CAPÍTULO 8 - TROCA DE MENTES

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Hugo estava parado em sua frente, o rosto fechado em uma expressão de preocupação deixava claro o quanto ele ficara assustado com o que acabara de acontecer.

— Por quanto tempo eu fiquei desacordada? — Foi a primeira coisa que conseguiu pensar em perguntar.

— Uns dois minutos.

Ele a ajudou a se levantar e puxou um pufe vermelho para que se sentasse.

— Pareceram horas... Eu acabei de presenciar um monte de lembranças da Atyori.

— O que acontecia nelas? — Hugo perguntou, ele puxou outro pufe e se sentou, curioso.

Karol abriu a boca para começar a falar, mas de repente sentiu que aquilo estava errado; já parecia estranho demais cair de paraquedas dentro da cabeça de alguém, invadindo suas lembranças, visualizando os acontecimentos do seu passado sem que a outra pessoa permitisse — ou até mesmo sem que ela mesma tivesse tentado fazer isso — Karol não podia simplesmente contar algo tão particular de outra pessoa.

— Tudo bem, Karol — Atyori falou pelo telefone, Karol nem havia percebido que o fone ainda estava em seu ouvido e o aparelho em sua mão.

Karol assentiu como se Atyori estivesse olhando diretamente para ela.

— Na primeira ela tinha sete anos... — ela começou a contar.

Hugo ficava animado a cada lembrança que Karol contava. De repente ela sentia como se tivesse acesso a todas elas. Hugo soltou um riso enorme quando Karol contou que Atyori dera uma surra no antigo namorado que insistia em persegui-la. E Atyori tomou o lugar para contar sobre algumas de suas aventuras como patrulheira galáctica.

Os três estavam lá rindo, Hugo imaginando todas aquelas situações enquanto as lembranças passavam pela mente de Karol como se fossem suas, quando Hugo decidiu se levantar e ligar a TV.

Estava passando uma notícia de urgência, uma faixa vermelha correndo pelo inferior da tela resumindo em palavras minúsculas a noticia que estava sendo transmitida. Uma mulher usando um terninho social feminino contava que a polícia enviara o alerta a todos os habitantes da cidade:

A polícia nos informou que corpos estão sendo encontrados em circunstâncias nada convencionais — disse a mulher de forma profissional, como se tivesse um jeito realmente convencional de desovar um corpo. — os corpos são achados em um estado ressecado avançado, como se tivessem sido mumificadas há anos, mas as suas roupas e pertences confirmam que elas não foram mortas há muito tempo.

A imagem na TV mudou mostrando um dos corpos ressecados — a pele estava toda repuxada e meio esverdeada, seus olhos não existiam mais e restavam apenas buracos negros vazios, seus cabelos pareciam tão frágeis que poderiam sair de sua cabeça com a mais leve brisa — e então um policial apareceu e fez com que a câmera se afastasse.

Karol se levantou de repente, se sentindo assustada, mas também sabia que era o que Atyori pretendia fazer.

— É o Globular, ele está vivo — a alienígena disse pelo telefone. — É exatamente assim que ele age, sugando toda a vitalidade de outros seres, aqueles que forem fortes o suficiente continuam meio-vivos, como zumbis, o servindo enquanto ele desejar, os demais simplesmente perecem.

— Você só pode estar zoando com a minha cara. — Karol falou um pouco alto demais, o que deixava claro o quão assustada ela estava.

— O cara ruim que você trouxe está rondando por aí, beleza — Hugo disse e Karol e o encarou porque aquilo não estava nada bem. — O que a gente vai fazer?

Karol estava abrindo a boca para dizer algo quando Atyori começou a falar rapidamente:

— Ele deve estar tramando algo, eu vou precisar de ajuda. Hugo você acha que pode me arrumar algumas peças para que eu construa um sinalizador? Talvez eu consiga chamar a atenção da Patrulha Galáctica e eles venham nos ajudar.

— Tudo bem, é só falar! — Hugo falou, parecendo animado demais. — O que eu não tiver aqui eu peço meu pai para trazer da empresa.

— Ele não vai perguntar para quê você precisa dessas peças? — Karol perguntou. — Ninguém pode saber sobre mim e a Atyori ou alguém do governo pode aparecer e querer nos trancar em um laboratório frio e escuro.

Hugo olhou para ela sorrindo.

— O problema é que o laboratório seja frio e escuro? — Karol cerrou as mãos em punhos. — Tudo bem, é só brincadeira. Se ele perguntar eu falou que tô tentando construir uma geladeira que assa com o gelo ou outra coisa que não faça nenhum sentido.

Karol então sentiu que Atyori tomava o controle do seu corpo e ela permitiu. Ela se viu andar até a mesa de trabalho do amigo, pegar um caderno velho e então começar a anotar uns nomes estranhos — às vezes traduzindo para o nome que tinha na Terra, já que ela podia ver a peça na mente da outra.

A mãe de Karol já havia ligado duas vezes a mandando ir para casa quando ela finalmente convenceu Atyori de que se sua mãe ficasse muito estressada ela seria três vezes mais perigosa do que Globular podia ser.

Quando elas chegaram à calçada Karol sentiu que até os pensamentos de Atyori estavam silenciosos demais.

— Ei — ela disse tirando o telefone no bolso do blazer da escola para que a voz de Atyori não fosse abafada. — Obrigado por me deixar contar suas lembranças para o Hugo, ele se corroeria de curiosidade se não contássemos.

— Tudo bem, eu percebi que vocês dois são muito ligados, se você confia nele eu também confio. — Rolou um segundo de silêncio e Karol sentiu como se Atyori sorrisse dentro de si. — Eu também vi as suas lembranças quando a gente desmaiou.

— Oh, eu deveria imaginar que essa não era uma via de mão única... Mas afinal, por que aquilo aconteceu?

Como se estivesse prestes a dizer algo muito sério, Atyori parou um pouco antes de revelar seus pensamentos em voz alto. Karol podia imaginá-la parando e olhando para baixo enquanto respirava fundo.

— Acho que a explosão da esfera de energia nos juntou de uma forma em que não podemos nos desconectar tão facilmente como eu já estou acostumada.

— E o que a gente vai fazer? — Karol perguntou assustada, como que duas garotas iriam viver no corpo de uma só para o resto da vida?

— Nós precisamos que a Patrulha Galáctica venha nos encontrar. Eles têm tecnologia suficientemente avançada para absorver a energia da esfera e nos separar.

Elas seguiram andando em silêncio — dessa vez um silêncio não tão desconfortável, os pensamentos delas pareciam seguir por caminhos parecidos, ás vezes se encontrando no mesmo ponto. Elas ainda estavam no ônibus quando Karol decidiu tirar do ouvido o fone do telefone modificado.

SUPER-KATY: QUEBRANDO TUDO!Onde histórias criam vida. Descubra agora