Visita indesejada

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Quando chego em meu cafofo, minha cabeça está fervilhando de tantas perguntas sem respostas que me fiz.

Exausta, aperto o interruptor ao lado da porta, mas as luzes simplesmente não acendem.

— Que ótimo — resmungo, batendo a porta e tropeçando na escuridão até me acostumar com a única luz disponível, aquela proveniente da lua e que ilumina minha varanda e a sala parcialmente.

Com certeza faltou energia no prédio inteiro e o elevador está funcionando apenas pelo gerador, assim como a iluminação do estacionamento e corredores. Ou então só faltou energia no meu cafofo. Dada a minha sorte atual, não é nada difícil.

Querendo tirar a dúvida, caminho até o interfone na cozinha. Aproximo o aparelho do meu ouvido e estranho quando tento chamar a portaria e nada acontece. Intrigada, seguro o fio e descubro que ele está rompido. Cortado, na verdade.

Mal tenho tempo de assimilar o que isso significa e uma voz grave e sombria surge atrás de mim:

— Olá, Olivia. Ou seria... Agente Mills?

Meu coração congela por um momento e o interfone cai da minha mão, causando um baque surdo no chão.

Do outro lado da bancada, o estranho dá um passo a frente e eu reconheço o seu rosto. Automaticamente, sou transportada para a sorveteria em que fui com Amy há alguns dias e me lembro do homem sentado numa mesa atrás de nós. É ele. O sujeito que me causou um medo instantâneo e acendeu meu alerta para perigo. O mesmo alerta que dispara dentro de mim agora.

O que ele está fazendo aqui? Como entrou? O que eu faço? Eu devia correr para as colinas, afinal sei que estou em perigo iminente, mas meu corpo parece ter estagnado no lugar em virtude da surpresa e do medo aterrador.

— Desculpe aparecer assim sem ser convidado — ele diz com cinismo e frieza enquanto se aproxima e se apoia na bancada, como um predador estudando a melhor forma de atacar a sua presa. — Eu vou ser direto — anuncia enquanto eu tento, discretamente, alcançar o faqueiro na pia atrás de mim. — Eu não pretendo te machucar, desde que você seja uma boa menina e não tente nenhuma gracinha.

Nenhuma gracinha? Poxa vida... Ele devia ter dito isso antes, agora eu já peguei uma das facas.

Do jeito mais discreto que consigo, aperto-a em minha mão e abaixo um pouco o braço, mantendo a arma oculta atrás de mim. Em seguida, tentando ganhar tempo e coragem, pergunto com a garganta seca:

— Quem é você?

O estranho sorri de um jeito enigmático e desconversa:

— Você não precisa de um nome, mas se quiser eu posso te dar uma dica.

Então ele dá a volta na bancada e eu simplesmente não consigo me mover. Cada batida pesada do meu coração é como um alerta de perigo, uma ordem para eu correr, mas simplesmente não consigo reagir. Minha mão começa a suar e meu corpo a tremer, o medo se alastra e me domina. Engulo em seco quando o meu provável sequestrador para bem diante de mim, afasta uma mecha do meu cabelo, aproxima o rosto e sussurra no meu ouvido:

— Hail HYDRA.

Um arrepio percorre minha nuca e se espalha por cada célula do meu corpo. HYDRA! Inimiga da S.H.I.E.L.D.! Os vilões! Perigo! Tenho que fugir!

Finalmente venço a sensação congelante do medo e deixo o instinto de sobrevivência ganhar força. Quando dou por mim, já movi a faca na direção do meu inimigo e acertei o seu abdômen. Infelizmente, apenas de raspão. Felizmente, o suficiente para fazê-lo se afastar um pouco e cambalear, o que me dá certa vantagem para correr.

Trapaças do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora