Pai

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Altivo, Nathan mesmo que sem vida, não havia perdido sua empáfia, parecia saber das honras que recebia neste momento fúnebre. Mantinha o queixo erguido e um discreto sorriso debochado, apesar das formas horrendas que seu rosto exibia olhos afundados e envoltos de manchas esverdeadas, o maxilar levemente entortado, marcas de cortes fundos sobre a pele por onde podia se ver, nem parecia humano, parecia um boneco de pano desengonçado. Ainda assim não me saia à sensação de que ele ria das homenagens, de cada dama e cavalheiro que lhe vertiam lagrimas de adeus. Até mesmo Isabelle não conseguia lhe tirar os olhos por um momento se quer, em verdade, nem mesmo eu conseguia crer naquele corpo sem vida diante de mim. 

O som das lamurias, o cheiro de vela misturado às flores murchando com o calor e o grito estridente de Marjore a mãe de Nathan, começou a fazer me faltar o ar. Sentia um suor frio me escorrer pela nuca, um pavor crescente, minhas mãos tremem e mais uma onda de choro gutural de Marjore ecoa pelo salão. Ouço mulheres quase todos os dias a gritar por seus filhos, para traze-los ao mundo, também por vezes ouço aquelas que perdem a razão de sua vida, perdem a sua criação mais majestosa. Ouvi minha esposa, minha Isabelle gritar por nossa filha falecida em seus braços, mas nunca, jamais um choro me condenou a alma como o de Marjore.

Isabelle chorava em silencio, parecia fora deste mundo, parecia estar em outro tempo, um tempo passado, um tempo vivido apenas por ela e por Nathan. Recordei-me do sarau que fiz em minha casa apenas para poder vê-la novamente, estamos hoje nas mesmas posições que naquela tarde. Ela sentada do outro lado do salão próxima a Nathan, eu rezando que ela olhasse para mim, um olhar, apenas um olhar, para que eu tente lhe ver a alma, mas ela não me olhou, não olhava a ninguém, apenas para dentro de si. Deste dia em diante Isabelle fechou-se ainda mais, eu segui lhe visitando conforme o combinado enquanto seus ferimentos eram tratados, mas houve o tempo que já não havia necessidade de minha presença e assim aos poucos as visitas ficaram dispersas, as palavras eram poucas e o abismo da tragédia que virou nossa história só crescia.

Se passou meses,  até que um tempo calmo foi se instalando de forma sutil. A rotina, as novas noticias, novas mortes, foram deixando a memória do assassinato de Nathan pra trás, o que não significa que eu havia me livrado dele.

- Doutor, doutor!

Lucíe jamais entrava na ala hospitalar sem de fato, ser urgente.

- O que há?

- Nossa menina doutor, Isabelle. Veja!

Diz ela sobressaltada me abanando um bilhete. Lhe tomo o papel das mão, não reconheço a letra e nele dizia que Isabelle sentia as dores de parto e que meu filho precisava de mim para vir ao mundo. Nathan conseguiu deixar sua continuidade dentro de Isabelle, sua ultima maldade. Agora cabia-me a escolha de lhe prestar também um ultimo golpe mortal, seria fácil dizimar aquela parte dele que ressurgia no mundo, mas Isabelle pode não aguentar mais um parto e eu não aguentaria perde-la.

Pardon - Obra finalizada em revisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora