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Acordei no dia seguinte com uma dor de cabeça sem igual. Foi o choro.

Olhei meu celular na esperança de ter alguma mensagem ou ligação de Henrique, mas não tinha nada. Então era isso.
Não ter nada no celular doeu mais do que eu pensei.

Levantei porque estávamos nas últimas semanas de aulas então tinha muito trabalho pra entregar ou provas pra fazer.
Tentei não pensar em Henrique e falhei miseravelmente. Toda hora eu precisava respirar fundo pra não chorar novamente.
Não. Eu precisava ser forte.

Cheguei na escola e Ayla me viu. Ela veio correndo me abraçar.

"Renan me contou tudo." Ela disse.
"Sinto muito, Trid."

"Tudo bem." Menti. Ela cerrou o olho. Ela me conhecia.

Não falamos mais nada. Ela andava abraçada comigo enquanto íamos pra aula.
Viramos o corredor e eu o vi.
Ele fechou o armário e virou pra gente.
Ele olhou pra mim. Franziu a testa. Parecia furioso.

Por que ELE estava com raiva? Meu estômago revirou totalmente. Virei no banheiro mais próximo e não esperei Ayla. Respirava fundo, mas parecia que ia desmaiar.
Sentei no chão.

"Você comeu ontem ou hoje?" Ayla se aproximou de mim e perguntou. Eu tentava lembrar.
"Eu esqueci." Disse. Ayla sentou do meu lado. Ela tirou uma maçã e uma barra de cereal da bolsa e me deu.

"Come. Depois a gente vai caçar alguma coisa de sal também." Peguei e agradeci. Dei uma mordida. Não percebi como estava com fome de verdade.

"Obrigada." Apoiei minha cabeça no ombro dela e ficamos ali até eu terminar o lanche da minha amiga.

"E agora, Trid?" Ela falou.
"Você precisa ficar bem. Em relação ao Henrique e a Lavínia." Eu resmunguei.
"Não to falando isso pra te magoar, amiga, mas... eu mesma acho a amizade deles super prejudicial pros dois, mas existe uma dependência entre os dois que eles precisam superar antes de qualquer coisa. Eu nem acho que Henri goste mais dela, mas ele não consegue dispensar ela." Ayla ia analisando.
"E olha que ela já magoou muito ele. Ele precisa ver isso e seguir em frente. E eu não quero te ver sofrendo enquanto ele não consegue amadurecer e fazer isso."

"Uau, que sabedoria." Disse rindo e ela riu.
"Mas você tem razão. Eu não devia ter tentado ter nada com ele sem ele ter superado ela. Principalmente porque a gente começou isso tudo e ele ainda era apaixonado nela.
Onde eu fui me meter?" Perguntei chorosa.

"É, amiga, mas como eu disse, acho que ele não gosta mais dela... mas eu acho que você precisa... deixar... entende?"

"Eu sei." Suspirei fundo.
"Eu sei..."

Levantamos com o toque do sinal e fomos pra aula.
Foi uma longa manhã.

Na saída procurei por Ayla ou Renan mas não achei nenhum dos dois.
Fui andando pra porta e ao sair vi, de novo, Henrique conversando com Lavínia. Ela ria muito e ele parecia tímido perto dela. E eu nem esfriei ainda.
Meu estômago voltou a embrulhar, mas de nervoso.
Ele me viu e fechou a cara mais uma vez. Virou o rosto.
Fiquei puta. Também fechei o rosto e saí pisando fundo.
Ele viu.

Desci as escadas o mais rápido que pude e fui andando pelo caminho.

"Astrid." Ouvi atrás de mim e parei de repente.
Me virei e deparei com um Henrique com a cara fechada.
Não combinava com ele.

"Henrique." Imitei ele e fiquei esperando. Ele cruzou os braços sem falar nada. Nós dois ficamos ali parados infantilmente esperando o outro falar, mas eu perdi a paciência.

"Porque é que VOCÊ tá com raiva?" Perguntei.
"Não faz sentido! Você que estava com Lavínia ontem." Fui falando. Droga. Queria ter deixado isso pra lá, mas ainda não conseguia.

"Ah, e você não fez absolutamente nada ontem?" Perguntou.

Será que ele tava com raiva porque eu disse que tava cansada? Não estava entendendo. Fiz cara de confusa. Ele que perdeu a paciência dessa vez.

"Você por acaso NÃO BEIJOU O RENAN?" Perguntou e eu gelei. Como ele sabia disso?

"Q-que?" Perguntei. Ele riu sarcástico.

"Então é verdade." Ele abaixou os braços, agora parecia magoado.

"Quem te contou isso?" Perguntei.

"E isso importa, Trid? É verdade ou não é?"  Eu engoli em seco. Poderia mentir, poderia dizer que foi invenção, mas já era tudo tão complicado entre a gente, imagina com uma mentira no meio.

"É." Disse e ele jogou os braços pra cima rindo, desacreditado.

"Tá aí o motivo da minha raiva de hoje. Faz sentido agora?" Ele cerrou os olhos.

"Faz, Henrique? Você também beijou a Lavínia ontem." Não fazia o menor sentido esse argumento, mas eu também estava brava.

"Que? Eu já expliquei isso! ELA me beijou. Não significou nada pra mim. Agora VOCÊ foi quem beijou o Renan. Isso me deixa tão puto! Porque eu sempre desconfiei dele, mas não sabia que você também gostava dele..." Ele voltou a ficar bravo.

"Não gosto! Também não significou nada pra mim. Eu tava brava, triste, carente, foi impensado é ridículo. Me arrependi 3 segundos depois." Expliquei, bem brava. Quem falou isso pro Henrique? Ele parece que acreditou em mim. Baixou a guarda, mas manteve a pose brava. Ele estava com as mãos nos bolsos.

Nós dois ficamos calados mais uma vez.

"Quando você soube?" Perguntei baixo de braços cruzados.

"Hoje de manhã..." Ele respondeu e eu pensei um pouco.

"Então ontem... você podia ter mandando uma mensagem, me ligado, mas... nada..." Falava bem baixo.

"Ou você podia ter feito isso." Ele respondia baixo também.
"Mas tava ocupada beijando outras pessoas..." olhei pra ele cerrando os olhos.

"E você ocupado resolvendo todos os problemas da sua melhor amiga Lavínia." Disse sarcástica e ele mordeu a boca.

Nós dois sabíamos que o que falávamos era verdade.
A gente podia ter se ligado, ter se resolvido, mas... não fizemos.

Mais um momento de silêncio.

"Qual nosso problema, Trid?" Ele perguntou e sentou no meio fio. Ele colocou a cabeça entre as mãos.

"Não sei..." disse e sentei ao lado dele.
"A gente começou isso tão... leve, nas férias." Constatei.

"Depois a gente tentou ser um casal normal e não deu certo." Ele falou olhando pra mim agora.
Eu olhava pro chão e ele também.

Mais silêncio.

"Eu gosto de você, Trid. Muito. De verdade." Ele disse.

"Eu também gosto de você, Henri. Mais do que qualquer um que eu já gostei." Disse bem vulnerável.

Peguei a mão dele e ele segurou. A gente olhou pras nossas mãos e depois olhamos um pro outro.

"Desculpa, pelo Renan... não foi pra te magoar ou atingir."

"Desculpa pela Lavínia também. Eu realmente não esperava que ele fosse fazer aquilo..."

Senti que era uma despedida e acho que ele também sentiu.

Nos levantamos do meio fio.
Eu estendi minha mão e ele apertou.

"A gente se vê..." Disse.
Ele não respondeu. Só acenou.

Eu me virei e sai andando pra casa. Ele esperou um pouco, mas depois voltou pelo caminho da escola.

Eu comecei a chorar.
Esse momento de "deixar" doeu mais do que quando eu tava com raiva... a raiva mascarou todos os meus sentimentos antes, mas agora sem ela tudo que eu fazia era sentir.

Mexeu ComigoOnde histórias criam vida. Descubra agora