Prólogo

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Céu levemente nublado, cedendo à tentação de deixar o sol aparecer de vez em quando. Vento gelado, temperatura quente. Era exatamente este o clima que Todoroki Shouto gostava para jogar futebol. Na rua do bairro onde morava, andava despreocupadamente. Não havia necessidade para pressa, ninguém estaria esperando por ele, afinal.

Início de ano era uma época em que todos seus amigos vão viajar para longe, deixando Todoroki ali sozinho. Não que fosse de fato ruim, ele gostava de ficar sozinho. Mas o fato de quase nunca viajar o deixava levemente enciumado. Morava em uma região de classe média, mas seus pais possuíam grandes posses graças ao emprego de cada um. Seu pai era advogado e sua mãe gerente de um hotel. Dinheiro nunca foi problema, o problema é o tempo disponível deles.

Sua mãe praticamente morava no hotel e seu pai passava o dia inteiro fora, tirando os domingos. O trabalho de ambos aumentava nas férias, graças ao aumento de turistas e violência. Todoroki contava apenas com a diarista de sua casa, Megumi, para ter uma companhia. Uma segunda mãe.

Neste momento, caminhava pelas ruas quase vazias do bairro em que vivia. Um bom local, com casas bonitas e desprovidas de violência. Seguia para o campo de futebol público, geralmente usado só por ele e seus amigos que moravam por aquela região também. Em um dos braços, abraçava a bola de futebol, alternando entre carrega-la no braço esquerdo e direito.

Quando chegou, olhou com certo desinteresse para o campo vazio. A grama estava bem cuidada graças a um gentil velhinho que morava por ali e se interessava por jardinagem.

A verdade é que não estava com vontade de jogar, queria apenas sair de casa um pouco, onde estava praticamente trancafiado. Adentrou o gramado com certa preguiça e deixou-se desabar.

Deitou, deixando a bola rolar alguns centímetros para longe de si. Observou as nuvens que cobriam o céu e arquejou.

Futebol não era de fato seu esporte favorito, sua paixão mesmo era vôlei, mas como só havia campo de futebol ali e seus amigos apenas jogavam isso, Todoroki se juntou a eles para ter o que fazer de tarde. Não era um esporte que Todoroki realmente sentia vontade de jogar, mas gostava dos momentos que passava com toda a galera ali. Era divertido.

Tomou vergonha na cara e levantou-se antes que alguém fosse ali achando que havia morrido. Apanhou a bola e começou algumas embaixadinhas, sem muito foco em bater seu recorde.

Cansado de sempre estar ali, de nunca conhecer um lugar novo, de estar preso àquela vizinhança, Todoroki deixou-se soltar. Com força, chutou a bola para longe. A bola bateu com força na grade de proteção e voltou. Shouto correu até ela, chutando novamente e a fazendo voar.

Continuou assim durante mais alguns minutos até parar, cansado. A bola parada em sua frente lhe encarava, o convidando para mais uma rodada. Estava acostumado com a solidão, mas o campo parecia apenas intensificar aquilo.

Todoroki recuou três passos, para logo tornar a avançar e chutar com toda sua força com a perna esquerda, exibindo sua precisão canhota.

A bola levitou e voou em alta velocidade, ultrapassando a grade e atingindo uma janela do segundo andar da casa verde ao lado leste do campo. Nunca que Todoroki se sentiu tão nervoso quanto agora.

Havia quebrado uma janela e seus amigos não estavam ali para aguentar a barra com ele. Nutriu esperanças para que não houvesse ninguém em casa, mas uma mulher logo apareceu na janela, analisando o estrago, até percebê-lo ali.

Shouto sentiu todo o ar escapar de seus pulmões. Estava muito envergonhado.

Abaixou a cabeça e caminhou com passos incertos até a casa 213. Bateu levemente a porta, mesmo que a mulher já soubesse que estava ali. Demorou um pouco, mas Todoroki julgou que devia ser pelas escadas.

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