Mellanie - Intocável [2° história].

d o i s .

Mellanie

Andrew para na frente da escola e eu travo os punhos sentindo o ar me faltando ao ver o tanto de gente circulando pelo lugar.

— Eu não quero ir — sussurro fechando os olhos com força.

— Ei, Mell, lembra o que conversamos? — Andrew pergunta calmamente e toca delicadamente meu ombro. O encaro e concordo. — Você precisa enfrentar seus receios, vai dar tudo certo. Vou com você e fico até que se sinta confortável, ok? Mas você precisa tentar antes de qualquer decisão.

— Mas e se... — abaixo os olhos — ele aparecer?

Andrew segura minha mão.

— Armand não virá, Mell, fica tranquila. A polícia está atrás dele, ele não seria tão idiota a ponto de se expor assim numa escola. Fica tranquila, docinho, não vou deixar ele chegar perto de você — fala confiante.

Fecho os olhos e respiro fundo concordando.

— Tá bom, você tem razão — sussurro e abro a porta do carro.

É horrível o tanto de gente na escola, os jovens conversam alto demais e se encostam sempre. Estremeço só de imaginar um deles me abraçando do jeito que se abraçam. Andy vem logo atrás de mim, nós vamos direto para a direção, o Andrew conversa com a diretora e explica a situação e o porquê dele precisar ficar comigo hoje. Depois vamos para minha primeira aula. Procuro um lugar que eu fique invisível e me sento no canto encostada na parede, na metade da fila. Certo, lugar melhor não há.

Apesar do meu receio, tudo corre normalmente. Eu encontro com a Theodora em algumas aulas e até com sua irmã, Alora, mas eu acho ela muito antipática. Algumas pessoas conversam comigo, mas eu sempre dou uma desculpa e me afasto antes que alguém se aproxime demais.

Quando as aulas acabam, eu agradeço aos céus. A pior hora, sem sombra de dúvidas, foi o intervalo. Eu fiquei o mais distantes dos grupinhos possível e passei batida, foram os minutos mais difíceis pra mim nesse último mês. Tive que ficar no refeitório que, apesar de ser enorme, parecia uma caixinha minúscula com a quantidade de gente. Foi um trabalho eu me esquivar de todo mundo que tentava se aproximar, mas consegui.

Também tive medo de ver o Ângelo, ou Armand como é conhecido, meu tio. Não sei o que aconteceu com ele, nem se está vivo. Mas tenho medo dele estar me procurando e me achar, não quero voltar a viver tudo outra vez, mas agora nas mãos dele.

Entro no carro e o Andy me olha sorrindo.

— Então? — Pergunta ansioso, eu quase sorrio da sua empolgação.

— Tudo bem — sussurro por fim, ele pisca e balança a cabeça.

— Eu disse que seria legal — sussurra superior, torço a boca.

— Metido — resmungo.

— O que disse?

— Que você tinha razão.

Andrew ri e balança a cabeça.

— Você vai se acostumar, Mell, vai ver. Ficou tempo demais se escondendo do mundo, docinho, precisa vivenciar a normalidade um pouco.

Apoio meu cotovelo na porta do carro e meu queixo sobre minha mão, não digo nada. Sei que o Andy quer o melhor pra mim, ele sempre foi assim. Quer que eu seja como uma garota normal, mesmo sabendo que nunca serei. É óbvio que ele respeita minhas limitações e meu jeito, nunca me forçou a fazer algo que eu não quisesse, mas sempre me incentivou e me deu muita força para fazer qualquer coisa, como foi hoje na escola. Nós nos mudamos para cá na sexta-feira e eu ainda estou me adaptando a tudo, afinal, vim do Brasil para Londres. Foi uma mudança e tanto!