que estava acontecendo em breve e, enfim, Luka estaria curada.

Ignorando os cumprimentos das recepcionistas, fui até a sala de reuniões, onde já estavam me aguardando, como esperado. No entanto, os surpreendi enquanto falavam sobre meu relacionamento com a nova estagiária da empresa. Para sorte do emprego deles, não falavam nada de mal.

- Senhor Kaiba, não o esperávamos tão cedo.

- A reunião está marcada para as sete e meia. Por acaso queriam que eu chegasse ao meio-dia? Bem, vamos ver esses desastres que vocês chamam de ideias.

Uma reunião que estava prevista para durar uma hora e meia se transformou em três horas e meia, tudo devido à incompetência de conseguirem ideias decentes. Eu poderia ditar o que faríamos, mas eles tinham que fazer jus ao salário que recebiam. Enquanto escutava os absurdos dos meus chefes de departamentos, recebi a mensagem de que Luka havia saído do quarto para começar com os exames. Bem que eu queria acabar com tudo isso e voltar para o hospital, mas tinha que ser racional nesse momento. Voltei para minha sala, me concentrando na papelada diária e telefonemas de costume.

- Entre.

Alguém bate e entra. Era Mokuba, com uma sacola nas mãos.

- Eu desconfiava que você estaria aqui, Seto. Tome, deve estar precisando disso.

Não era a primeira vez que pulava o horário de almoço afundado em trabalho e se não fosse pelo meu irmãozinho nessas horas eu com certeza deixaria de fazer praticamente todas as refeições, principalmente com a preocupação de ter minha namorada hospitalizada. Continuei meus afazeres, alternados com um gole de café e um croissant.

Meu celular toca por um instante.

- Luka está bem?

- Estou bem, Seto. – Era realmente Luka falando comigo – Só estou ligando para saber se você se lembrou de almoçar.

- Claro que sim, não se preocupe.

- É o som de uma sacola que estou ouvindo? – fiquei em silêncio e ela continuou, como se fosse uma mãe – Mentindo para mim? Você vai adoecer se ficar deixando de se alimentar desse jeito. Trate de compensar essa perda jantando bem, entendeu?

- Sim, mamãe.

Ouvir seu riso em uma hora dessas fazia toda a tensão se desfazer de mim.

- O cão ainda está no seu quarto?

- Cão? Do que está... Você não tem jeito mesmo. Joey foi até a lanchonete do hospital, só a Téa está aqui comigo.

- E o exame?

- Disseram que o resultado pode ficar pronto entre hoje à tarde e amanhã. Não sei o que fizeram porque recebi anestesia geral. Não vou te atrapalhar mais, bom trabalho, Seto. Eu te amo.

- Também te amo, Luka.

- Não se esqueça de jantar.

- Não vou, prometo.

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A primeira coisa que fiz quando cheguei ao hospital foi saber do resultado do exame. Os médicos disseram não haver alterações e prosseguiriam para saber o que realmente estava acontecendo. Cheguei ao quarto dela e só havia Mokuba fazendo seus deveres da escola com a ajuda de Luka, que estava terminando de jantar. Só então me lembrei que prometi não me esquecer desta refeição, mas era tarde demais.

- Seto... – ela fez sinal com o indicador para que eu me aproximasse.

- O que houve?

Assim que cheguei mais perto, seu garfo para no ar à minha frente.

- Abre a boca. – continuei estático, alternando olhares entre o talher e minha namorada, que continuou – Vamos, sei que veio direto da empresa para cá.

- Como você...

Luka não me deixou continuar, apenas aproveitou a deixa para me fazer engolir a porção preparada para mim.

- Eu sei pelo horário que você sai da empresa e o tempo que leva para chegar de lá até aqui. Se você tivesse jantado teria demorado mais. Agora não reclame e abra a boca.

- Pode acabar de jantar, Luka. Não sou feito de porcelana, sabia?

- Olha o aviãozinho...

Mokuba parou seu dever para rir da situação e não resisti olhar para ela com os olhos semicerrados. Minha expressão foi retribuída com uma resposta que seria típica minha:

- Se não jantar agora nosso namoro termina aqui.

- Só eu posso usar de discursos baixos como esse.

- Acho que estou andando muito com você, Seto.

- Nunca pensei que fosse sentir o gosto do meu próprio veneno...

- Sempre tem uma primeira vez para tudo. Agora vamos, essa comida não vai desaparecer do prato sozinha.

Seto Kaiba POV – OFF

Querido Olhos AzuisOnde histórias criam vida. Descubra agora