A calmaria após a tempestade

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Os sentimentos de uma mãe ainda eram meio confusos para Todoroki, que apenas observava as reações de Inko a cada minuto que passava. Não que ele também não estivesse angustiado, mas para Inko deveria ser mais pesado. Uraraka havia sacado um livro e agora lia atentamente, mexendo freneticamente os pés em sinal de ansiedade. 

— Shouto? — Inko lhe chamou.

— Hm?

— O meu filho te ama profundamente e você deve saber disso, tenho quase certeza que ele já lhe disse isso.

— Bem… sim.

Ela sorriu, um sorriso estranhamente machucado.

— Eu me sinto muito feliz por isso. De verdade.

— Vai ficar tudo bem, Inko.

Inko assentiu.

— Sei que vai. — Ela olhou atentamente para um pôster pendurado na parede do hospital, algo sobre campanha de vacinação. — Quando Izuku era pequeno, ele gostava de ler, ouvir e contar histórias. E então criava suas próprias histórias.

A mulher apertou as mãos contra o peito, sentindo-o arder em saudade.

— Eu queria ter sido mais presente, ter ouvido suas histórias enquanto ele ainda podia contar. Ouvido ele cantar e gritar em felicidade por qualquer coisa. Durante esses quatro anos, nossa casa se tornou silenciosa de um jeito irritante. Tudo o que eu podia ouvir era as teclas sendo pressionadas de meu teclado e o farfalhar das folhas dos livros de Izuku.

— Ele age como uma caixinha de surpresas. — relembrou Shouto. — Imagina o quanto que ele tem para contar, porém simplesmente mantém guardado na cabeça.

Inko acabou por soltar uma gargalhada discreta.

— E você cuidou bem dele na hora H, né?

— Hora H?

Ela sorriu perversa, fazendo um gesto um tanto quanto obsceno com as mãos, observando seu querido genro corar até nas pontas das orelhas.

— Foi calor do momento, juro! Eu não queria fazer isso exatamente, quer dizer, em partes sim, mas… — interrompeu-se, achou melhor ficar quieto.

Uraraka riu por detrás de seu livro, dando-lhe uma piscadinha travessa e Inko acompanhou, batendo levemente em sua nuca.

— Esses adolescentes famintos de hoje em dia, hein! — Inko brincou.

Shouto não sabia o que fazer, nem como reagir, por isso bagunçou o cabelo e deu uma risadinha nervosa, concordando.

— O objetivo da tia Inko é te deixar sem graça, Todoroki-san, não caia nessa — Uraraka lhe alertou.

Alguns resquícios de risadas ainda se foram ouvidas antes de o quarto voltar ao silêncio. Estavam no quarto de hospital de Izuku, cada um sentado em alguma poltrona. Todoroki olhava para a porta direto, ansiando que ela abrisse e de lá surgisse o doutor com boas notícias. Haviam se passado duas horas desde que Izuku fora levado, entretanto parecia que se passaram umas 6 horas. Ou um dia inteiro. Shouto verificava o horário a cada cinco minutos e por fim optou por assistir alguma coisa para o tempo passar mais rápido. Pediu licença às duas garotas e pôs o fone de ouvido, escolhendo um filme qualquer na Netflix de seu celular.

***

— Tá com cara de cadela mal comida de novo.

Kirishima riu sem humor, volvendo o olhar para o namorado que acabara de invadir seu quarto lhe  cumprimentando com palavras gentis e bem selecionadas.

— Só estou me acostumando.

— Eu não sei como é ter pais separados, e isso me deixa frustrado por não poder te entender em um todo.

Você pode me ouvir?Onde histórias criam vida. Descubra agora