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As primeiras aulas passaram e logo era hora do intervalo. Eu ainda pensava no que Henri tinha feito... ou será que tava sendo doida?

Fui apressada pra sala que a gente sempre se encontrava e fiquei lá a maior parte do intervalo. Ainda bem que tinha levado lanche, se não...

De repente escuto três batidinhas e junto com elas meu coração acelerou. Abri a porta e Henri olhou pra mim surpreso. Ele entrou e fechou a porta atrás de si.
Ele parecia aliviado naquele momento.

Pegou minhas mãos.

"Trid, cara, de verdade, eu juro, juro que não falei pra você ir na frente por causa da Lavínia! Eu nem tinha visto ela lá." Ele soava desesperado, o que me fez querer rir, mas me contive.

"Mas não tinha professor nenhum perto da gente..."

"Eu sei. Eu sei. Me desculpa, eu só falei aquilo porq..." Ele hesitou.

"Porque...?"

"Porque você parecia incomodada ao estar do meu lado. Não queria que você se sentisse assim... mas se é o jeito que você se sente, eu tenho que tentar entender e fazer de tudo pra deixar mais confortável pra você." Ele disse e eu engoli em seco.

Nenhum cara que eu saí, NENHUM, fez o menor esforço que fosse pra nada. Nem pra me entender, nem pra me deixar confortável... nem pra estar comigo.

Eu abracei Henrique e colei nossos lábios. Eu queria ficar com ele. Queria. Mas existia alguma coisa em mim que dizia que ele ainda não era completamente meu... e nem eu dele.
Naquele momento ignorei tudo isso e só fiquei onde queria estar. Nos braços dele, beijando e beijando.

O sinal tocou. A gente se soltou, mas sem pressa dessa vez.

"Me desculpa." Eu disse olhando pra ele.
"Me desculpa não me sentir confortável com você... na frente de todo mundo." Expliquei.
"É só que... é você, sabe?! Henrique. O Henrique." Ele riu. "O Henrique da Lav..." eu ia dizendo e ele fez shhhhh e colocou os dedos levemente nos meus lábios.

"O Henrique do Henrique." Ele se auto afirmou.
"Aos poucos eu chego lá." Ele sorriu e eu sorri de volta. Tomara que sim.
Ele me deu um selinho.

"Me liga mais tarde?"

"Se minha mãe não confiscar meu celular, sim." Disse e ele piscou, saindo pela porta.

Queria que ele fosse o Henrique da Astrid, pelo único motivo de eu ter certeza que eu já era a Astrid do Henrique... mas aí já é pedir demais.

Sai da sala e dei de cara com Ayla, que estava de braços cruzados e batendo o pé no chão. Eu olhei assustada. Será que ela viu Henrique? Ela levantou as sobrancelhas e saiu andando. Eu tentei chamar, mas ela fingiu não escutar.

Eu bati o pé quase dando birra.
Argh. Era tão mais fácil não gostar de ninguém.

***

Cheguei em casa e meus pais vieram muito amorosos me abraçar.

"Meu Deus que saudade!" Dramáticos.

"Saudade também." Sorri simpática. Minha mãe sorriu.

"Linda. Mas lembrando que você tá de castigo." Ela disse.

"Ok... mas como é?" Acho que meus pais nem sabiam a definição de castigo.

"Da escola pra casa, de casa pra escola." Meu pai disse lendo no celular, o que me fez gargalhar.

"Vocês não sabem dar castigo?" Eles se entreolharam.
"Ok. O que mais?"

"Hmmm... se precisar fazer trabalho, só aqui em casa e..." meu pai olhou pra minha mãe que ria também.

"E sem celular." Ela estendeu a mão. Eu desliguei meu celular e entreguei pra ela.

"Por quanto tempo esse terrível castigo?" Disse rindo.

"É... sei la... uma semana, tá bom?!" Eles esperavam minha confirmação. Eu dei mais gargalhadas.

"Tá ótimo?" Beijei a testa deles e sai pro meu quarto.
"Amo vocês. Estou orgulhosa de vocês." Disse e sai, eles sorriram com essa afirmação. Meus bixin.

Entrei no quarto e fechei a porta. Precisava falar com Ayla, mas como estava sem celular, seria impossível.

Peguei meus materiais e fui fazer dever de casa. Eram tantos que nem vi o tempo passar.

Alguém bateu na minha porta.
Yosef entrou de fininho. Ele escondia alguma coisa nas mãos.

"Que foi?" Falei baixinho.
Ele me mostrou a mão e era o celularzinho dele em uma ligação.

"É a Ayla." Disse.
"Vou ficar vigiando." Ele devia estar se achando o espião. Eu fiquei rindo.

"Alô?" Disse baixinho.

"Eu achei que você que ia me ligar e fiquei  esperando, mas aí liguei e você não atendeu, liguei na sua casa e sua mãe me contou que tava de castigo..." Ela me contou o problema e ela mesma resolveu.

"É... me desculpa..." eu dizia olhando toda hora pra Yosef que vigiava.

"Eu vou aí mais tarde."

"Ok. Diz que veio fazer trabalho." Disse e ela desligou.

"Psttt." Yosef olhou e veio correndo.

"Obrigada." Disse e beijei a testa dele. Ele confirmou com a cabeça e saiu correndo pro quarto dele.
Agradeço por ter um irmão tão bom pra mim e sigo no dever.

***

Passaram algumas horas e nada de Ayla chegar... ouvi uma movimentação na casa e fui ver o que era.

Cheguei no saguão da pousada e meus pais estavam rindo muito de Ayla que parecia tímida.

"O que tá acontecendo?" Perguntei.

Meus pais viraram pra trás.

"Ayla tava aqui contando pra gente que vocês têm um grande trabalho pra fazer de biologia, mas aí eu perguntei sobre o que era e ela se embaralhou." Mamãe ria.
Olhei pra Ayla que deu de ombros.

"Olha Ayla, você sabe que a gente te ama e você é bem vinda aqui, mas essa semana a Astrid tá de castigo por ter sumido noite passada..." eu arregalei os olhos. Ainda não havia falado nada disso pra Ayla. "... então vocês conversam amanhã na escola... se realmente fosse um trabalho tudo bem." Minha mãe deu à última palavra.

"Ah, ok..." Ayla disse e me deu um tchauzinho e eu retribui.

Olhei pros meus pais e dei de ombros. Sai dali mas vi de canto de olho eles fazendo um high five. Estavam muito orgulhosos de si.

***

Mexeu ComigoOnde histórias criam vida. Descubra agora