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O dia do trabalho na casa de Henrique finalmente chegou e eu tava muito nervosa. Parecia que era a primeira vez que eu ia sair com ele.
No caminho pra lá só ficava repetindo na cabeça "que nada dê errado, que nada dê errado, que nada dê..."
Cheguei.

Toquei o interfone. Quem atendeu foi Arthur.
Subi e toquei a campainha.

Arthur abriu.

"Oi, Arthur. O Henrique tá aí?"

"Oi, Trid. Não." Ele falou e ficou me olhando pensativo. Fiquei olhando pra ele confusa. Cheguei muito cedo?

"Ahhhh, ele foi ali no mercado comprar um lanche. Já volta." Ele disse batendo a mão na cabeça.
"Desculpa, eu tinha esquecido onde ele tinha ido e fiquei pensando." Ele sorriu. Eu ri dele. Fofinho.

Entrei e ele falou pra ir pro quarto de Henri esperar porque ele não podia ficar comigo pra estudar pra prova dele. Os pais mandaram. Eu ri e fui.

Entrei no quarto e sentei na cama. Tava com cheiro de limpeza e tava tudo muito bem organizado. Olhei ao redor e fiquei sorrindo lembrando de alguma coisas... argh.
Me joguei na cama e olhei pro lado. O porta retrato ao lado da cama nunca tinha chamado tanto minha atenção. Cerrei os olhos e fui pra perto dele.
A foto... era outra?! Não era mais a foto da galera e Henrique abraçado em Astrid. Era uma foto de Henrique com Arthur, bem novinhos.
Peguei o porta retrato e coloquei no colo.
Será que Henrique fez isso por minha causa? Senti vontade de chorar olhando ali pra foto finalmente trocada. Abracei o porta retrato. Queria que tivesse sido por mim. Desejei isso profundamente.

"Oi..." Henrique apareceu na porta.
"Desculpa a demora, fui comprar..." Ele veio caminhando e viu que tava com o porta retrato nas mãos e fez cara de confuso.
"Tudo bem aí?!" Perguntou.

"Sim. Essa foto... é linda." Disse e de fato era. Eles dois bem nenens sorrindo numa praia. Henrique totalmente molhado e feliz.

"Ah, obrigado. Créditos ao meu pai que é um ótimo fotógrafo." Ele sorriu. Olhei pra ele e quis perguntar porque ele tinha trocado a foto.

"E cadê a antiga?" Mudei um pouco o rumo da pergunta, nem eu entendi bem porque.

"Ah..." Ele coçou a cabeça.
"Eu... dei pra Lavínia. Ela pediu da última vez que... veio aqui." Ele disse e sentou na cama.

Parecia que ele tinha me dado um murro na barriga. Foi ótimo.

"Ah..." Disse.
"Entendi. Achei que só tinha trocado..." sorri fraco e devolvi o porta retrato pro móvel. Ele ficou me olhando, confuso. Ultimamente parecia que essa era a cara dele, sempre de confusão.
Fiquei me sentindo a pessoa mais besta da face da terra.
"Vamos?" Falei levantando e apontando pro computador. Minha voz tava embargada. Que merda.

"Trid, que foi?" Ele levantou e veio em minha direção. Olhei pra ele e suspirei.

"Nada. Só fiquei feliz de ver você na foto todo molhado e feliz." Sorri pra ele. Ele sorriu fraco.
Sentei na cadeira do computador e começamos a fazer o trabalho o que me distraiu.

Depois do trabalho pronto, fomos lanchar na cozinha e ficamos a maior parte do tempo em silêncio. Só quem puxava assunto era Arthur.
Eu só conseguia pensar como eu fui mongol em pensar que a troca de foto tinha sido por minha causa, quando na verdade ele só fez o que a Lavínia pediu.

Peguei minhas coisas no quarto e fui pra porta.
O clima era estranho. Eu, quando estava mal, não conseguia fingir que estava super bem,e isso é terrível nesse tipo de situação de "vamos ver quem é mais forte".

Ele abriu a porta e eu dei um tchauzinho, mas antes de sair completamente Henri segurou minha mão.

"Eu troquei a foto... antes dela pedir. Ela pediu porque viu jogada em algum lugar. E ela veio aqui, no meu quarto, pra pegar a matéria de história, que temos aula juntos." Ele falou olhando fixo pra mim.

Um sorriso surgiu dos meus lábios, não foi nem pela explicação em si, mas pelo fato que Henrique sabia exatamente o que me incomodava e se importava com isso. Isso me quebra.

Eu fui até ele devagar. Ele ficou olhando.
Peguei a mão dele que estava na minha e apertei.
Beijei o rosto dele e ele fechou o olho.

"Obrigada." Chamei o elevador e sai dali antes que eu beijasse ele ou começasse a chorar.

Na volta pra casa o que eu repetia na cabeça podia até ser visto com uma oração: "decide logo, por favor, decide por mim..."
Ele me falar isso, talvez já tenha sido a decisão dele, mas... ela ainda estava lá. Porque eu ainda não sentia que ele tinha 100% superado isso?

Fui pra casa com um sorrisinho no rosto, mas com o coração apertado. Eu sei que o primeiro amor é pra ser intenso mesmo, e todos dizem que esse é o que você nunca esquece. Pra mim, seria Henrique, pra ele... Lavínia. Isso me deixava meio down, mas a vida é assim.
Mas com eles ainda sentia que não era essa a questão. Sentia como se eles precisassem encerrar esse ciclo... ciclo que não queria entrar até estar totalmente fechado.

O amor, apesar de legal, pode ser muito pesado.

Mexeu ComigoOnde histórias criam vida. Descubra agora