Agora passava pouco tempo na ala hospitalar, atendia apenas a casos gravíssimos, meu tempo era dedicado a cuidar do corte na barriga de Isabelle e do estado de saúde de nossa filha, que ficava pior a cada dia. Levanto a camisola de Isabelle para poder chegar até a grande cicatriz em seu ventre, ela fica tensa, sua pele arrepia, não sei se é pelo frio, pelo ardor que o remédio causaria quando eu o aplicasse, ou se é pela repulsa que sente por mim. Passo os dedos pela longa linha de pele costurada e apalpo os arredores delicadamente, a carne segue endurecida, mas isso já era esperado, a cor é que ainda denuncia uma possível inflamação, me preocupo.
- Sente febre?
- Não.
- Sente muito frio, mesmo quando está coberta e com a lareira acesa?
- Não, me sinto confortável na verdade, há algo errado?
- Apenas uma possível inflamação, mas nada grave.
Por força do hábito aliso toda sua barriga com a mão, mas sei que em Isabelle eu não deveria fazer isso.
- Você anda calado, há algo de errado eu sei. Se não comigo é com Helene, e eu conheço ambos muito bem, sei que nossa filha apresenta um estado anormal de uma recém-renascida e sei que tu estás a dias preocupado, então me diga Adrien.
Fico a arrumar meus instrumentos e a fechar alguns frascos em silencio, buscando quem sabe ganhar tempo e não deixar sair pela minha boca as verdades tão dolorosas que venho guardando só para mim nesses dias. A mão de Isabelle pousa sobre a minha, e eu não tenho coragem de olha-la nos olhos, respiro fundo tentando manter a calma que um médico deve ter em momentos como este.
- É cruel esconder de mim Adrien.
- É cruel ter de dizer o que penso em voz alta.
Isabelle não recua.
- Eu preciso saber, você me deve isso. -Como ela não vê reação minha, apela para minha parte mais vulnerável. - Ela é nossa filha, as dores dela são minhas e tuas, eu carrego as do corpo e tu andas carregando as da alma. Eu me permiti a dividir contigo minhas dores, Adrien... Entrega as tuas para mim também.
- Você é a mãe dela, sabe tanto quanto eu que há algo de errado...
Os olhos de Isabelle se enchem de água, mas ela se mantém firme como pode.
- O que ela tem de errado?
- Eu não sei exatamente, mas temo que o parto demorou-se a ser feito, ela estava enrolada pelo pescoço dentro de ti, passou tempo demasiado sem ar suficiente.
- Então a culpa é minha?
Diz Isabelle começando a demonstrar raiva.
- A culpa não é de ninguém, isto acontece.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Pardon - Obra finalizada em revisão
RomanceFeito uma sombra Adrien se esgueira sobre a luz de Isabelle. Adrien é a coisa mais extraordinária que já aconteceu na vida de Isabelle, mas ela não chega aos pés da única mulher que Adrien já amou e nem possui o veneno que ele tanto aprecia nas mul...