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Liguei pra Renan e Ayla e pedi pra eles irem lá em casa. Precisava de amigos pra chorar.

Eles chegaram a noite e trouxeram comida.

A gente conversava sobre o que aconteceu, quando me lembrei de um detalhe.

"Algum de vocês contou pra alguém que eu beijei o Renan?" Perguntei. Eles se olharam por um tempo. Ayla balançou a cabeça negativamente e Renan também.

Depois de um tempo Ayla gritou.

"Puta merda!" E colocou a mão na boca.

"O que?"

"Quando o Renan me contou... a gente achou que tava sozinho nos bancos da quadra, mas depois que a gente saiu... eu vi alguém saindo de lá também." Ela disse e colocou a mão na testa.

"Já posso até adivinhar quem foi." Eu disse. Já não me impressionava mais.

"Putz. Desculpa, Trid! Nunca teria falado nada se soubesse que ela tava por perto. Ela ou qualquer pessoa." Renan falou.

"Tudo bem, Renan. Já está feita a merda, que no caso fui eu que fiz." Eu ria agora.

Assistimos um filme e eles foram pras suas respectivas casas.
Semana que vem seria esmagadora.

—-

Os dias se passaram e eu driblava Henrique. Não queria encontrá-lo... Ainda mais depois de rumores que ele e Lavínia haviam voltado a namorar. UMA SEMANA DEPOIS da nossa pequena será-que-foi-despedida?! Eu não acreditei nos rumores, mas isso não deixava de quebrar meu coração.

Eu me sentia patética. Totalmente diferente da pessoa no início do verão. Eu sabia o que queria lá.
Precisava voltar a ser aquela pessoa. Ela era mais leve, mais sorridente, mais... sozinha? Droga. Todos os caminhos levam a um fim meio patéticozinho...

Enfim chegou o dia da peça. Henrique e eu não ensaiamos mais, até porque a gente já tinha decorado tudo, e esse detalhe de eu não querer vê-lo.

Cheguei no auditório da escola e a professora estava muito animada. Arrumava uma coisa aqui e uma coisa ali, brigava aqui e elogiava ali. Eu ri da cena.

"Astrid! Finalmente! Vai se trocar. Você e Henrique são a quarta dupla! O camarim é pra lá." Ela disse pra mim e saiu correndo pro outro lado pra checar o som. Sorri pra ela e fui.

Não fazia ideia de onde era o camarim. Acho que nunca entrei nos bastidores daquele lugar antes. Mas em uma porta tinha escrito "FIGURINO" e em baixo os nomes das pessoas que precisariam de figurino. O meu estava lá.

Entrei de uma vez.

"AHHH!" Levei o maior susto. Henrique estava lá sem blusa e fechou a calça com cara de assustado também.

"Meu Deus!" Ele levou a mão ao peito e eu observei. Engoli em seco e balancei a cabeça, voltando a realidade. Fechei os olhos e virei.

"Me desculpa!" Falei envergonhada.

"Desculpa eu. Achei que tinha trancado a porta." Ele riu. Não me virei.

"Trid... tá tudo bem." Ele falou. Eu virei. Ele continuava lá. Lindo. Eu olhei pro teto.

"Será que... será que você podia colocar uma blusa?" Perguntei. Ele riu.

"Pronto." Olhei pra ele e ele vestia o figurinha combinado. Ele ficava bonito com qualquer coisa, sinceramente, que injustiça.

Ficamos em silêncio. Um silêncio constrangedor.

"Você sabe onde tá minha roupa?" Perguntei tentando quebrar.

"Ahn..." Ele procurou entre os cabides. "Tá aqui." Me estendeu um cabide com um vestido.
"E logo aqui..." Ele apontou pra um monte de sacola. "O incrível e sofisticado lugar onde você pode deixar suas roupas, escrever seu nome de caneta na sacola e esperar que ninguém as leve embora." Ele falava brincalhão. Ele parecia feliz. Infelizmente a felicidade dele me fez sentir triste. Acho que eu tava tendo um tempo bem mais difícil que o dele.

Sorri fraco e trocamos de lugar. Ele foi em direção a porta e eu fiquei mais perto de um espelho grande.
Ele colocou a mão na maçaneta, mas parou um pouco.

"Você... tá bem?" Me perguntou ainda olhando pra porta.

"Eu não sei." Eu realmente não sabia como me sentia.
Ele virou pra mim. Mexia com as mãos.

"Esses boatos... da Lavínia e eu..." Ele parecia nervoso.

"Não... não precisa explicar... eu não acredito nel..."

"São verdade." Ele falou e olhou pra mim. Tímido. Eu engasguei. Meu coração pareceu que havia parado e por um momento eu juro que perdi a audição. Todos os sons pareciam distantes.
Eu me sentei numa cadeira que havia lá. Eu sorria, mas era um sorriso desacreditado. Não acreditava que eu tinha sido tão... ingênua. Jurando que, quando a poeira das nossas brigas abaixassem ele viria pra mim... mas... não.

"Trid... eu..." Levantei a mão pra ele parar de falar. Não conseguia escutar explicações pro inexplicável. Como ele podia ter voltado com ela... de novo?! Eu ia começar a chorar bem ali, mas engoli.

"Você pode sair, por favor?" Falei bem calma. Me contendo.

"Trid..."

"Por favor..." Olhei pra ele e sei que ele viu meus olhos cheios de lágrimas. "Eu tenho que trocar de roupa." Falei com a voz falhando já, mas num tom de súplica.

Ele ficou um tempo olhando pra mim.

"Eu queria te ver, Trid, mas eu não te achei... Eu liguei... Eu..."

Comecei a chorar fraquinho e me inclinei sobre minhas pernas pra me esconder. Ele agachou perto de mim.

"Trid..." Eu levantei o rosto com lágrimas escorrendo. Mas contida. Ele me olhou de um jeito muito dolorido. Ia falar alguma coisa...
Alguém bateu na porta.

"Oie?! Tenho que trocar de roupa!" Era Marcos nosso colega de classe.

Eu olhei pro lado e suspirei. Levantei e Henri ficou agachado um tempo, mas também levantou.

"Fala pra ele esperar. 10 minutos eu saio." Fiquei bem séria. Ele olhou pra mim e abaixou a cabeça.

Henri saiu, tranquei a porta e escutei ele falando com Marcos.

Virei pro espelho e deixei as lágrimas caírem.

Usei 5 minutos pra chorar e 5 pra me recompor e me trocar. Não usaria maquiagem, nem nada. Só o vestido.
Respirei fundo e sai do "camarim".
Acenei pra Marcos e agradeci a espera dele.

Fui sentar na primeira fileira pra assistir as outras duplas e achei meus amigos lá. Eles sentaram logo atrás de mim. O auditório estava lotado.

"Que foi?" Ayla perguntou. Deve ter percebido a cara de choro.

"É verdade." Disse e ela e Renan franziram a testa.
Olhei de lado pra Henrique do outro lado do auditório e eles viram ele e Lavínia sentados um ao lado do outro.

"Não!" Ayla gritou e colocou a mão na boca quando muita gente olhou.

"Como você tá?" Renan perguntou e colocou a mão no meu ombro.

"Péssima." Sorri pra ele e deitei minha cabeça na mão dele.

"Pelo menos vocês decidiram não fazer a parte do beijo hoje. Menos pior." Ayla disse e eu ri fraco. Doida. Mas é verdade.

As apresentações começaram.

Mexeu ComigoOnde histórias criam vida. Descubra agora