Capítulo 14 - O professor

10.8K 727 34
                                    

Rafael voltou do refeitório com um pudim em suas mãos e com o costumeiro sorriso no rosto, o retribui e o vi se aproximar e se sentar na cadeira que ate poucos instantes estava ocupada por João Paulo. Tudo estava confuso em minha mente e eu precisava pensar e avaliar a situação como um todo.

O Sr. Tanner adentrou a sala em sua monotonia costumeira. Sentou-se na cadeira e abriu a mochila e procurava por seu livro. Rafael se sentou em sua cadeira, então me levantei e fui em sua direção. Eu não havia notado no quão diferente ele era dos outros professores. Era alto, um metro e oitenta. Cabelos curtos e lisos, em um preto lustroso. Sua pele era alva com os olhos azuis celeste. Ele tinha uma barba recém aparada, vestia uma calça jeans e uma camisa listrada de mangas compridas, dobrada ate o ante braço e não deveria ter mais do que 26 anos de idade.

Muitos não sabiam, mas seu nome era Gutho. Gutho Tanner. Não morava muito longe da minha antiga casa, ele morava em uma casa de dois andares, branca e de janelas envidraçadas, com uma enorme arvore em seu jardim da frente. Ele não usava qualquer veiculo que use combustível então era mais do que comum vê-lo indo trabalhar na sua bicicleta vermelha de quatorze marchas. Não sabia se ele havia casado, mas sempre havia uma mulher de corpo magro e cabelos longos e loiros em um Camaro vermelho que reluzia com a luz do sol todo final de semana.

A aula de biologia ocorria normalmente, eu estava concentrado não pelo fato de ter que aprender aquele conteúdo, porque eu já o dominava – estudei durante as reformas da minha nova casa – mas pela paixão que o Sr. Tanner ensinava. Ele tinha um brilho no olhar e eu sempre o pegava me olhando as vezes, sempre com aquele largo sorriso simpático e com o brilho nos olhos.

Nunca pensei nesse assunto como agora, mas eu poderia estar enganado, já que ele me conhece de certa forma e morava perto da minha casa. Não sei se ele soube do incidente do ultimo ano, se meus pais falaram algo ou inventaram uma desculpa, mas eu tinha certeza que meu pai jamais falaria que eu sou...

Então as lembranças voltaram e meus olhos começaram a lacrimejar. Abaixei a minha cabeça,mas tive certeza que ele percebeu que algo estava errado. Uma mão toca meu ombro. Era Rafael.

- Tudo bem? – ele sussurrou.

- Estou bem. – respondi – Lembranças de...

Ele apertou meu ombro sem dizer nada por alguns instantes então ele sussurrou novamente:

- Sempre estarei aqui para você.

Senti-me confortado com aquilo e levantei meu rosto. Sr. Tanner não me olhou de imediato, mas me lançou um olhar procurando algo. Então me levantei e segui ate onde ele estava nesse sentado.

- Sr. Tanner.

- Sim – ele me olhou e esboçou um largo sorriso. – O que posso fazer por você Adam.

- Posso ir ao banheiro?

Ele deu um breve risada e por um momento me peguei perdido em seu sorriso. Então ele segurou meu ombro brevemente e disse.

- Sim, já que é o único que pede permissão para sair. Ma antes... – ele ficou serio. – Há algum problema? Quer conversar?

Fiquei vermelho.

Olhei para a mesa em silencio, brincava com os dedos em sinal de desconforto, mas olhei para ele e balancei a cabeça em sinal de negação.

Ele assentiu.

- Tudo bem então...

Ele deu novamente o mesmo sorriso e me virei saindo da sala sem pressa, caminhando pelos corredores vazios da escola. Caminhei ate o pátio externo e me sentei em um dos bancos que havia na área verde da escola. Fechei meus olhos e deixei que o sol toca-se o meu rosto. Encostei-me  no banco e a sombra da arvore cobria meu rosto. Eu estava tentando processar tudo o que poderia acontecer nos próximos dias. Era preocupante, mas talvez eu não devesse me preocupar com tudo isso.

Levantei e fui para o prédio central, peguei um dos corredores e segui para o banheiro, segui ate a pia e lavei meu rosto, peguei uma toalha de papel e enxuguei meu rosto. Sai do banheiro e segui pelos corredores quando esbarro em alguém, alguns livros caem sobre mim e minha cabeça toca o chão, algo gelado escorre pela minha cabeça enquanto eu grito um sonoro:

- Ai!

- Esta tudo bem com você Adam? – não havia como não reconhecer sua voz.

- Estou bem João Paulo. Porque não olha por onde anda?

- com uma pilha de livros na minha frente fica meio difícil você não acha não?

- Que seja!

Retruquei enquanto ele me ajudava a me sentar no chão, passei a mão na cabeça onde o impacto havia acontecido então senti algo melado. Puxei minha mão de volta para olhar o que era e havia sangue espalhado em minhas mãos. Automaticamente minha vista escurece e eu estava pronto para o segundo impacto no chão, mas João Paulo não deixou. Segurou-me contra seu corpo e me levantou nos braços.

- O que esta fazendo?

- Te levando a enfermaria, para onde mais?

- Eu posso ir sozinho. – garanti, mas minha vista estava escurecendo.

- No seu estado nada disso.

Eu revirei os olhos, mas conhecendo ele bem não adiantaria nada eu protestar. Então chegamos à enfermaria. A Srta. Agness, a médica da escola, me examinou e disse que havia sido apenas um corte e que eu levaria alguns pontos para estancar o sangramento. Após cerca de dez minutos ela havia terminado, minha cabeça estava limpa e com três pontos além de um charmoso buraco no meu cabelo e o curativo que ela havia colocado. João Paulo não saio nem por um momento da enfermaria e continuou ali sentado me observando enquanto a enfermeira me dizia:

- Vou ate sua sala, informar o que aconteceu ao seu professor. Não demoro. – ela sorriu e saio.

João Paulo se levantou e se aproximou de mim, suas mãos estavam em cima da maca enquanto ele me olhava nos olhos.

- O que ainda faz aqui?

- Prometi te proteger lembra?

Desviei o olhar, eu não queria lembrar agora. Não agora os motivos pelo quais me apaixonei por ele, pelos quais deixei minha antiga vida "normal" e quando me virei para encara-lo de novo, seus lábios encontram os meus, suas mãos seguram a minha cintura, me acariciando. Seu hálito era doce e suas mãos se moviam com destreza em meu corpo. Então por um breve momento pensei em ceder.

Em retribuir.

Então acordei daquele transe e me lembrei dos motivos que me fizeram separar dele, juntei minhas forças e o empurrei, mas ele continuava me segurando e mais forte e foi então que o puxaram. João Paulo estava no chão e Lisa nos olhava com um sorriso infantil da porta da enfermaria enquanto Rafael me olhava furioso.

De Repente Amor | Romance BLOnde histórias criam vida. Descubra agora