Ultraviolence

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Ele fechou os olhos por meio segundo e tornou a abri-los novamente. Talvez, apenas talvez ele pensou se piscasse com muita força até ver pequenos pontos brilhantes á sua frente tudo não passaria de um sonho tolo. Então inspirou profundamente como se todo o ar fugisse de seus pulmões. Foi nesse momento que o cheiro nauseabundo invadiu sua narina. No começo era como uma pequena coceira imperceptível, mas agora não tinha como negar o que estava presente. Ele tentou não se importar, mas seu estomago revirou e reclamou. Tentou prender o vomito no fundo da garganta. O cheiro era bom, não podia se ruim, não podia se desfazer dele. Ele era parte dela, e ela era parte dele. E era assim que as coisas deveriam ser. Até o fim.

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A mão de Rey coçava muito enquanto ele prendia Cherry contra a parede do quarto de motel em que estavam hospedados. Ele tinha cansado de se comportar, de ser bonzinho e de ser um bunda mole. O que bundas moles ganham? Gratidão não enche barriga e nem preenche nenhum vazio. E aquela mulher não tinha um pingo de gratidão. Ele tinha tentado, Deus como tinha tentado. Ser um cara legal, ele dizia para si mesmo dia após dias, não foda tudo como você fez das ultimas vezes Rey, seja um cara legal, seja um cara bacana não custa nada ser bonzinho de vez em quando. Não estrague tudo dessa vez, você acabou de sair da prisão, depois de dez malditos anos e com toda a certeza não quer voltar para aquele inferno tão cedo. Na realidade não quer nunca mais voltar para lá. Sim ela é uma stripper, isso é sabido. Mas nem isso é um motivo para fazer nenhuma merda contra ela. Rey continuou entoando esse mantra para consigo mesmo dia após dia. Todas as vezes que ela se esfregava contra ele de forma lasciva, quando o deixava em ponto de bala, e na hora H pulava para trás. Ele era um otário completo e tinha plena consciência disso, agora tudo estava tão claro quando a água.

Ela pediu ajuda, ele resolveu ajudar de bom grado sem esperar (quase) nada em troca, ela era jovem, bonita e cheia de vida. Ele não queria machucar uma coisinha assim tão preciosa. Tudo o que queria era que ela gostasse dele, não precisava ser muito, apenas um pouquinho. Rey sabia que não era um cara mal apessoado, ele estava maltratado pelos anos que passou preso, mas nem por isso tinha perdido seu charme, sabia que muitas mulheres não iriam negligenciá-lo. O problema é que ele não queria outras mulheres, ele queria apenas aquela.

Abandonou todo e qualquer resquício de juízo que ainda tinha dentro de si e topou fugir com ela, afinal de contas não tinha nada a perder. Quando ela docilmente pediu que ele a levasse até a mansão de um desconhecido ele obedientemente cedeu sem reclamar, e o pior de tudo foi que ele tinha levado ela para trepar com um velho rico. Com um velho rico para ela tudo bem, com o pobre Rey ela nem queria chegar perto, e Rey foi engolindo e aceitando tudo de bico calado sem reclamar, sem questionar. Tudo o que ele queria era apenas um pouco de empataria, não era pedir muito, ele estava fazendo tudo por aquela maldita garota, ele tinha revogado seu direito de ser um homem livre e virado o escravo pessoal dela e motorista. Ignorando o fato que estava de condicional e a qualquer momento poderia ser jogado novamente para mofar na prisão, ele foi e a ajudou a roubar a merda de um banco, e mesmo assim não viu a cor de um tostão, que ela alegava dizer que esse dinheiro não era deles, era do maldito velho Von-John. Além de roubar e arriscar o cu por aquela quantidade de dinheiro ele não podia tocar na grana e nem na garota. .Aceitando todos os tipos de desaforo daqueles lindos olhos gelados e desiguais sem dar um pio, como um bom cachorro domesticado.

Ele não era um maldito cachorrinho, ele não tinha uma dona e não tinha que obedecer a porra nenhuma. Estava cansado de ser humilhado, espezinhado e ser tratado como um nada. Isso era o que ele era para ela um merda, um grande pedaço de merda sem valor. Ele sabia que iria acabar sendo preso ou morto em uma dessas, não tinha nada a perder, e tudo a ganhar.

É incrível como a vida pode passar em uma fração de segundos diante de nossos olhos, e Rey teve magicamente todos esses pequenos lapsos de realidade enquanto raspava o bigode para fora de sua cara no espelho embaçado do banheiro pela fumaça do chuveiro misturada com o cigarro habitual que tinha colado á boca. Era uma coisa tão simples, ele precisava ser o macho alfa, não dava mais para ser um fantoche na mão daquela menina, ele precisava se impor como homem. Ele precisava ser James Rey Furnier, um homem de verdade e ele tinha os colhões para isso e precisava pela primeira vez na vida aprender a usá-los. Chega de ser manipulado, humilhado e tratado como um cachorro de sarjeta! Era hora de deixar sua besta interior falar por si só, ela precisava ouvi-lo rugir. Nem que para isso ele tivesse que exorcizar a besta interior de Cherry Pie.

PutrefyOnde histórias criam vida. Descubra agora