7

841 95 135
                                    

Domingo.

Esperanças.

Quinn não apareceu no sábado mas domingo me tirou da cama antes de meio dia e isso era suficiente para eu voltar a odiar ele. Ajudei a colocar as coisas em umas caixas enquanto ele me explicava com mais detalhes do que eu gostaria de saber o porque de não ter ido no dia anterior. Era fato que eu não odiava a relação de Quinn com Bert, eu sabia que estavam felizes juntos, mas se tinha uma coisa que eu não faria questão de saber nem tão cedo era sobre como eles "comemoraram" a saída de Bert do hospital. Era bizarro ele estar falando sobre ter feito sexo com o cara que eu costumava fazer sexo a meses atrás.

Ouvi o barulho do meu celular informando que havia recebido uma mensagem e nunca fiquei tão feliz com aquele barulhinho irritante. Quinn continuava falando sobre coisas que eu fingia prestar atenção concordando hora ou outra enquanto eu lia as mensagens.

De: Frank

Para: Gerard

"Acho que você tem um novo problema agora

Cherry falou tanto de você que Lily agora ficou com ciúmes

Ela disse quer te conhecer e conhecer seus quadros também"

Meu coração derreteu com aquelas mensagens e era muito mais que certo que eu estava com um sorriso bobo enorme estampado de imaginar aquela cena. Ouvi algo entre uma reclamação e um adeus dramático vindo de Quinn e apenas acenei em despedida ignorando o que quer que aquilo tinha sido enquanto digitava uma resposta.

De: Gerard

Para: Frank

"Eu sou um ótimo profissional e não me importaria de passar o dia ensinando as duas princesas a pintar

E tenho certeza que a Lily seria ótima com um pincel igual a irmã"

De: Frank

Para: Gerard

"Não sabia que era babá nas horas vagas

E eu acho que as duas iam adorar passar o dia com o 'Tio Gerard'

Okay, elas acabam de confirmar que sim com gritos"

Deus. Eu já estava me apaixonando por aquelas crianças e pensando em diversas coisas que poderia ensinar a cada uma assim como minha avó fez comigo e Mikey quando pequenos. E mesmo que Mikey não tivesse aprendido nenhuma das coisas que vovó ensinou, eu mergulhei na paixão que ela sentia pela arte e isso me tornou quem eu sou. Tenho certeza que ela estaria orgulhosa de me ver passar sua paixão adiante, mesmo que não fossem minhas filhas. Isso era o que ela diria se estivesse aqui.

De: Gerard

Para: Frank

"Eu não sei se seria uma boa babá mas eu estou livre pra ser professor delas a semana toda

E claro, se o pai delas também estiver interessado nas aulas eu posso fazer um esforço a mais para atende-lo"

Se alguém me dissesse que em tão pouco tempo eu poderia falar com Frank daquele jeito tão natural, como se fossemos grandes amigos a anos, eu não teria passado tanto tempo fugindo da terapia e da realidade. Não parecia mais tão ruim, ainda era solitário passar o dia inteiro sozinho mas não seria por muito mais tempo.

Um emprego. Eu precisava de um emprego.


————————————————————



Quarta-Feira.

Novidades.

Estava sentado no sempre tão silencioso consultório encarando aquele quadro bizarro com um sorriso que não me afetava como da primeira vez mas ainda era assustador. Minha consulta estava marcada para daqui a cinco minutos e eu já estava ali a pelo menos mais dez. Tinha uma ideia maluca na minha cabeça e eu estava louco pra compartilhar com Frank mas não faria por celular então hoje minha euforia aumentou ainda mais.

Uma garota baixinha e ruiva saiu da sala e Frank a acompanhou até a porta sorrindo pra mim daquele jeito calmo de sempre. Me chamou com a mão para segui-lo assim que passou de volta por mim e o caminho até sua sala já era bem conhecido. Sentei no sofá de couro e sorri tentando passar toda aquela minha empolgação pra ele.

"Parece se sentir muito bem hoje então vou pular essa primeira pergunta padrão e ir pra próxima, okay?"

"Claro, vamos lá" Percebi quando um riso abafado saiu por entre seus lábios e sorri mais ainda de um jeito quase infantil.

"Sobre o que quer falar, Gerard?"

"Eu tive uma ideia" Frank pareceu meio surpreso mas estava começando a se mostrar interessado. Ótimo. Aquele era o momento "Essa ideia envolve você"

"Sua ideia me envolve? Como?" Ele ainda sorria mas era evidente o quão confuso ele estava agora e isso me deixava ainda mais animado.

"Suas filhas" Não pude deixar de rir da expressão perdida que ele fez mas continuei "Elas me deram uma ideia"

"Minhas filhas te deram uma ideia?"

"Eu pensei que como eu vou ensinar elas a pintar eu-"

"Você vai mesmo querer ser professor delas?"

"Por que eu iria não querer? E essa ideia me deixou tão animado que eu pensei em uma coisa que podia ajudar nós dois" Ele fez um gesto para eu continuar falando e respirei fundo antes de falar "Você é psicologo e eu um artista, certo? Não sei como isso funcionaria mas tenho certeza que a arte pode ajudar tanto como a terapia e pensei que se a gente trabalhasse com os dois juntos seria legal"

"Você ta falando sobre Arteterapia? Bom, não ia exigir muito de você? E não acho adequado levar os meus pacientes na casa de um outro paciente"

"Não precisa ser no meu estúdio. Quer dizer, deve ter outro lugar" Ele não gostou da ideia? Ele não pode não ter gostado da minha ideia. Ele estava pensando em algo, certo?

"Talvez tenha uma sala vazia aqui no consultório" Ele ainda estava pensando mas porra minhas bochechas ficariam dormentes de tanto sorrir depois "É pequena mas você poderia, alem de ter um lugar, receber como todos os psicólogos aqui" Aquilo podia ficar melhor? "Não devem caber muitas pessoas nessas salas então você poderia ensinar uma ou duas por vez mas você sabe que isso é uma suposição, certo?"

"Claro que é uma suposição mas seria incrível e eu já consigo imaginar"

"Eu vou ver se a sala está vaga nos dias em que eu não atendo e se eles aceitam sua ideia caso eu participa como supervisor" Deus aquilo só melhorava e o sorriso no rosto de Frank entregava toda a animação por trás daqueles olhos calmos.

"A Lily tá melhor?"

"Minhas consultas não costumam envolver tanto minha família mas sim, ela está bem" Aquilo significava algo ou eu to ficando muito paranóico? "Ela ainda pergunta sobre o 'Tio Gerard' vez ou outra e quando ela vai conhece-lo" Ele fez aspas com os dedos enquanto falava e era adorável.

"Eu pensei que talvez eu pudesse passar um tempo com elas amanhã e sei la deixar elas fazerem uma bagunça enorme no meu estúdio enquanto eu finjo ficar bravo" Ele sorriu e, Deus, eu tentei não derreter mas ele não queria colaborar com meu frágil coração pelo jeito "Você pode buscar as duas quando terminar de atender ou até descansar um pouco antes disso"

"Está fazendo planos envolvendo minha família, Sr. Way? E ainda me excluindo deles" Ele tentou soar ofendido mas não passava de uma cena extremamente fofa e isso fez os dois rirem por um tempo "Você gosta de crianças" Não era uma pergunta mas eu concordei com a cabeça "Já pensou em ter uma?"

"Já na verdade mas eu seria um péssimo pai" Eu ri. Ele não. Ele parecia procurar ou -talvez- ver algo em mim que eu não via.

"Você seria um ótimo pai" Aquelas palavras eram tão sinceras que senti meus olhos marejarem por um momento enquanto encarava aqueles malditos olhos lindos e sinceros "Acha que posso passar no seu prédio pela manhã e ajudar com elas por um tempo?"

"Você pode ficar quanto tempo você quiser" E seu celular tocou quebrando aquele contato visual que mantemos por longos minutos. Acabou a consulta.

Quando cheguei em casa me sentia leve. Um passo de cada vez. Uma conquista de cada vez. O que mais eu precisava se acabei de ganhar uma família e talvez um emprego que alem de ser minha paixão ajudaria as pessoas. As coisas evoluíam bem e rápido. Eu só não queria cair de novo, e não iria.

What's Your Poison?Onde histórias criam vida. Descubra agora