Senhora Fleming

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Os dias foram se escorrendo de maneira confortável, não perdi nenhuma noite de sono, meu apetite se manteve intacto, meu prestigio com a medicina aumentava dia após dia, mesmo com um lembrete permanente do ocorrido há alguns meses atrás brilhando em minha mão esquerda. Para os conhecidos de Londres, Isabelle estava aqui comigo e para os conhecidos daqui, Isabelle nem existia. Nossa cerimonia discretíssima, nomes escolhidos a dedo, meu pai acamado, nunca teria contato com alguma fofoca da sociedade londrina que poderia chegar até aqui. E sempre é possível que um homem casado se torne viúvo. Já tenho planos para algum percalço deste que venha me acometer.  No mais, todos me admiravam igualmente por tamanha dedicação ao estudo, trabalho árduo curando as pessoas e minha rotina modesta, sempre no trabalho, em casa ou a visitar meu solitário pai. A verdade é que comia, respirava, dormia e acordava, mas eu já não estava mais vivo. 

Há pessoas andando por ai, elas falam, riem, conversam, seus corpos estão quentes e seus cabelos brilham, mas não há mais uma alma dentro do corpo, a diferença entre essas pessoas e os defuntos é apenas o cheiro. E eu cheirava a perfume importado, muitíssimo caro o que fazia todos crer que eu ainda habitava este mundo. Minha companhia ao final do dia era uma cadeira confortável em frente a uma janela que dava para uma movimentada rua ao centro de Winchester, na qual eu me sentava e observava as pessoas a viver suas frivolidades, a casa vivia em perpetuo estado de silencio e quase não havia luzes acessas. Mais nada me atrai, me cativa, me excita, nem mulheres ou jantares, pessoas nem pensar. A única coisa que não me aborrece é a medicina, então eu trabalho, dia após dias, noite após noite.

A noite de hoje esta muito fria, diria até ser a mais fria destes meses, desde que cheguei aqui. A neve cai sem piedade, pintando tecidos negros de branco. Pouco dava de se reconhecer alguém a uma curta distancia, todos protegiam seus rostos e vestiam roupas longas e pesadas, vultos de capas flutuavam pela rua a fora.

- Adrien... Mon amour! - Uma dama perfeitamente vestida com uma luxuosa capa aveludada na cor do mais puro vermelho, chapéu feito de pêlo de algum animal raro, se apoiando em uma elegante bengala de marfim para não cair na neve. Ela arregala os olhos e me sorri, antes mesmo de que pudesse ter alguma reação a sua aparição exuberante, a dama me abraça. - Este mundo é pequeno não é mesmo! - Ela se prende em um dos meus braços e me puxa para dentro de uma casa de chás. Tirando o chapéu e as luvas ela continua - Quanta saudades senti de ti, não podes imaginar tamanha falta tu fizestes.

- Creio que a falta do meu dinheiro realmente deixou um espaço vazio no seu orçamento.

Ela ri de forma sincera, eu adoro isso é bom perceber que ainda consigo sentir alguma coisa.

- De fato, meu bolso foi a primeira parte a sentir tua falta. Vamos nos sentar um pouco, beber algo quente ou tua esposa está a te esperar?

- De fato ela me aguarda, adoraria poder me deliciar com sua presença, mas preciso ir.

Pardon - Obra finalizada em revisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora