Capítulo 24: E eu só preciso desse olhar.

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POV JEON JUNGKOOK. 

Já faz uns quinzes minutos que ele entrou naquela porta e eu praticamente me mantenho aqui, na mesma posição com os meus braços apoiados nas minhas coxas em minhas pernas afastadas olhando fixamente pra porta do delegado.

Seu pai já tinha chamado um advogado pra encontrar com ele aqui, então fico mais tranquilo em saber que ele não tá sozinho lá dentro.

Por vezes algumas pessoas passam pela minha frente, civis ou policiais, chegando até a sentar em alguns assentos não muito longe do meu, mas ficando ali por pouquíssimos minutos, me deixando sozinho mais uma vez.

Eu tô exausto. Realmente cansado. Ficar a noite toda acordado pra vigiar a casa não foi fácil. No começo foi gostoso ver o Jimin se entregar pro seu sono, mas não demorou pro meu sono bater durante a madrugada e eu chegar a ter que levantar da cama pra não dormir.

Não sei por quanto tempo fiquei encarando o lado de fora da janela, procurando qualquer movimentação que fosse. Eu sei que consegui cochilar um pouco quando o dia estava amanhecendo, mas não demorou muito pra eu sentir ele saindo dos meus braços nessa manhã.

O Jimin confia demais nas pessoas. Isso é fato. Ele realmente acreditou que o Saengi não faria nada por dois dias. Eu não posso culpá-lo; ele tem esse olhar esperançoso que engole toda a negatividade ao seu redor. É óbvio que ele acreditaria no que um homem traiçoeiro como o Saengi dissesse. O problema definitivamente não é o Jimin e sim a gente que não merece alguém como ele.

Digo a gente porque eu sei que a minha família biológica ainda pode ser um tema frequente entre a gente. Eu não sei ao certo o quanto eu puxei da minha mãe biológica e o quanto eu puxei do meu pai biológico; não sei se minha personalidade é mais parecida com a da minha mãe ou com a do meu pai. Eu só sei que por diversos momentos eu me senti deslocado por não me encaixar na família que me adotou. Por me expressar de formas diferentes da família que me adotou.

Minha mãe adotiva foi literalmente meu anjo. Eu seria completamente outra pessoa se tivesse sido criado apenas pelo meu pai adotivo, por exemplo. Eu sei que a cada elogio que recebo por ser quem eu sou hoje, eu agradeço mentalmente a minha mãe adotiva, Kim Nari, por não ter desistido de mim em momento algum.

Deve ter sido por isso que eu não desisti do Jimin também. E nem ele de mim. Hoje eu sei que mais uma vez fui salvo por outro anjo.

— Faz tempo que chegaram? - A voz do sr. Park me tira do meus pensamentos ao surgir ao meu lado.

— Ah... Talvez uns vinte minutos, senhor. - Sento ereto na cadeira, correspondendo ao seu olhar em mim.

— Tá na hora da gente parar com esses "senhor", uh? - Ele diz sorridente sentando ao meu lado.

Eu apenas o respondo com um sorriso, movimentando positivamente com a cabeça. Voltando a encarar a porta na nossa frente.

— Ele é forte. - A voz do sr. Park surge novamente: Não se preocupe tanto com ele. Ele definitivamente não gosta de ser tratado como porcelana.

— Sim, é verdade. - Eu bem sabia do quanto ele não gostava disso. Sorrio com essa lembrança.

— Ele me assustou bastante no período que se recuperava... - Sua voz soa um pouco pesada, talvez se lembrando do período em que se separou do Saengi: Mas ele tá feliz agora, eu sei que tá. Obrigado por isso!

— Não tem que me agradecer, sr. Park, ele me faz muito feliz também. - Viro meu rosto pra olhá-lo e ele me retribuiu com uma expressão divertida, demorando pra perceber: Ah, usei o senhor de novo. Vai ser difícil de desacostumar.

— Tudo bem, garoto. Tá tudo bem! - Ele dá leves batidinhas no meu braço.

Volta a sua atenção pra porta em nossa frente também, suspirando um pouco triste agora.

— Saengi não vai ficar preso, né? - Ele tem a sua voz frustrada. 

— Eu acredito que não. Brigas assim não são suficientes pra deixá-lo preso por muito tempo. - Eu correspondo a sua voz, agora passando as mãos pelos meus cabelos. 

—O Jimin não queria que ele ficasse preso de qualquer jeito. - Ele dá de ombros depois de pensar em alguma coisa: Por mim ele não via mais a luz do sol.

— Por mim também. - Eu sorrio pequeno. 

— Que esse nosso desejo seja um segredo nosso... - Ele falou em um tom mais baixo, como se estivesse realmente falando um segredo.

— Claro! - Eu correspondo ao seu tom de voz e ele sorri.

Ficamos em silêncio agora. Apenas escutando a movimentação das pessoas ao nosso redor.

Por incrível que pareça eu não me sinto estranho ao lado dele; da mesma forma que o seu filho, ele traz uma sensação boa e acolhedora. Então, eu sinto que se quiser manter o silêncio, ele manteria também tranquilamente. Ou não.

— Não se culpe, Jungkook. - Ele diz sério com o rosto direcionado pra porta.

— Não entendi. - Eu o olho confuso.

— Você não tem culpa de ter tido a família que teve. - Agora ele olha pra mim: E o Jimin confia em você. Eu sei que ele não suportaria outra decepção, por mais forte que ele seja.

Engulo seco.

— Eu não pretendo decepcioná-lo. - Correspondo ao seu olhar. 

— Não tô te cobrando, só te falando como um pai. - Ele sorri sincero. 

— Eu sei! E eu fico muito feliz do Jimin tê-lo presente na vida dele dessa forma.

— Eu estarei presente na sua vida também, já esteja avisado. - Ele diz divertido, voltando a olhar pra porta em nossa frente que agora abre.

Eu ainda estou rindo baixo quando fico de pé ao mesmo tempo que ele, ambos aguardando pela presença do Jimin que não demora pra sair acompanhado do advogado. O pai do Jimin se adianta e vai até ele que o abraça, ainda fazendo algumas caretas por causa do seu braço.

Só de lembrar da cena do Saengi o segurando forte daquele jeito, eu tenho vontade de explodir a cabeça dele. Foi uma das piores coisas que eu tive que presenciar nessa vida.

Fico observando de longe os três conversando sobre alguma coisa que acredito ser a situação de agora e os passos a partir de agora. Eu foco a minha atenção nas reações do Jimin que por mais cansado que parece estar, presta atenção no que o advogado diz pra ele e pro seu pai que se mantém ao lado do Jimin, o abraçando de lado.

Ele não é tão pequeno de altura, mas é pequeno em massa, o que lhe deixa essa impressão de ser frágil ou até mesmo de porcelana. Mas quem o conhece sabe que ele é exatamente o oposto. Eu sou forte de músculo, de massa corpórea, mas mentalmente falando eu sou um fracasso. E ele é forte mentalmente; talvez não tenha total consciência disso ou ainda não aceite, mas passar por tudo que ele passou e ainda ter a percepção que na verdade o Saengi é uma vítima dele mesmo? Não é todo mundo que consegue.

E além disso ele é uma pessoa iluminada, que te olha e faz seu mundo ao redor parar de tão intenso que é o seu olhar. Não é à toa que eu me perco no seu olhar e entro no mundo dele quando me olha sem nem pensar duas vezes. Esse é o segredo pra entender quando está apaixonado e amando alguém. O que o olhar da pessoa te proporciona.

E esse olhar é pacífico ao mesmo tempo que intimidador, fazendo me sentir acolhido em qualquer situação. Se eu precisar e estiver em um dia mais tranquilo, é só olhar pra ele que o seu olhar me acolhe; se ao contrário, eu precisar de algo mais intenso, eu sei também o olhar que devo procurar.

E agora ele me olha tranquilo enquanto se aproxima de mim, sempre me dando a impressão que ele sabe exatamente o tipo de olhar que eu preciso.

E eu só preciso desse olhar. 

Do olhar do Jimin.

A Verdade Não Dita; pjm + jjkOnde histórias criam vida. Descubra agora