Mexeu Comigo

22

No dia do trabalho, Henri e eu estávamos totalmente conectados e arrasamos na apresentação.

Recebemos nota máxima - os únicos da turma. Ficamos muito felizes.

Sentamos em nossas carteiras comemorando, quando a professora falou qual seria a "próxima fase" do trabalho, se bem que Henrique eu já tínhamos uma ideia do que seria.

"Bom, turma... parabéns a todos pela primeira parte do trabalho! Os autores que escolheram são todos excelentes mesmo. Agora, pra segunda fase do trabalho, vocês vão ter que escolher uma obra do autor e apresentar ela pra turma..."
Era exatamente o que tínhamos pensado. Sorrimos. Seria muito fácil preparar uma apresentação sobre alguma obra de Machado de Assis. Falar o ano, no que inspirou...

"MAS!" A professora soltou e Henri e eu olhamos um pro outro.
"Esse ano, eu resolvi inovar um pouco." Ela sorriu. A turma inteira ficou preocupada.

"Nesse ano, vocês terão que preparar uma apresentação, sim, mas algo que envolva ARTE!" Arregalei os olhos em desespero. A professora batia palmas muito feliz.

"Vocês podem escolher entre fazer um filme, uma atuação, uma música... Fica a critério de vocês. E vai ser uma apresentação pra toda escola, porque todas as minhas turmas estão fazendo isso!" Ela sorria muito.

Eu franzi a testa. Odiava ter que ficar em público fazendo qualquer coisa. Na sala de aula era ok, eram uns 30 alunos e todos igualmente desesperados por nota, mas pra escola toda? Até quem não precisava daquela nota? Eu ia surtar.

"Ei. Calma..." Henri falou, acho que ele viu meu olho arregalado.

"Eu vou ser péssima." Eu resolvi  já dizer pra cortar qualquer esperança dele em que esse trabalho ia ser bom.

"Não se preocupa. Eu também não vou ser muito bom. Mas... estamos juntos. Vai dar tudo certo." Ele sorriu pra mim e eu consegui respirar. Eu acreditava nele. Ok. Vai ser... bom, vamos ver o que vai ser.

"Turma!" Professora chamou, já que a turma começou uma baderna.

"Semana que vem me tragam a obra escolhida, ok?! Não precisam decidir ainda o que vão fazer, mas se já souberem tudo bem. A partir da semana que vem vocês terão o tempo da aula pra pensar em tudo que envolve a apresentação... roupas, maquiagem, objetos de cena... tudo bem lindo." A professora disse e o sinal tocou.

Saímos da sala e Henri me acompanhou até meu armário.

"E aí?" Ele falou. "Qual vai ser nossa obra?"

"Pior que isso, Henri!!" Eu soava desesperada. "O que a gente vai fazer? Uma música? Eu não sei cantar, você sabe??"

"Não mesmo! Meu Deus... acho que o mais viável pra nós dois é uma apresentação teatral." Ele disse e nós dois fizemos careta. 

"Então... tem que ser alguma cena de uma das obras dele, que tenha dois personagens."

"Dom Casmurro é bom. É conhecido e mais fácil." Ele disse e eu olhei pra ele.

"Verdade. Pode ser." Sorri pra ele.

"Então vamos pesquisar algumas cenas e escolher uma."

"Minha casa ou sua?" Ele sorriu pra mim.

"Você na sua e eu na minha." Disse e ele pareceu fazer birra.

"Trid... até quando você vai me tratar assim?" Eu sorri.

"Eu... até... você sabe." Enfatizei o você. E ele rolou os olhos.

"Opa, beleza?" Renan se aproximou da gente. Eu sorri pra ele e Henri sorriu amarelo.

"Beleza." Ele respondeu. 

"Queria ir comprar um chiclete ali, vamos comigo?" Renan pediu. Henri fez careta.

"Então... até a próxima aula, Henri." Disse e sai.

"Trid..." Ouvi ele dizer baixinho enquanto saia.

"Tudo certo na terra dos indecisos?" Renan zoou. Eu empurrei ele fraco. 

"Cala a boca, palhaço!"

"Que princesa! Henrique não sabe o que tá perdendo."

"Vai cagar, Renan." Começamos a rir.

***

A semana passou e eu só conseguia pensar no bendito trabalho. Na verdade, eu só conseguia pensar no bendito Henrique. 

Achei uma cena que seria perfeita para atuarmos, se fossemos bons atores, ficaria ótima, mas a expectativa é baixa. 

Antes da aula começar me encontrei com Ayla no corredor e ela parecia animada.

"O baile!" Ela explicou a animação.

"Que baile, garota?" Não estava entendendo nada.

"Esse ano vai ter um baile na escola!"

"Que? Por quê?"

"Bom, quem começou com isso foram os alunos do clube de tecnologia que desenvolveram um convite online que queriam usar e aí o clube de costura entrou na onde e agora eles trabalham juntos."

"Continuo não entendendo nada."

"O baile é pra levantar fundos pros dois clubes, mas a ideia deles foi tão boa que todos estamos amando!"

"Todos...?"

"É, quase todos. Mas, Trid! UM BAILE! Eu sempre quis ir em um vendo os filmes."

"É uma festa de final de ano, basicamente, então?"

"Sim, amiga, mas DE GALA! Olha." Ela me mostrou o site.

O site era muito bem estruturado e o ingresso não era barato, mas eu entendi porque esses dois clubes se juntaram.

O baile tinha o tema "IF I WAS FAMOUS", que eu não entendi de início, mas a ideia era copiar um look que algum famoso usou em qualquer premiação ou evento conhecido.
Então, você entrava no site e na compra do ingresso você escolhia o look colocando o nome do famoso, o evento e o ano que ele usou a roupa, pra que ninguém fosse com roupa repetida. 

"Eu já comprei os nossos!" Ayla falou finalmente.

"Como assim, doida? Eu vou de quem?" Ela sorria muito.
"Pior ainda: aonde vamos fazer esses vestidos chiques?"

"Bom, é livre pra procurar o costureiro que quiser, mas... o clube de costura adicionou um extra no site caso quisessem que eles fizessem..."

"Uau. Muito espertos."

"Muito. E aí eu paguei. Nosso extra só, como presente. Depois você me passa o resto do ingresso óbvio. Não sou rica." Ela falava tudo muito animada.

"No que que você me meteu, ein?!" Perguntei rindo.

"Semana que vem temos que tirar as medidas." O sinal tocou.
"Tchau, amiga. Vai ser tudo!"

"Mas eu vou de quem..." Perguntei e ela já estava longe.
"Meu Deus espero que ela tenha escolhido um look que eu acho bonito e normal, se não vou ter que matar." Disse pra mim mesma e corri pra sala.

Era hora de discutir os detalhes do trabalho com a professora.