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Na outra semana que saímos mais cedo pela liberação da professora, resolvi ir pra casa colocar uns trabalhos finais em dia.

Depois de um tempo Yosef entra no quarto afobado.

"Mamãe disse que você estaria aqui!" Ele entrou e me abraçou.

"Oi, baby." Eu ri. "Que foi?"

"Ela disse pra você me deixar lá na casa do Arthur pra gente fazer um trabalho em grupo que vai ser lá."

"Antes do almoço?"

"É. A gente vai almoçar lá e depois fazer o trabalho."

"Por que você não foi direto com ele?"

"Tinha que pedir permissão."

"Mensagem...?" Ele olhou pros lados e eu olhei fixo pra ele. Ele olhou pra mim e cruzou os braços.

"Ok, Trid, tive que vir em casa fazer cocô, tá feliz, agora?" Ele falou bravinho e eu comecei a rir muito.

"Ok, ok. Vamos." Peguei minhas coisas e fui deixar ele lá. Quem sabe de quebra não ganhava um chameguinho do meu quase-namorado.

***

Yosef conversava animadamente comigo sobre esse trabalho e eu fingia entender sobre o que era.
Faltava apenas uma esquina pra virar pra chegarmos no apartamento quando Yosef parou pra amarrar o cadarço e eu nem percebi. Continuei andando e virei a esquina. De repente gelei.

Eu vi Lavínia e Henri conversando. Ele estava de costas pra mim e ela de frente. Eles pareciam discutir. Fiquei como escondida não sei porquê. Eu vi um rápido olhar dela sobre mim e aí aconteceu.
Ela se inclinou pra frente e beijou ele. E ele não parecia retribuir, mas mesmo assim... não fez nada. Eu estava muito assustada.

Yosef veio correndo do nada e atravessou a esquina rindo alto. Henri e Lavínia se separaram.
Yosef nem percebeu nada e só subiu correndo. Henri me viu e eu caí em mim. Sai andando rápido.

"Trid!" Ele chamou. Andei o mais rápido que pude. Estava tentando conter minhas lágrimas.

"Trid!" Ele me alcançou. Parou na minha frente e de repente eu fiquei com muita raiva. Olhei pra ele e quis bater nele.

"Trid, me perdoa. Eu não fazia ideia..."

"Que eu ia aparecer???" Cortei ele.

"Não!!! Que ela ia fazer isso." Ele passava a mão no cabelo. "Me desculpa!"

"Se ela fez isso talvez você tenha dado alguma abertura." Falei.

"Claro que não, Astrid. Pelo amor de Deus!" Ele soava meio desesperado.
"A gente é amigo, eu tava tentando ajudar ela num problema e ela do nada fez isso." Ele falou e eu não respondi.

"Cara de pau." Falei de Lavínia.

"As vezes ela nem tá sabendo da gente..." Ele disse e eu olhei fixamente pra ele.

"É o que?" Só pra ser muito trouxa mesmo pra achar que ela não sabia da gente enquanto a escola toda sabia, ou pior, só pra ser muito MUITO trouxa mesmo pra defender a ex numa briga com a atual.

"Não... é que... às vezes ela achou que a gente não era oficial..." Eu simplesmente sai andando, enfurecida.

"Astrid!" Ele me alcançou de novo.

"Tudo bem, Henrique! Pode voltar lá pra ela, já que tá tão dedicado em arranjar uma desculpa pro que ela fez."

"Astrid..."

"Não, não, tá tudo bem." Disse sarcasticamente, estava realmente com raiva.
"Realmente tem essa chance dela não saber da gente, já que não somos oficiais, como você mesmo disse."

"Que? Eu não disse isso!" Ele falou mais sério.

"Tudo bem. Já que não somos oficiais, você não me deve satisfação." Eu estava com tanta raiva que nem estava botando sendo no que dizia.

"Astrid? Você tá escutando o que você tá falando?" Ele perguntou, agora parecia enfurecido.

"Tô!!!" Bati o pé no chão, como uma birra.

"Então é isso que você sente? Que não somos... de verdade? Oficiais?"

"Não! Isso é o que você sente, pelo visto, se acha que ela realmente acha isso da gente e é inocente!" Falei e nem eu entendia mais o que estava dizendo.

"Eu não to nem aí pra ela, eu quero saber o que você sente!"

"Eu sinto que não vou aguentar essa competição! Não dá, não dá pra mim. Era pra ser algo fácil, algo bom, mas é tão difícil. Por que é tão difícil?!" Comecei a chorar.

"Não é competição, Trid... eu..." Ele se aproximou tocando meu braço mas eu puxei.

"Não dá..." Eu repetia isso.

"Não faz isso. Eu fiz minha escolha." Ele pediu.

O celular dele começou a tocar e ele levantou pra ver quem era. Era ela.

Eu olhei pra ele e ele olhou pra mim.

"Não parece que fez..." Falei e sai correndo dali.

Dessa vez ele deixou.

Não sei se ele atendeu o telefone, não sei se ele voltou pra falar com ela. Só sei que corri de volta pra minha casa e pro meu quarto o mais rápido que pude.
Meus pais me viram passando chorando, mas não perguntaram. Meus pais sabiam dar espaço quando eu precisava.

Deitei na cama e acabei adormecendo chorando.
Só ficava me perguntando por quê é tão difícil com Henrique.

***

Acordei algumas horas depois, com fome.
Levantei e fui comer. Voltei pra cama.

Escutei batidinhas de leve na porta. Não respondi.
A porta abriu.

Era Renan. Ele sentou na beira da cama.

"Seus pais mandaram mensagem pra Ayla, mas ela não pode vir e me mandou." Sorri de leve pela dinâmica.
"O que aconteceu?" Ele perguntou.

Me sentei na cama do lado dele. Olhei pra ele e comecei a chorar. Me aconcheguei no pescoço dele e ele me abraçou de lado.
Chorei por bastante tempo até... então parei.
Ele não falou nada, ele só ficou ali pra mim.
E era tudo que eu precisava naquele momento.

Quando separei dele olhei bem pra Renan e fiquei pensando.
Era tudo tão fácil com ele... fácil: tudo que eu queria.
Olhei fixamente pra boca dele e ele me olhou desconfiado. Fui me aproximando dele e ele não se mexia.
Toquei nossos lábios de leve e sentia meu coração batendo mais rápido.
Abri minha boca e colei nele. Ele correspondeu, finalmente.
Puxei ele pra perto de mim e ele me puxou também.

Era bom, era fácil, era... errado. Totalmente errado.

Do nada, nós dois, quase que ao mesmo tempo, nos separando. Não foi como um término de beijo fofo, foi como um "cair na real" que foi o que realmente aconteceu. Renan levantou da cama e foi um pouco pra longe.

"É... isso foi um erro." Ele disse tocando na boca.

"Sim!" Confirmei rapidamente.
"Não que tenha sido ruim..." Justifiquei.

"Não! Foi bom, muito bom, mas... pareceu errado." Ele falou.

"Muito errado! Me desculpa." Disse. Ele olhou pra mim e voltou a se sentar do meu lado.

"Desculpa também. Não me entenda mal, eu queria te beijar há um tempo, mas... acho que depois passei dessa fase. Agora você é tipo, uma irmã. E beijar uma irmã... argh." Ele disse e eu ri.

"Sim. Nós somos amigos demais pra isso." Concluímos rindo. Eu parei de rir e suspirei. Ele pegou minha mão e me olhou.

"E aí?! O que realmente aconteceu?" Ele perguntou por fim e eu fui contar.

Às vezes, um relacionamento ser fácil demais não significa que é certo.
Mas ainda não acho que deva ser tão difícil.

Mexeu ComigoOnde histórias criam vida. Descubra agora