A confiança que me falta

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Os dias pareciam não ter freio, e as visitas de Todoroki duravam pouco tempo. Esta era a impressão que Izuku tinha, e não demorou ao grande dia finalmente chegar. Despertou com uma espessa chuva batendo contra sua janela, furiosa, como que estivesse profundamente magoada.

Era uma mania estranha, de fato, Izuku tentar adivinhar os sentimentos de cada fator climático, mas não podia evitar. Observar e deduzir era o que mais fazia em seus dias monótonos, e tentar compreender os sentimentos de cada pingo de chuva, cada trovoada, cada tempestade ou céu ensolarado virou um passatempo animador. Fechou os olhos e apenas ouviu o som da água batendo brutalmente contra a janela. Não queria que aquele dia começasse, queria que o relógio demorasse a passar, mas realmente não era possível. Abrindo novamente os olhos, notou uma movimentação estranha na frente de sua casa.

Inclinou-se, curioso, e surpreendeu-se ao ver Shouto entrando no jardim, com um guarda-chuva nas mãos e mochila nas costas. Mesmo com a mochila, ele não vestia o uniforme escolar. Ele sumiu na porta e instantes depois entrava em seu quarto. Água pingava de suas vestes, mas o sorriso continuava lá.

— Bom dia, Izuku!

— Já acordou, querido? — Inko chegou logo atrás. — Está tão cedo.

Shouto observou os olhos confusos de Midoriya e não demorou a entender sua dúvida:

— Você vai passar o dia no hospital, e eu vou também. E não estou nem aí para a escola.

Izuku sorriu, acalorado com o zelo que Shouto tinha por si. O namorado o abraçou forte e, mesmo com o tecido levemente úmido, Izuku encontrou o calor que precisava.

— Vou terminar o café. Shouto, você poderia preparar Izuku? Vou só comer e logo vamos.

Izuku tinha de ficar em jejum. A cirurgia estava marcada para às três da tarde, mesmo assim já iam para o hospital desde cedo. Uma série de exames e preparativos lhe esperavam, e Izuku estava agraciado em ter Shouto e sua mãe consigo. Deixou que as mãos frias de Todoroki lhe tocassem, provocando sensações eletrizantes, e apenas assistiu ele escolher uma roupa para si. Realmente não se importou com o look escolhido pelo bicolor, não fazia sentido esforçar-se em sua aparência para ter sua garganta cortada logo depois.

Só de pensar nisso, Izuku levou a mão até o pescoço e engoliu em seco. No entanto, Shouto percebeu. Ele sempre percebe.

— Ei… — Tocou gentilmente seu rosto. — Você vai ficar bem. Eu prometo.

Não queria chorar, não naquele dia. Tinha de ser forte como sua mãe, deveria mostrar um sorriso e deixar claro que tiraria aquilo de letra. Quem dera fosse fácil livrar-se do medo apenas sorrindo.

Shouto aproximou-se vagarosamente e capturou seus lábios com zelo, inclinando o rosto para aprofundar o contato. Izuku retribuiu de bom grado, circulando seu pescoço com os braços e acariciando os fios coloridos. Estava ansiando por aquele beijo há horas, e finalmente ter o doce sabor do namorado sob seus lábios era realmente gratificante.

Passaram o resto do tempo que tinham juntos, até Inko aparecer. O processo de descer Midoriya até o térreo e ajeitá-lo no banco do carro foi tecnicamente rápido, e só enquanto Shouto e Inko desmontavam a cadeira de rodas e a ajeitavam no porta-malas que puderam ter uma conversa de verdade.

— Está ansioso? — A mulher questionou, fitando Todoroki com o canto do olho.

— Sim e não. Tenho medo de que algo de ruim aconteça.

Inko apenas assentiu, não poderia dizer nada para encorajá-lo, afinal nem mesmo ela tinha tamanha confiança. E Todoroki percebeu.

— Mas temos que pensar pelo lado lógico, Izuku pode falar. Existe uma chance ainda.

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