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Quarta-Feira.

Culpa.

Já tinha me acostumado com a rotina de dormir sozinho, acordar sozinho e passar o dia inteiro sozinho então acordar com meu próprio marido ao meu lado era quase uma novidade. Senti um desconforto enquanto ia até o banheiro pra fazer a higiene e não era grande novidade ter dormido de mau jeito com Bert na cama, mas era uma puta novidade acordar com uma puta ereção gigantesca.

Eu nem mesmo tinha tido um sonho erótico durante a noite e a ultima coisa que lembro de ter feito antes de dormir foi trocar uma ou duas mensagens com Frank sobre o que falaríamos na consulta de hoje e era bem provável que eu tenha adormecido no meio de uma mensagem. Será que eu tinha mandado alguma mensagem estranha pra ele enquanto dormia?

Eu poderia correr até o quarto pra checar mas eu tinha um grande problema entre minhas pernas. Quem sabe até uma solução. E nesse momento a única certeza que eu queria ter era meu membro recebendo a devida atenção que tanto merecia. Liguei o chuveiro na água quente e ja podia sentir o vapor se espalhando pelo banheiro enquanto eu me encostava na parede oposta da ducha recebendo um puta choque térmico com a sensação gelada.

Abaixei a calça do pijama e a boxer de uma só vez sem me importar se ficariam encharcadas. Fechei os olhos e mais uma vez deixando minha imaginação me levar. Passei a mão por debaixo da blusa úmida do pijama que ainda usava e foi inevitável não imaginar aquelas mãos tatuadas que vez ou outra tocavam as minhas enquanto eu acariciava um dos meus mamilos. Até os toques mais superficiais eram incrivelmente excitantes com Frank na minha cabeça e porra eu nem sabia se ele era gay mas como eu queria foder aquela boca.

Era impossível controlar os gemidos enquanto eu fazia movimentos rápidos e fortes fodendo minha própria mão e na minha mente tinha meu pau entrando e saindo daquela boca pequena e rosada. Ele deve ficar ainda mais lindo com aquela boca inchada depois de me chupar. Gozei tão forte imaginando aquele cara baixinho de roupa social entre minhas pernas que minhas pernas tremiam.

Tomei um banho rápido e extremamente gelado para não correr o risco de ficar duro de novo pensando no meu psicologo que veria daqui a poucas horas. Me arrumei rápido colocando qualquer roupa e eu senti que precisava vê-lo. Eu, a porra de um homem casado fantasiando com meu psicólogo, o homem que também era psicólogo meu marido, o homem que disse pra eu não ser como Bert e sim melhor que Bert. Eu sou um fodido do caralho.

Como a porra de um adolescente no primeiro encontro eu cheguei quase uma hora adiantado pra consulta e resolvi comprar um sorvete pra esfriar todo aquele fogo que eu tava sentindo mesmo que estivesse uns 15 graus e bem nublado. Enquanto brincava com a colherzinha observando como o rosa do morango se misturava com o azul do mirtilo ficava uma cor nova e tão bonita, me perguntava se um dia eu poderia viver uma mistura de cores e me transformar em algo bonito como aquele sorvete estava se transformando. Bobagem Gerard.

Uma risada infantil me chamou atenção e pude perceber que duas garotinhas brincavam ali perto, aparentemente gêmeas. Elas eram como a mistura de sabores que eu tinha criado. Uma mistura bonita e única, mas bonitas e únicas individualmente também. Elas corriam uma atras da outra e eu desejei ter meu caderno e uma lapiseira ali para poder desenha-las. Uma mulher chamou pelo nome das meninas e correu até elas, talvez fosse a mãe das garotas. Uma voz masculina chamou pelas três logo depois e foi como uma facada quando percebi de quem era aquela voz. Peguei meu celular finalmente checando as mensagens como não tinha feito mais cedo.

De: Gerard

Para: Frank

"Clro que podemis falr sobre isso amnha Frnk"

De: Frank

Para: Gerard

"Desculpa a demora, eu tava preparando o jantar das minhas princesas.

Provável que já esteja dormindo agora então descanse para podermos conversar amanha durante a consulta.

Boa noite, Gerard."

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Sexta-Feira.

Dor.

Eu queria ter um motivo pra me sentir mal assim. Mas eu não tinha, nunca tinha. Dessa vez não era diferente, não podia ser. Meu marido acordou mais disposto do que qualquer dia naquela semana, fez o café do jeitinho que sabe que eu gosto, como ele fazia toda sexta-feira desde que começamos a namorar anos atrás. Fofo né. Tinha até uma rosa branca em cima da mesa perto das torradas.

Ele me observou comer com um sorriso quase delicado no rosto, como da primeira vez que ele havia feito o meu café. Esperou até eu tomar o último gole do suco para se levantar, deixando um beijo quase carinhoso em minha testa e indo até a porta radiante.

"Te vejo mais tarde, baby?"

Acenei positivamente com os olhos marejados e mesmo que isso se repetisse todas as semanas ainda doía demais ter de ver essa cena que ele me proporcionava de marido perfeito. O "mais tarde" poderia ser amanhã ou domingo ou só Deus sabe quando. Não queria ficar naquele apartamento sozinho o dia todo coberto de lágrimas e garrafas vazias e quebradas. Vazias e quebradas assim como eu

Vesti uma roupa qualquer que fosse confortável e com um caderno novo e uma lapiseira caminhei até a praça próxima ao meu prédio onde costumava ter varias crianças brincando. Não tinhas muitas crianças ali, talvez por ser período de aula mas ainda tinham duas crianças com uma quantidade absurda de casacos pesados parecendo bolas fofinhas e gigantes. O garotinho não deveria ter mais de 4 anos e a garotinha talvez uns 5 ou 6. Eram adoráveis.

Apoiei o caderno nas pernas me debruçando quase por completo e não era nada confortável ficar naquela posição mas era ideal para olhar as crianças e traçar um esboço. Não demorou muito para eu ter os traços que precisava gravados ali e logo estava voltando ao meu tão solitário apartamento, mas no meu tão amado estúdio. Pendurei a folha com o esboço com uma fita na parede ao lado de uma tela em branco.

"É isso Gerard" O pincel em minha mão com um tom forte de vermelho escarlate trêmula me lembrava tantas coisas boas e ruins "Você é esse quadro em branco, Gerard"

Minhas próprias palavras me atingiam forte e assim que a tela sentiu ser marcada pela tinta do pincel eu senti minhas bochechas serem marcadas pelas lágrimas que rolavam pelos meus olhos. No final não haviam mais lágrimas ou pinceladas. Nem mesmo crianças. Só dor.

Eu nunca teria uma família feliz, certo? Eu nunca seria uma pessoa feliz. Ter um marido. Ser um bom marido. Cuidar dos meus filhos e ama-los como eu nunca fui amado. Uma família. Eu quero ter uma família. Como Frank tem. Como Mikey tinha. Como eu e Bert nunca tivemos.

What's Your Poison?Onde histórias criam vida. Descubra agora