Final

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Não mais falamos sobre as coisas que confessei naquela noite. Seguimos os dias como sempre, em boa amizade, ambos em volta da pequena Abby, e a sociedade contente em ver mais uma família unida em cada evento social. Tudo parecia bem, de certa forma, até monótono. Mas algo dentro de mim se revirava, como doença de lepra, a cada dia me consumindo uma parte. Lampejos de Nathan me vinham de forma cada vez mais recorrente. Um homem se meteu numa briga por terras, acabou levando uma enxadada que lhe cortou o supercilio, nada demais, já cuidei de coisas muito piores. Minha mão treme, aos meus olhos a carne que costuro passa a ser de Nathan, o cheiro metálico de sangue me parece podre, o medo cresce na chance dele me olhar nos olhos, e num impulso ataca-lo mais uma vez para que finalmente morra. Meus dentes estão tão apertados que chega a me doer a cabeça, respiro, fecho meus olhos e recordo de meu paciente. Mas ao abrir os olhos, ainda é a carne de Nathan que costuro, inferno.

- Loubert. 

- Sim doutor.

- Termine esta sutura.

Entrego a agulha, Loubert a pega notando que tremo.

- O senhor está bem?

Apenas aceno com a cabeça afirmativamente e saio.  Vou pela terceira vez esta semana, apavorado para o quarto que ainda mantenho para mim neste hospital. Choro em desespero. Minhas mãos tremem, minhas preciosas mãos não me servem de nada, pois minha cabeça está assombrada por Nathan jovem, sorrindo de forma maliciosa, por Nathan adulto nesta casa a rir-se de mim, vitorioso por sermos iguais, e aquele que mais me aparece, o Nathan cadáver. Carne e ossos expostos, desfigurado e ainda se movendo. Temo que um dia eu acabe agredindo algum enfermo, por susto de ver Nathan refletido em si. Não é seguro que eu fique aqui, tratar essa gente, enquanto minha cabeça está perturbada. Troco de roupa, me recomponho e volto para casa.

Abby está aos prantos. Detesta sair do banho, chora toda as vezes que a diversão termina. O quarto cheira a água de rosas, cheiro da minha menina, cheiro da minha casa, cheiro de vida nova. Beijo o rosto de Isabelle como cumprimento, ela veste Abby de forma desajeitada devido a menina espernear e não parar um minuto, as criadas esvaziam a bacia, recolhem toalhas e roupas.

- Acho que vou enlouquecer de tantos gritos.

Reclama Isabelle.

- Posso te ajudar em algo?

- Segura esta perna para que eu consiga encaixar o pé nas calças de baixo.

Lhe ajudo a domar nossa fera, logo Abby está devidamente vestida e cansada de tanto chorar. Funga e coça os olhos, resmunga e tenta emendar outra birra. Isabelle a coloca em meu colo, exausta de tantos cuidados, é minha hora de trabalhar como pai. Abby se agita, tentar falar, pega uma boneca e lhe joga ao longe, chora outra vez, fica sonolenta mas não se entrega. Com paciência e necessidade de distração, passo mais de uma hora na tarefa de faze-la adormecer. Acabamos dormindo os dois. Acordo assustado, de forma abrupta, não sei se estava tendo algum sonho ruim.  Desço até a sala, Isabelle borda algo, creio que seja para a filha, lhe ofereço chá.

Pardon - Obra finalizada em revisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora