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Domingo.

Vazio.

Bert não voltou pra casa desde sexta-feira e já era quase noite. Isso significa que estive sozinho durante três dias. E eu não sei se isso era ruim ou bom. Eu definitivamente me sentia uma merda mas agora que descobri sobre a família de Frank não queria estragar seu domingo. Lembrei da última consulta que tive e as coisas que ele me falou e porra aquilo doía mas ao mesmo tempo eu não sentia nada. O que eu poderia fazer quando o que ele me falava parecia tão certo e o que eu sentia parecia tão errado?

"Você é especial, Gerard" "Você consegue superar tudo isso se me deixar te ajudar" "Talvez Bert não seja o marido ideal pra você mas você pode tentar de novo, certo?" "Eu tenho certeza que se você escolher pelo divórcio vai ter uma fila de caras pra você escolher"

E se eu não fosse especial pra você? E se eu precisasse de sua ajuda de uma maneira diferente? E se eu quisesse tentar de novo com você, Frank? Você vai ser um dos caras nessa tal fila?

"Por que a porra da minha paixonite pelo meu psicólogo acabou se tornando a porra de uma novela mexicana? Ele obviamente é gostoso mas não precisava adquirir sentimentos por ele seu gordo desgraçado" Eu gritei com os olhos inchados e vermelhos para meu próprio reflexo nu no espelho depois de um longo banho repleto de lágrimas vazias.

Tentei me dar conta de quando aquele desejo sexual se transformou naquela merda sentimental mas tudo aconteceu tão rápido que eu nem consegui distinguir onde eu estive a uma semana atrás de onde eu estou agora.

Eu só queria dormir e quando acordar nada fosse real. Bert e eu não casamos. Minha avó nunca esteve morta. Mikey estava ali comigo. Frank nunca me conheceu porque Bert e eu não casamos. Eu só precisava dormir e quando acordasse nada disso seria real.

Mandei uma mensagem rápida para Frank dizendo que talvez poderia me atrasar para consulta e me entreguei as pílulas vermelhas que me levariam a um lugar feliz fora daqui.

De: Gerard

Para: Psicólogo

"Frank

n espera mais por aqule cara qe vai cmg as vzs nas consultas mais eu quero ir soznho mas eu vou drmir mt agr"


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Segunda-Feira.

Decepção.

Eu acordei. Infelizmente acordei. Mas pelo menos ainda estava sozinho. Nem queria saber onde diabos o Bert tinha se metido dessa vez. A única coisa que eu precisava era chegar até o banheiro e colocar tudo do dia anterior pra fora. Meu corpo não aguentava mais tanta merda dentro de mim. Meu psicológico estava fodido pra caralho e meu corpo queria expulsar tudo de dentro de mim.

Depois de uns 15 minutos vomitando direto, me joguei ainda vestido debaixo da água que caia da ducha. Parecia cair com muita mais pressão do que de costume e tudo que consegui pensar foi em me jogar sentado no chão enquanto o vomito respingado na minha roupa descia pelo ralo. Não sei quantas vezes ou quando meu celular começou a tocar mas acabei por ouvir em uma delas e sem me importar em me secar peguei o aparelho e atendi. Nenhuma palavra saia pela minha garganta seca mas pude ouvir um suspiro aliviado do outro lado da linha quando resmunguei.

"Gerard? Gee, você consegue me escutar?" Não consegui pronunciar palavras exatas então saiu só um grunhido que poderia soar como uma aprovação "Você pode vir até o hospital? Eu posso mandar o endereço por-" Minha cabeça bateu forte na parede quando tentei ficar de pé sem me apoiar e Frank voltou a falar depois de um gemido agoniado "Eu vou ai te buscar, okay? Pelo jeito ninguém mais tem seu número ou endereço" O nervosismo na voz do psicólogo me fez tentar perguntar o que tinha acontecido, e mais uma vez minha voz falhou "Quer saber? Foda-se. Eu te explico tudo quando chegar. Só... Fica pronto que eu chego ai em menos de uma hora"

Desligou.

Me despi lentamente jogando o pijama molhado em qualquer lugar e fui nu para o quarto colocando nada além de uma boxer. Foda-se roupas. Foda-se tudo. Se meu psicólogo gostoso podia mandar tudo se foder eu mandaria o mundo se foder também. Simplesmente foda-se.

Não sei quando aconteceu de eu cair no sono mas acordei com batidas fortes na minha porta e meu celular vibrando embaixo do meu corpo quase desfalecido. Frank? Andava calmamente pelo corredor subindo uma jeans qualquer que achei jogada no chão pelas coxas e pelo tanto que estavam apertadas já sabia que era uma das que Bert usava quando ia ter uma de suas noites fora de casa.

Abri a porta enquanto fechada o botão da jeans bufando quando vi o porteiro com cara de poucos amigos do outro lado. Forcei um sorrio inclinando a cabeça como um filhotinho fofo que ele nem se preocupou em devolver. Filho da puta. Reparei que tinha alguém parado atrás dele e antes que eu pudesse ter total visão -ou até mesmo a menor noção- de quem era aquela pessoa ele se pronunciou "Esses senhores tem umas coisas pra falar com você, Way" E eu não pude evitar uma careta confusa quando vi Frank ali parado com olhos diferentes daqueles calmos ao lado da porra de um loiro que nunca vi na vida que mais parecia que ia me matar com o olhar antes mesmo de entrar.

"Ahn... Entrem?" Minha voz estava bem rouca por ter passado em volta de 15 minutos vomitando e 40 minutos dormindo mas eles entraram assim que sai da frente da porta. Que merda Bert tinha feito dessa vez?

"Vê se dessa vez não faz a gente ter que chamar a policia por causa de barulhos indecentes enquanto tem crianças acordadas no andar, Way" Aquele velho abusado fazia questão de dizer aquela frase ensaiada toda vez que tinha visitas e caralho foi só uma vez.

O clima estava tão pesado que senti necessidade de oferecer tudo que tinha na cozinha para aquele cara que nem mesmo sabia quem era mas Frank foi mais rápido começou a falar antes "Acho que é melhor vestir mais algumas peças de roupa, Gee"

"Talvez você que devesse vestir menos peças de roupa, Frankie" As palavras simplesmente saíram da minha boca sem eu perceber e eu estava tão surpreso quanto ele "D-desculpa, eu não-"

"Tudo bem, Gerard" Ele falou enquanto passava por mim e sumindo pelo corredor e eu ainda estava ali um estado de inércia. Não sei como ele achou uma camiseta mas era certo que ela estava apenas jogada por algum dos cômodos "Eu sei que você não está sóbrio. Apenas vista e vamos conversar"

"É sobre o Bert, né?" Frank apenas abaixou a cabeça e então o cara loiro respondeu com um 'sim' como se aquilo fosse estupido de tão obvio e ele claramente estava certo. Só podia ser sobre Bert "O que ele fez?"

"Bert teve uma overdose de cocaína a dois dias e por sorte conseguiram falar comigo"

"E quem é você?"

"Eu sou o... Advogado dele"

"E pra que ele precisa de um advogado? AH MEU DEUS ELE MORREU? É POR ISSO QUE O ADVOGADO ESTÁ AQUI! VEIO ME DIZER QUE EU SOU VIÚV-"

"Gee, deixa o Dr. Allman falar e você vai ver que não é bem assim e você não é um viúvo" Okay. Agora era certo que algo estava muito errado.

"Quando o seu... Marido acordou após a overdose ele exigiu que você assinasse alguns papeis que já estavam sendo preparados"

Meus olhos caíram sobre a pasta apoiada nas pernas do advogado e senti uma mistura de alivio e desespero. Eram papeis de divórcio. Mas não simples papeis de divórcio. Bert já havia assinado assim como seu advogado. Seu advogado Quinn Allman. O cara que Bert tanto chamava enquanto gozava era o mesmo cara que estava sentado do meu lado me dizendo que meu marido tinha tido uma overdose de drogas e estava se divorciando de mim em segredo.

O que eu falaria para ele quando chegasse no hospital para a visita?

Porra. Mil vezes porra.

What's Your Poison?Onde histórias criam vida. Descubra agora