Checkmate

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Ao anoitecer, fui até a sala de jantar. Lucíe serve-me a refeição como em todas as noites, mas desta vez não se retirou como manda os bons costumes.

- Queres me dizer algo Lucíe?

Digo eu, soltando os talheres e já sabendo que viriam noticias desagradáveis.

- Isabelle se foi.

Não fico surpreso, partes de mim sabia que a chance dela desejar ir embora era grande, mas não pude evitar a pontada de tristeza. Pego novamente os talheres e começo a partir a codorna perfeitamente assada em meu prato, antes que pudesse leva-la a boca, Lucíe me interrompe, solto os talheres de novo.

- Doutor eu também vi as marcas, ela não ficará bem, deve estar a passar dor.

- Foi escolha dela ir.

- Tu bem sabes o porquê dela não ficar. São muitas lembranças ruins para um coração e muitas dores para um corpo de mulher.

- De qualquer maneira, não sou o único médico desta cidade, ela pode ser tratada por outra pessoa.

- Sabes que ela não vai desejar se expor e ela é sua esposa...

- Não, ela não é! Ela não quer ser! Ela não quer ser minha esposa, ela não quer ser tratada por mim, é a escolha dela Lucìe! E eu não posso fazer nada! Nada!

Digo isso sem perceber que chorava, Lucìe vem a mim e abraça-me como uma mãe. Agarro-me a ela com força, como uma criança apavorada, com medo de um monstro terrível, o monstro era eu mesmo. A lembrança de tudo que fiz a Isabelle assombrava minha alma, tinha vontade de matar-me como forma de impedir que eu voltasse a machucar alguém e eu sabia que estava prestes a fazê-lo muito em breve. Morro de medo de quem me tornei, mas não achava o caminho para voltar a ser o bom menino que minha mãe abençoou em seu leito de morte.

- Meu menino... Está tudo bem, está tudo bem... Olhe-me aqui.- Diz Lucìe a se abaixar e segurar meu rosto entre suas mãos - Adrien, ouça... Os males já foram feitos, Isabelle está machucada, foi ferida por ti e por Nathan, mas o que difere um do outro é como vão agir daqui em diante. O que você vai fazer sabendo que a mulher que ama está precisando de seus cuidados?

- Eu vou continuar cuidando dela, sempre.

- Agora tu sabes o que fazer, meu bem. - Lucìe beija minha testa, enxuga minhas lágrimas com o seu avental puramente branco e diz de forma amorosa. - Já que não acreditas em ti, leva minha fé em tua bondade. Queria que tu pudesses ver um terço das maravilhas que eu, e tantas outras pessoas, veem quando olham para ti.

- Achas que um dia receberei um perdão?

- Tudo neste mundo é possível Adrien, já vi muitas coisas nesses muitos anos de vida. Agora, irei arrumar o jantar de forma que possas levar a Isabelle, para que ela coma também. Enquanto isso junte teus instrumentos e remédios, vá cuidar de tua amada.

Fiz o que minha governanta recomendou, fui com a alma cheia de coragem e coração batendo forte, mas agora diante da porta de Isabelle e sem o sorriso amoroso de Lucíe, eu tremia tamanho nervosismo e temor. Bati a porta, mas ninguém respondeu, dei alguns passos para trás tentando avistar alguma janela iluminada, mas casa toda estava um breu. Talvez Isabelle tivesse ido para a casa dos pais, voltei para caleche mas antes que eu pudesse entrar Wilfred me alertou.

- Há fumaça na chaminé.

Olhei para o telhado e de fato uma fumaça negra oscilava, a noite estava quente, era alto verão, Isabelle apenas sentiria frio se estivesse com alguma infecção. Voltei a porta e bati com força, desta vez chamando alto e anunciando que era eu.

Pardon - Obra finalizada em revisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora