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Domingo.

Passei o final de semana inteiro na casa de Frank e a semana parecia ter sido perfeita. Eu poderia começar a trabalhar na próxima sexta-feira de acordo com o que Amanda disse para Frank. Pelo que entendi ela era mais do que uma psicóloga ali, como uma supervisora, e não se dava muito bem com Frank mas não perguntei o porque.

Visitei alguns lugares com a mãe de Quinn para a cerimônia e a festa do casamento, que seriam no mesmo lugar, e os preparativos estavam todos indo muito bem. Eu já me dava perfeitamente bem com mãe de Quinn como nunca me dei com a minha.

Ela era definitivamente melhor do que com a minha mãe. Eu não tinha respondido a mensagem dela de dias atrás, mesmo depois de já ter um trabalho novo com o que eu amo e até uma nova pessoa na minha vida, eu tinha medo. Medo dela ainda não me levar a sério e não se orgulhar de mim. Se vovó estivesse viva ela me defenderia e diria coisas maravilhosas sobre mim até que minha mãe desistiria de me atacar mas agora ela não está mais aqui comigo.

Eu teria que me defender sozinho, certo?

No fundo eu tenho certeza aquela criança carente que chora todos os momentos ainda vive em mim e estará sempre aqui comigo. Mas eu ainda quero aprender a ser forte e me defender sozinho quando preciso, para que ninguém me machuque mais e isso serve para eu mesmo. Eu me machuco como ninguém.

Algumas palavras ruins e minha cabeça entra em colapso com pensamentos negativos me levando até o armário do banheiro onde estão guardados todos os meus remédios antigos que nunca tomei corretamente.

Algumas palavras bonitas e minha cabeça entra em um novo colapso com pensamentos distorcidos me levando entre os sintomas de desmerecimento e uma falsa paixão manipulada pela minha mente.

Mamãe sempre me disse que Bert não me amava e ele era bom demais pra mim, então Frank também é bom demais pra mim, certo? Ele me ama? Ou pelo menos gosta de mim? Se sim, eu provavelmente não mereço isso.

Frank é um cara maduro, bonito e tem um futuro brilhante pela frente como psicólogo e pai. Lily e Cherry têm muita sorte de ter um pai maravilhoso como ele que faz tudo pelas filhas e eu certamente não acrescentaria nada a vida delas ou a ele.

Eu poderia ser feliz ao lado de Frank. Isso é mais do que certo. Mas Frank seria feliz ao lado de alguém como eu? Eu não sou nada além de um drogado, alcoólatra e sem futuro.

Não tem como alguém me amar. Eu destruiria sua vida como fiz com a da minha família e com Bert. A última coisa que eu quero é ver Lily e Cherry sofrendo como fiz minha com todos ao meu redor. Frank merece alguém bom de verdade e não alguém como eu.

E o que eu faria se Frank percebesse isso e me deixasse na manhã seguinte? Como eu viveria sem seus abraços apertados e seus olhos calmos? Deus. Não. Eu não posso viver sem Frank e Frank ficaria muito melhor sem mim.

Dormir.

Eu preciso dormir.

Só algumas pílulas vermelhas.

Bert sempre trazia uma garrafa de vodka ou whiskey pra casa depois do trabalho e as guardava no armário do banheiro achando que eu não sabia onde elas estavam. Por sorte ainda teria alguma coisa por ali para me fazer parar de pensar antes de dormir.

Com uma garrafa de vodka em uma mão e o frasco de remédios na outra comecei a caminhar pelo corredor até chegar à sala. E voltando da sala até o quarto. Depois até o banheiro. Andando sem rumo dentro do meu próprio apartamento.

Senti o celular vibrar no meu bolso e não tinha nenhuma notificação na tela mas eu deveria mandar uma mensagem para Frank antes de dar um jeito de sumir da sua vida, certo? Ele era digno disso. Eu não. Mas ele sim.

Digitei um 'eu te amo' enviando antes de deixar o celular em cima da pia do banheiro e voltar até a sala me jogando no sofá enquanto olhava para o teto antes de tomar o restante das pílulas e jogar a garrafa já vazia na parede como se aquilo fosse me deixar menos tonto ou me fazer menos inútil.

Aquilo certamente me fazia mais inútil mas foda-se.

Nada mais precisava fazer sentido. Eu só preciso dormir. Dormir e talvez não acordar mais. Bert tem sua vida agora com Quinn e eles merecem ser felizes juntos. Frank tem sua família e eu não quero atrapalhar mais sua vida e das meninas.

Isso.

Eu não atrapalharia mais a vida de ninguém.

Tudo que eu preciso é dormir.

Dormir por um longo tempo.

What's Your Poison?Onde histórias criam vida. Descubra agora