CAPÍTULO 7 - VISÕES DE OUTRA VIDA

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Karol e Hugo correram em direção à casa do garoto. Karol ficou surpresa que ninguém chamou a polícia quando os viu saindo apressados pela rua — isso acontecera uma vez e terminou com Karol, Hugo e os pais dos dois na delegacia falando para os policiais que não fazia nenhum sentido dizer que estava acontecendo um assalto apenas porque dois garotos negros estavam correndo pela rua. Aquilo foi bastante constrangedor.

Assim que chegaram eles se apressaram até a oficina e quando colocou o fone no ouvido, Karol nem sentiu o choque por causa da adrenalina correndo por seu corpo.

— Atyori, o que foi aquilo? — Ela gritou olhando para o aparelho, mas sentiu que deveria era olhar para o espelho. Karol já estava ficando cansada dessas sensações estranhas.

— Aquilo foi um desastre! — A voz da garota escapou pelo aparelho. — Eu ia acabar com aqueles dois e você me atrapalhou.

— Você provavelmente ia fazer com que saíssemos como culpados de toda essa situação. — Hugo falou. — As coisas são diferentes por aqui, Atyori!

Naquele momento Karol sentiu vontade de socar alguma coisa, mas sabia que (quase) toda aquela vontade vinha da garota dentro do seu corpo.

— Vocês queriam simplesmente passar direto e deixar aquelas pessoas em perigo?

— A polícia já estava chegando. — Karol argumentou. — Você não pode pegar meu corpo e sair por aí realizando atos heroicos!

— Tudo bem, acho melhor me arriscar então!

Karol sentiu seu corpo voltar a vibrar, algo dentro de si começou a se repuxar e ela entendeu que Atyori estava tentando sair. Foi quando ela sentiu como se um raio atravessasse todo o seu corpo, e antes que ela pudesse gritar por em resultado da dor causada pelo choque, acabou desmaiando.

A imagem apareceu como se fosse um filme, mas bem mais que uma espectadora, Karol era uma das personagens.

Ela andava pelo que parecia uma escola, sentia que deveria ter uns sete anos e estava saindo apressada em direção a uma sala. Assim que entrou todos os outros alunos se calaram e olharam para ela, Karol sabia que aquilo era algo que acontecia com frequência: conversas encerradas com a sua presença, olhares atravessados, piadinhas sussurradas seguidas com risadas altas.

Karol percebeu que aquelas crianças presentes eram diferentes de tudo o que ela imaginava, algumas tinha a pele verde com algumas manchas roxas, outras tinham a pele rosa, as cabeças sem qualquer sinal de cabelos, outras tinham a pele branca e pequenos chifres em suas testas. Ninguém ali era exatamente igual, mas havia algo em Karol que a fazia ser ainda mais diferente, ainda mais estranha, algo que justificasse todo o julgamento daqueles olhares. Todos os dias.

A cena mudou, ela agora tinha quinze anos e dessa vez estava em uma aula de defesa pessoal, ela conseguiu derrubar um garoto de pele azul no exato momento em que ele colocou a mão sobre seu ombro. Ela ouviu risadas se espalhando pela sala.

— Grande coisa você conseguir me derrubar estando dentro de uma garderiana! — O garoto se levantou, Karol conseguiu sentir o ódio em seus olhos.

— Eu conseguiria acabar com você até com uma mão amarrada as costas. — Se viu dizer, embora se fosse ela mesma teria simplesmente assentido com os ombros e dado às costas.

— Você não é nada Atyori, sai daí e eu te mostro do que sou capaz.

Ela sabia que não deveria fazer aquilo, não deveria deixar o corpo naquele ambiente, mas estava com tanta raiva que simplesmente saiu. Ela andou apressada em direção ao garoto, e então desmaiou.

Horas depois acordou em um hospital. O ambiente estava todo isolado com um campo magnético e havia uma mulher de pele roxa e cabelos escuros ao seu lado. Karol soube que aquela era a mãe de Atyori, e ela não estava dentro de nenhum corpo. Aquela era a aparência dos almantes.

— Mãe... — se ouviu dizer.

— Oi querida — a mulher se aproximou e passou a mão sobre seus cabelos. — Como você está?

— Com raiva — ela se sentou na cama e encarou a mãe.

— Querida, sempre haverá alguém te provocando, dizendo que você não tem força ou valor suficiente. Mas você tem sim! Cada pessoa tem o seu modo de lutar pelos seus sonhos. Mas você precisa aprender que ás vezes, o melhor, é contornar os obstáculos, e não passar por cima deles.

Agora estava em uma plataforma de voo. O lugar estava lotado. Havia uma dor insuportável em seu peito e Karol soube que estava em um velório.

Uma mão tocou em seu ombro e ao olhar para o lado ela viu um homem alto, a pele parecia feita de rochas. Era o pai de Atyori, não o corpo em si, mas dentro dele.

— Está na hora, querida! — Ele disse, sua voz mais macia do que se esperava de um homem com aquela aparência.

Os dois seguiram andando, as pessoas abrindo o caminho para chegarem a um caixão de cristal onde a mãe de Atyori estava deitada, coberta por flores tão diferentes que Karol não podia imaginar já ter visto algo parecido com elas.

Então, o caixão foi lançado ao espaço e Karol sentiu as lágrimas correndo por seu rosto. Elas eram contidas, a dor em seu peito podia lhe fazer derramar uma cachoeira, mas Atyori se segurava. Algo dizia a Karol que ela sempre se segurava.

As cenas agora apareciam e sumiam rapidamente. Quando Atyori se formou na academia, sua primeira missão (que não deu muito certo), o início do seu namoro com outro integrante da patrulha, o fim conturbado do relacionamento, a vez que ela estava em um corpo e quase foi morta junto com ele. O dia da missão que deu errado e ela caiu na Terra. O momento em que acordou e percebeu que estava em um corpo diferente.

E então Karol despertou sendo ela mesma, como se estivesse imersa em água turva e somente agora conseguisse enxergar e respirar. 

SUPER-KATY: QUEBRANDO TUDO!Onde histórias criam vida. Descubra agora