Pingos nos I's

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As palmeiras da praça estavam agitadas pelo vento gelado do fim da manhã. Bakugo odiava estudar no horário matutino justamente por precisar enfrentar todo esse frio à toa. O coração batia forte. Havia passado parte da manhã pensando no que dizer quando chegasse esse momento, mas não pensara em nada.

Kirishima já havia chegado e estava sentado no banquinho de madeira. Ao vê-lo, levantou-se, deixando a mochila no banco. Bakugo interrompeu os passos por dois segundos antes de continuar a aproximar-se.

Eram rubis nos rubros. Kirishima desviou o olhar e soltou o ar que havia prendido sem perceber.

— … E então? — Perguntou enquanto contemplava o chão, sem coragem de encarar Bakugo.

— Você está bem?

— O quê?

— Todoroki disse que você precisava de mim como amigo, então aqui estou eu.

Se Todoroki Shouto ouvisse essa conversa, iria surtar com as coisas que Katsuki estava falando. Mas o que ele poderia fazer? O silêncio tornou-se barulhento demais e ele precisava falar algo. Mas, convenhamos, estava dizendo tudo o que não deveria ter dito.

O rosto decepcionado de Kirishima entregava tudo, mas ele pareceu recuperar-se rapidamente do choque inicial.

— Tá bem. — Estufou o peito. — Meus pais estão se separando, perdi duas provas por falta, a pessoa que eu amo resolve me deixar esperando meses ao invés de responder logo e acabar com isso, mas ok. Está tudo bem.

— Que merda, não lembrava que você era tão irritante quando é debochado.

— É sério isso, Bakugo?!

— Espera um pouco, Kirishima! — O loiro escondeu o rosto atrás das duas mãos. Estava com vergonha e sem ação diante da situação. Não sabia como continuar.

— Estou esperando, pode demorar quanto tempo quiser. Estou há meses assim, mesmo.

Alguns segundos passaram-se. O relógio de pulso de Kirishima apitou indicando 12:00. O ruivo torceu o nariz, sua mãe iria reclamar pela sua demora para o almoço, se é que houvesse um almoço lhe esperando. Com toda essa confusão seus pais haviam praticamente se esquecido dele.

— É complicado demais… — Bakugo disse, recolhendo as mãos lentamente. — Eu pensava tanto e não chegava a nenhuma conclusão. Mas agora eu sei, só que…

— O que te impede, Bakugo?

Esse era justamente o ponto, Katsuki não fazia a mínima ideia. Hesitou por um instante e observou Kirishima aproximar-se. Ele pôs as duas mãos em seu rosto e colou as testas. Eijirou contemplava o amado com cansaço nos olhos, cansaço e decepção. Bakugo percebeu.

A proximidade dos olhos mergulhados um no outro mexeu com a integridade de Bakugo, que tentou unir os lábios nos dele. Kirishima impediu o beijo, segurando com força sua mandíbula. Enviou-lhe um olhar afiado.

— Responda-me… — Implorou, seu tom demonstrava o quão farto de tudo aquilo estava. — Por favor, Bakugo, eu não aguento mais…

— Eu amo você — Fechou os olhos à medida que sentia o rubor tomar conta de suas bochechas. Não ouviu nada da parte do ruivo, apesar de estarem próximos demais.

— Não está dizendo isso só pra me fazer me sentir melhor, né?

— Não.

Kirishima estava desconfiado, Bakugo sabia disso. Abriu os olhos e cobriu a mão de Kirishima ainda em sua mandíbula com a sua. Acariciou-a e então guiou-a até seu peito. Só então Eijirou percebeu a verdade, o coração saltitante de Bakugo evidenciava a veracidade de suas palavras.

Você pode me ouvir?Onde histórias criam vida. Descubra agora