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Quarta-Feira.

Acordei com uns 'bips' que faziam minha cabeça doer cada vez mais. Estava mais claro do que meu quarto costumava estar pelas manhãs e eu poderia dizer que algo estava preso no meu braço como quando eu acordava depois de um pouco de heroína.

Era como se tivesse pessoas no meu quarto falando coisas que eu não entendo nem menos da metade e dedos borrachudos tocavam meu braço tentando chamar minha atenção mas eu não conseguia manter os olhos abertos por mais de alguns segundos.

Não era a voz de Frank ou os dedos gorduchos de uma das gêmeas. Não era a voz de Bert ou os dedos finos de Quinn. Parecia mais vozes carregadas de falsa seriedade enquanto diziam termos mais difíceis do que o necessário para pessoas com mãos enluvadas.

Eu realmente não queria acreditar nisso mas era muito provável que eu estava em um quarto de hospital e eu não fazia a menor ideia do porque estar ali com uma provável agulha no meu braço. Eu odeio agulhas.

Tentava abrir os olhos aos poucos e me acostumar com a claridade excessiva do quarto onde eu estava. Algumas enfermeiras escandalosas decidiram que seria uma boa ideia gritar para o médico informando que eu estava acordado como se eu estivesse morto antes. E se eu não estava antes Eu provavelmente morreria agora com toda essa dor de cabeça.

"Sr. Way, como se sente?" Um cara alto de jaleco apareceu com uma prancheta em mãos "Seu namorado parecia muito preocupado com você quando te trouxe"

"Meu namorado... O que aconteceu?"

"Você não se lembra?" Ele estava calmo. Não calmo como Frank nas consultas. Frank era verdadeiro. Ele estava claramente fingindo "Lembra do que fez no domingo à noite?"

"Eu queria dormir então tomei algumas coisas" Não queria dar a aquele cara mais informações do que o necessário.

"Algumas coisas? Remédios? Quantos?"

"Sim, remédios. Alguns" Ele sorriu colocando a mão gelada como de um defunto no meu braço que agora percebi estar recebendo soro ou alguma medicação na veia "O que é isso?"

"Apenas soro" Ele fingia ajeitar alguma coisa na bolsa de soro talvez para que eu confiasse mais nele e toda aquela esperteza que ele ostentava desnecessariamente "Então, está pronto para falar sobre sua tentativa?"

"Tentativa? Do que diabos você está falando?"

"Seu namorado te trouxe pra cá na segunda-feira pela manhã e ao que tudo indica você tentou se matar no domingo pela noite"

Eu ri. Ele ainda estava sério.

"Ele disse pra você que eu tentei me matar? Meu namorado?" Ele parecia não gostar nada do meu tom sarcástico mas foda-se. Ele não sabia de nada sobre mim.

"Não, Sr. Way. Ele não disse isso" Óbvio que ele não disse isso. Ele me conhece muito melhor do que vocês que acham que sabe de tudo "Mas ele parecia muito preocupado e não gostaria de vê-lo falando assim depois de não acordar por dois dias"

"O que? Eu dormi por dois dias?"

"Sim. Pouco mais que isso"

Deus. Eu decidi que não queria atrapalhar a vida das meninas e de Frank e agora era justamente isso o que eu estava fazendo. Qual seu problema, Gerard Way?

Antes que eu pudesse fazer mais alguma pergunta que me faria me sentir ainda pior, Frank entrou no quarto indo até a cama onde eu estava e se abaixando para olhar nos meus olhos com aqueles que eu já sentia saudades sem saber.

"Você me deu um puta susto, sabia?" Ele sorria, mas em um só sorriso ele demonstrava diversos sentimentos diferentes e pude sentir sua preocupação.

"Não foi a minha intenção" Coloquei a mão em seu rosto acariciando a bochecha e seu sorriso se tornou mais calmo e radiante, como eu estava acostumado "Desculpe por te preocupar"

"Esse é um dos meus trabalhos"

"Como psicólogo?"

"Como o homem apaixonado por você que eu sou, bobo"

Frank de certo não conhecia os limites que meu coração aguentava toda aquela perfeição que ele emanava. Tudo que ele fazia era simplesmente perfeito e ele sabia como fazer eu me sentir amado como ninguém.

"Eu tenho umas novidades pra você" Ele olhava no fundo dos meus olhos como se tivesse se perdido neles "Gee, eu planejava fazer isso de forma diferente mas você é meio imprevisível né, então..." Ele parecia nervoso mas ao mesmo tempo tranquilo e confiante "Lily escreveu algo pra você. É minha letra na verdade, mas ela ditou para que eu escrevesse já que ela... Enfim. Leia"

Ele tirou do bolso da jaqueta jeans escura que usava um envelope perfeitamente decorado por um par de mãozinhas pequenas escrito meu nome com a letra garranchuda de Frank. Abri com cuidado para não estragar os desenhos abstratos e fiquei confuso quando ouvi um barulho metálico vindo de dentro do envelope, percebendo que eram alianças. E não eram duas. Eram quatro.

"Meu Deus. Frank?" Aquilo era mesmo real? Quer dizer. Eram mesmo alianças?

"As meninas foram me ajudar a escolher e Cherry disse que você ia gostar dessas pretas, mas aí Lily viu que tinham algumas coloridas e achou que ela e Cherry mereciam ganhar umas também. A vermelha é a da Lily e a roxa é a da Cherry" Eu não sabia dizer se estava surpreso ou espantado ou admirado então escolhi por 'estupefato' "A carta da Lily tá aí dentro também. Quer que eu leia pra você?"

Eu sorri entregando as quatro alianças para que ele segurasse e puxei a folha também desenhada por completo de dentro do envelope começando a ler as palavras ali que diziam:

"Papai cuida de gente triste mas ele também tava sempre triste antes. Ele é o melhor papai do mundo e eu gosto quando ele sorri. Ele sorri com o Tio Gee então eu sorrio também. Pessoas sorriem namorando igual o papai sorri com o Tio Gee então agora vai namorar a Lily, a Cherry, o papai e o Tio Gee. O papai disse que o Tio tá doente e ele ficou triste de novo mas o Tio vai voltar pra casa e comer doce depois então ele vai sorrir igual antes. O Tio não pode ficar doente senão o papai não vai poder ver o Tio de terno no casamento e se apaixonar de novo.

Lily ama o Tio. A Cherry também ama o Tio e o papai ama muito o Tio."

Eu estava chorando.

Definitivamente eu estava chorando. E muito.

"Isso faz sua letra parecer linda" Ouvi Frank rir antes de limpar as lágrimas que manchavam meu rosto e dar um beijo na minha bochecha molhada "Eu tenho certeza que ela não disse pra você escrever sobre eu usar um terno no casamento"

"Okay. Essa parte eu escrevi por conta própria" Se eu não me sentisse tão fraco era mais do que certo que eu estaria jogando Frank em uma daquelas paredes para beija-lo "Eu te amo, Gerard"

"Eu te amo, Frankie"

Nada mais que um simples selar de lábios. Nada de beijos intensos. E eu me sentia mais completo do que nunca me senti.

"Tem mais uma coisa" Ele disse se sentando na beirada da cama segurando minha mão entre as suas "Eu não sou mais seu psicólogo então precisamos de um novo"

"Você não pode ser mais meu psicólogo?"

"Não se você quiser que isso seja oficial"

"Eu posso encontrar um novo sem problemas"

Frank segurava meu rosto distribuindo beijos por todos os lugares antes de colocar uma das alianças no meu dedo e eu fazer o mesmo com uma das outras deixando só as alianças coloridas de volta no envelope.

Agora era mais do que oficial.

Nada mais poderia me fazer ficar longe daquela família.

Da minha família.

What's Your Poison?Onde histórias criam vida. Descubra agora