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Naquela noite eu dormi muito mal. Sonhei a noite toda, mas acordei e nem lembrava o que era.

Eu olhei pra cima e não queria ir pra escola. Era dia de aula de literatura. Virei pro lado e dormi de novo.

Senti um leve empurrão em mim.

"Trid?" Era Yosef.
"Já tá na hora de ir pra escola." Ele falava baixinho.

"Eu não vou hoje, meu bem." Disse e me cobri.

"Por que?" Ele perguntou.

"Cólica." Menti. 

"Argh... ok. Vou avisar o papai e a mamãe." Ele disse e saiu fechando a porta atrás de si. 

***

Acordei com minha barriga roncando.

Fui até a cozinha e minha mãe estava lá, tomando café. Eram umas 13h. 

"Oi, mãe..." Dei um beijo na testa dela e peguei um prato pra colocar comida.

"Oi, filha."

"Cadê o papai? E o Yosef?" Perguntei.

"Seu pai tá lá em baixo na recepção da pousada e o Yosef foi pra casa do Arthur..." Ela explicou e eu sentei na mesa. Comecei a comer.

"Melhorou... da cólica falsa?" Ela perguntou cinicamente e bebeu um gole de café enquanto olhava fixamente pra mim. Mastiguei lentamente.

"Que?" Como assim?

"Cólica... falsa." Disse e deu de ombros. 

"Não é falsa. Tá doendo ainda." Disse e levei minha mão até minha barriga. Ela balançou a cabeça em desaprovação.

"Pode parar de mentir, Astrid. Eu sei que ainda não tá no tempo da sua menstruação." Ela disse e começou a rir. Fiz careta.

"Como??" 

"Eu marco no calendário pra me preparar pra sua TPM." Ela disse levantando pra colocar o copo na pia.

"Que tipo de mãe faz isso???" Estava realmente assustada.

"Não muda de assunto." Ela sentou. Eu não tinha mudado! Era esse o assunto.
"Por que você mentiu?" 

Eu olhei pra baixo e continuei comendo. 

"Astrid?"

"Ai, mãe..." E as lágrimas começaram a rolar. Era só começar a falar alguma coisa que eu começava a chorar. Entendi porquê minha mãe tinha que se programar pra minha TPM.

Então entre as lágrimas eu contei pra minha mãe que, do nada, Renan começou a dar em cima de mim e que Henrique veio escondido ontem a noite (sim, confessei pra ela) e que ele ficou com ciúmes, mas do nada disse que eu poderia fazer o que quisesse...

"... parece que... ele não tá nem aí as vezes, e as vezes parece que ele gosta mesmo de mim..." Minha mãe já havia sentado ao meu lado e me abraçava.

"E o que você  sente por ele?" Ela perguntou.

"Eu gosto dele. De verdade." Disse. 
"Mas..." 

"Mas...?"  Mamãe olhou.

"Às vezes me pergunto se vale a pena todo esse trabalho. Se eu tiver sentindo isso e ele continua lá, gostando da Lavínia? Eu tenho medo de... mergulhar cada vez mais nesse sentimento e acabar... me afogando." Brega. Mas as lágrimas não me deixavam pensar. 

Minha mãe não falou nada. Ela só ficou lá comigo. E era só isso que eu precisava.

Voltei pro meu quarto depois da sessão do choro pra chorar mais. Seria essa minha vida agora?

Mexeu ComigoOnde histórias criam vida. Descubra agora